Deficiente visual de Nova Venécia supera limitações ao desenvolver atividades diárias

Hoje mecânico de automóvel, Valdiney Borges Rodrigues desenvolveu habilidades na área da computação, toca instrumentos musicais, conserta eletrodomésticos e até pilota moto nas proximidades de sua residência, graças à sensibilidade apurada

Foi de maneira precoce, quando tinha apenas quatro anos de idade, que Valdiney Borges Rodrigues, hoje com 28 anos, se viu obrigado a lidar com tamanha adversidade que acometeu sua vida. Ele ainda era criança quando a família descobriu que Valdiney tinha retinoblastoma, doença ocular infantil mais frequente em crianças de 2 a 5 anos de idade, que pode atingir estágios graves e provocar a perda da visão.

Por morar no interior de Nova Venécia, na localidade de Córrego do Cristal, região do distrito de Guararema, onde reside até hoje, e com as limitações impostas na época em relação a acesso a especialistas médicos, a doença já havia avançado muito. Ao descobrir do que realmente se tratava, os médicos em São Paulo não tiveram outra escolha a não ser realizar a retirada dos dois globos oculares de Valdiney.

Um irmão mais novo dele também teve a doença e por pouco não ficou cego. Pelo fato de ser mais novo e ter descoberto com certa antecedência, o irmão perdeu uma visão e conseguiu recuperar a outra.

Na vida de Valdiney, nada foi fácil. Ele sempre precisou lidar com as limitações impostas pela perda da visão. Mas o fato é que com a deficiência na visão, ele acabou desenvolvendo outras habilidades que surpreendem até quem é mais próximo.

Ele conta que desde pequeno é muito curioso e sempre gostou de “cutucar as coisas” e sua família nunca lhe impediu de que fizesse nada, sempre deixando ele à vontade. Com uma cutucada aqui e outra ali, Valdiney começou a ser procurado por pessoas para fazer reparos em eletrodomésticos, celulares e até automóveis, o que hoje é sua principal fonte de renda. “As pessoas que moram aqui na região me procuram e trazem seus veículos aqui na minha casa para consertar. Eu trabalho junto com um tio meu e hoje essa atividade é minha fonte de renda”, diz.

Vida simples
Valdiney diz que gosta de levar sua vida de maneira simples, ajudando as pessoas, e que muita coisa nem faz questão de cobrar. “Também trabalho com energia, instalação em residências, mas nem cobro algumas coisas, a não ser que seja algo maior e mais trabalhoso. Mas no geral, faço muita coisa para ajudar as pessoas. Sei trocar tela de aparelhos celular, faço reparos em aparelhos e eletrodomésticos, faço de tudo um pouco”, afirma.

Família
Hoje casado com Adrilane Elmer de Souza, 26, que está esperando o primeiro filho do casal, Valdiney conta que chegou a morar em Vitória por dois anos, onde aperfeiçoou sua alfabetização em braile, mas resolveu voltar para perto da família. “Eu gosto de morar aqui na roça, próximo dos meus pais, família e amigos. Aqui eu toco teclado e violão na igreja, pesco, passeio e até fica mais fácil me locomover de moto quando necessário, mas isso porque já conheço muito bem toda região. Essa questão de pilotar moto, nem eu sei explicar direito. Eu vou em locais próximos guiado por reflexos que digo que Deus que me concede, pelos sons e muita técnica. Dessa forma eu consigo me guiar, mas lembrando que é apenas aqui nas proximidades”, conclui.

Ainda é preciso quebrar barreiras
Durante o relato, Valdiney afirma que ainda é preciso quebrar preconceitos e levantar discussões sobre as dificuldades em relação à acessibilidade. É fundamental que todos percebam que os deficientes visuais podem realizar praticamente todas as atividades que uma pessoa sem esse problema realiza. Estudar e trabalhar, por exemplo, não são empecilhos para uma pessoa cega, que, inclusive, deve ser encorajada e estimulada a realizar essas atividades.

Ele conta que, ainda hoje, vez ou outra, se depara com alguma situação constrangedora de pessoas que, de certa forma, duvidam de que ele realmente seja cego, e costumam fazer alguns tipos de “testes”, para tirar a prova se ele realmente é deficiente visual. “Já teve vezes de pessoas ficarem entrando na minha frente para ver se eu ia desviar; outra vez já retirei as duas próteses que tenho no lugar dos olhos para comprovar, mas são situações que me deixam, de certa forma, constrangido”.
Tecnologia favorece

A evolução das tecnologias tem ajudado muito e, apesar de também saber ler em braile, ele diz que usa pouco. “Geralmente faço atividades oralmente, apesar de saber o braile. Hoje em dia temos áudio e outras ferramentas que nos permitem pesquisar sobre aquilo que buscamos. Graças a isso, posso fazer trabalhos e praticamente tudo que qualquer um pode fazer. No meu celular eu tenho um programa de acessibilidade, e isso facilita muito a vida da gente”, finaliza Valdiney.

Fonte: Nova Onda



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