O médico Walter Correa de Souza Neto, ex-funcionário da Prevent Senior, afirmou nesta quinta-feira (7) em depoimento à CPI da Covid que os profissionais não tinham autonomia e que era obrigatório prescrever drogas ineficazes contra a Covid.
Souza Neto prestou depoimento ao lado de Tadeu Frederico de Andrade, paciente da Prevent. Os dois foram chamados a falar sobre as denúncias de que a operadora testou e disseminou remédios ineficazes em pacientes com Covid.
Em setembro, o diretor-executivo da operadora, Pedro Benedito Batista Junior, admitiu que a Prevent usou remédios ineficazes contra a Covid, como cloroquina, mas somente com o consentimento de pacientes ou de seus parentes, e que os médicos tinham autonomia para prescrevê-los ou não (leia detalhes mais abaixo).
"Quando foi exatamente que a Prevent definiu que iria adotar a hidroxicloroquina como tratamento, como rotina de seus tratamentos?", indagou nesta quinta o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI.
"Não me lembro exatamente se foi no final de março do ano passado ou começo de abril. Mas eles instituíram um protocolo institucional e daí iniciou a determinação para que a gente prescrevesse essa medicação. Pouco depois, os kits com a medicação começaram a ser disponibilizados, colocados no consultório", respondeu o médico.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE), então, questionou: "A pergunta é: era obrigatório?".
"Sim, era obrigatório", respondeu o médico.
"Havia autonomia do médico?", questionou em seguida Rogério Carvalho.
"Não. Definitivamente, não", respondeu.
Em nota divulgada nesta quinta, a Prevent disse que o depoimento "não trouxe fatos, apenas narrativas mentirosas" (leia íntegra ao final desta reportagem).
Walter Correa era plantonista do pronto-socorro da Prevent e foi demitido em fevereiro deste ano. Ele trabalhou na operadora por oito anos.
ANS
Nesta quarta (6), a CPI ouviu o diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Rebello. Aos senadores, Rebelo disse que soube pela comissão das denúncias sobre a operadora Prevent Senior.
"Importante reiterar que a ANS teve conhecimento das graves acusações contidas em dossiê contra a Prevent Senior pela CPI da Covid, e tais situações nunca foram denunciadas diretamente à agência e não apareceram nos monitoramentos feitos periodicamente pela ANS", declarou Rebello.
A versão, no entanto, contradiz informações da própria CPI. Segundo o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a ANS foi avisada em 2020 das denúncias sobre a Prevent.
O que diz a Prevent
O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Junior, prestou depoimento à CPI em setembro deste ano.
Aos senadores, Batista Junior admitiu que a operadora:
- alterou o prontuário de pacientes com Covid para excluir o diagnóstico dos registros, mas que isso seria apenas para saber quem já não estava mais com a doença; a empresa nega;
- usou remédios ineficazes contra a Covid, como cloroquina, mas somente com o consentimento de pacientes ou de seus parentes, e que os médicos tinham autonomia para prescrevê-los ou não;
- fez estudo com pacientes que tomaram esses medicamentos apenas para acompanhar os casos e que o levantamento não se tratava de um estudo científico.
Leia a íntegra da nota da Prevent:
O depoimento do médico Walter Correa Neto não trouxe fatos, apenas narrativas mentirosas. Mais uma vez, a Prevent Senior nega e repudia as acusações infundadas levadas à CPI da Covid e à imprensa com base em mensagens editadas, truncadas ou tiradas de contexto. O médico faz parte de um grupo que tentou firmar acordos milionários com a operadora para que a advogada Bruna Morato não levasse as acusações à CPI.
A denúncia mais grave é sugerir que os médicos da empresa optem pela adoção de cuidados paliativos para matar pacientes e economizar recursos, o que tanto os médicos quanto a direção da empresa veementemente contestam.
A Prevent defende e vai colaborar para que órgãos técnicos, como o Ministério Público, investiguem todas estas acusações para restabelecer a verdade dos fatos. Lamentavelmente, aos moldes do que aconteceu nos piores tempos da Operação Lava Jato, atacou-se a reputação da empresa antes do esclarecimento de todos os fatos.
Fonte: G1