EUA reconhecem que ataque de drone no Afeganistão foi um erro que matou 10 civis

Vizinhos e parentes de vítimas de ataque com drone em Cabul observam o local onde caíram as bombas Foto: JIM HUYLEBROEK / NYT

O Pentágon admitiu nesta sexta-feira que um ataque com um drone que matou dez pessoas de uma mesma família, incluindo sete crianças, em Cabul no dia 29 de agosto "foi um erro". Em entrevista coletiva, o chefe do Comando Central dos EUA, general Frank McKenzie, reconheceu que a ação não atingiu integrantes do grupo terrorista Estado Islâmico de Khorasan, que dois dias antes realizara um violento atentado no aeroporto de Cabul, matando cerca de 180 pessoas, na maioria afegãos que tentavam escapar do país depois da chegada do Talibã ao poder.

— O ataque ocorreu com a convicção de que poderia evitar uma ameaça iminente a nossas forças e aos que tentavam fugir [do país] pelo aeroporto, mas foi um erro e ofereço minhas mais sinceras desculpas — declarou McKenzie, em entrevista coletiva, afirmando ainda que é "plenamente responsável pelo ataque e seu resultado trágico".

Segundo o New York Times, os militares acreditavam que uma carro parado no quintal da casa da família carregava explosivos para um novo ataque do Estado Islâmico, uma informação que se mostrou errada. O motorista do veículo, Zemari Ahmadi, trabalhou para os EUA durante a presença do país no Afeganistão, e não tinha ligação com os terroristas, assim como as demais pessoas que estavam na casa.

Na entrevista coletiva, McKenzie alegou que as informações fornecidas pela Inteligência americana davam uma "razoável certeza" de que se tratava de uma potencial célula do Estado Islâmico do Khorasan, conhecido pela sigla em inglês Isis-K. O militar revelou ainda que a ação não foi baseada em infomações fornecidas pelo Talibã, grupo que é inimigo do Isis-K.

Pouco depois, em comunicado, o secretário de Defesa, Lloyd Austin, também pediu desculpas pelo ataque e enviou condolências à família das vítimas. "Nós pedimos desculpas, e vamos nos esforçar para aprender lições deste erro horrível", escreveu Austin.

No texto, o secretário de Defesa revela que partiu dele a iniciativa para revisar o incidente, e que as informações obtidas vão ajudar a analisar os atuais procedimentos de ataque usando drones e sugerir possíveis mudanças para o futuro. O New York Times já havia publicado uma reconstituição do ataque mostrando que todas as vítimas eram civis.

"Quando temos razões para acreditar que tiramos as vidas de inocentes, nós investigamos e, se foi o caso, admitimos. Mas também precisamos trabalhar duro para evitar repetições [desses casos] — não importando as circunstâncias, o fluxo de Inteligência e as pressões operacionais sob as quais trabalhamos", diz o texto. "Devemos isso às vítimas e às pessoas que as amavam, ao povo americano e a nós mesmos."

Até o começo da semana, o Pentágono ainda defendia a ação como legítima e correta, declarando que ela foi necessária para evitar novos ataques contra as forças dos EUA, que naquele momento estavam finalizando a retirada das últimas tropas ainda em solo afegão, concluída em 30 de agosto. Os militares apontavam para alertas feitos pela Inteligência em solo, que mais tarde se mostraram errados, sobre outro ataque iminente no aeroporto de Cabul, usando um carro-bomba.

De acordo com a CNN, citando fontes militares e parentes das vítimas, o drone sobrevoou a casa por cinco minutos, e os operadores viram um homem deixando o veículo, enquanto uma das crianças o estacionava e outras estavam nos arredores. Uma análise posterior das imagens mostrou que o que inicialmente foi identificado como supostos explosivos eram, na verdade, galões de água. Um pacote menor seria um computador.

Como aponta o New York Times, a versão oficial alegava ainda que uma segunda explosão no local, logo depois dos primeiros mísseis Hellfire atingirem a casa, foram resultado das bombas que estariam sendo carregadas no carro para o uso no hipotético atentado.

— Como houve explosões secundárias, uma conclusão razoável a ser feita é de que havia explosivos naquele veículo — declarou no começo do mês o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA.

Mais tarde, as investigações mostraram que a segunda explosão provavelmente foi causada por um botijão de gás no quintal, ou pelo tanque de combustível do veículo.

Fonte: O Globo


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