Juiz da 1ª Vara Criminal de Guarapari expediu mandado de prisão contra advogada |
Condenada a 33 anos e 8 meses de detenção, por participar de um suposto esquema de tráfico de drogas dentro de dois presídios no Espírito Santo, a advogada Márcia Borlini Marim Sanches deixará de cumprir prisão domiciliar e terá de retornar para o presídio.
O mandado de prisão contra Márcia foi expedido pelo juiz Eliezer Mattos Scherrer Junior, da 1ª Vara Criminal de Guarapari, o mesmo que condenou ela e a também advogada Joyce da Silva Boroto por participação no caso.
Na sentença, expedida na última terça-feira (14), o magistrado considerou que as medidas cautelares diversas da prisão, no caso o monitoramento por meio de tornozeleira eletrônica, "são insuficientes para garantir a ordem pública e a paz social".
Para o juiz, a advogada tem alto poder de articulação. Além disso, segundo ele, vem fazendo ameaças a um inspetor penitenciário do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarapari, que relatou à polícia o esquema de vendas de drogas dentro da penitenciária.
Por meio de autorização judicial, o inspetor atuou como agente infiltrado no presídio, inclusive "participando" das negociações com os acusados, para ajudar a polícia a flagrar o esquema.
De acordo com as investigações, o inspetor teve um relacionamento com Joyce, que era aliada de Márcia e foi contactada por ela para ajudar na entrada de drogas no presídio, a fim de serem vendidas entre os detentos.
Na época, Márcia era namorada de Rogério Alvarenga Carvalho Silva, apontado como um dos líderes do tráfico da região de Nova Brasília, em Cariacica, e que está preso desde 2018. Inicialmente, ele ficou Centro de Detenção Provisória de Viana, mas, em abril de 2020, foi transferido para Guarapari.
Para ajudá-la a entregar drogas a Rogério dentro do CDP de Guarapari, Joyce teria oferecido propina ao inspetor, que, no entanto, se recusou a participar do esquema.
Após a negativa, o servidor teria sido ameaçado por Joyce para que aceitasse a proposta. Ele relatou o caso à direção do presídio, que acionou a polícia.
A partir da denúncia recebida, a Delegacia Especializada de Narcóticos (Denarc) de Guarapari iniciou a investigação sobre o caso, que resultou na operação "Vade Mecum", deflagrada em setembro do ano passado.
Já como agente infiltrado e sendo monitorado pela direção do CDP e Polícia Civil, o inspetor entregou cerca de 290 gramas de maconha, que teriam sido deixados por Joyce no banheiro da unidade prisional, ao companheiro de cela de Rogério, que o repassou a droga.
Segundo as investigações, o material chegou a ser distribuído para outros presos. No entanto, a Polícia Civil agiu e conseguiu encontrar uma pequena quantidade de drogas com os acusados.
Advogada aprendeu técnicas para burlar tornozeleira eletrônica
Na decisão sobre o mandado de prisão contra Márcia Borlini Marim Sanches, o juiz destacou que, conforme ofício encaminhado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), a advogada vinha descumprido as condições estabelecidas no monitoramento eletrônico, "em total afronta à Justiça".
Segundo apurou o Gaeco, Márcia zombava da tornozeleira eletrônica e teria aprendido técnicas para burlar o uso do equipamento.
Antes de começarem a ser monitoradas por tornozeleira eletrônica, Márcia e Joyce ficaram presas preventivamente no Centro Prisional Feminino de Cariacica.
No entanto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu um habeas corpus, permitindo que as duas cumprissem prisão domiciliar, uma vez que o presídio não tinha estrutura adequada para manter as advogadas custodiadas.
Com relação a Joyce, o juiz Eliezer Mattos Scherrer Junior revogou sua prisão domiciliar e determinou a retirada da tornozeleira eletrônica dela. O magistrado substituiu o monitoramento eletrônico por outras medidas cautelares, como proibição de frequentar bares ou similares, recolhimento noturno, das 21h às 6h do dia seguinte, e proibição de se ausentar da comarca sem autorização judicial.
A reportagem tentou entrar em contato com a defesa de Marcia Borlini Marim Sanches, mas as ligações não foram atendidas. A reportagem também não conseguiu falar com as defesas dos demais condenados.
Caso algumas dessas defesas enviem posicionamentos sobre as acusações, a matéria será atualizada.
Fonte: Folha Vitória