DIA DA ABELHA: Criação protege meio ambiente e gera renda no ES


Essenciais para a vida humana. As abelhas, mais conhecidas pelas picadas dolorosas e pelo mel, são cruciais para nossa sobrevivência. Isso porque cerca de 70% do que comemos dependem de agentes polinizadores como esses insetos. Em busca do pólen, seu alimento, as abelhas polinizam as plantações do que consumimos. A reprodução da flora depende desse trabalho de polinização.

De acordo com o extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) Alex Fabian Rabelo Teixeira, a principal contribuição das abelhas é o seu impacto na biodiversidade:

“É um patrimônio genético que deve ser conservado. Há estimativa de 20 a 30 mil espécies de abelhas no planeta. É essa riqueza de espécie que deve ser preservada pelo serviço mais importante que elas exercem, que é a polinização. Existem plantas que são dependentes das abelhas na polinização. O desaparecimento desses insetos traz desequilíbrio alimentar para a humanidade, principalmente por seu trabalho de polinização. Se elas forem extintas, muitas espécies de plantas que dão flores e frutos não existirão”, afirma.

Os benefícios para a biodiversidade e a possibilidade de ampliação das atividades no campo têm feito com que cada vez mais a criação de abelhas seja estimulada no Espírito Santo.

Estímulo

A diversificação agrícola é um filão e, por isso, a atividade vem sendo estimulada pelo Incaper. A perspectiva de renda para os agricultores familiares, a dispensa de longo tempo de dedicação à atividade e de grandes áreas de terra disponíveis para a criação se apresentam como aspectos positivos. Além disso, a apicultura tem baixo impacto ambiental, contribuindo para a preservação do ecossistema.

Conforme informações disponibilizadas pelo Incaper, cerca de 1.200 apicultores têm assistência técnica do instituto e em torno de 250 estão organizados nas 19 associações existentes no estado. A produção anual de mel do Espírito Santo é de, em média, mil toneladas por ano.

Entre os principais municípios produtores estão Domingos Martins, Fundão, Aracruz, Viana, Colatina e Santa Maria de Jetibá (Região Central); Pancas, Alto Rio Novo, São Gabriel da Palha, Águia Branca, Conceição da Barra, São Domingos do Norte, Ecoporanga, Jaguaré e São Mateus (Região Norte); e Dores do Rio Preto e Guaçuí (Região Sul).

Foto: Lucas S. Costa

Meliponicultura

A criação da abelha sem ferrão (ou abelhas nativas), a meliponicultura, também vem crescendo no estado. João Luiz Teixeira Santos, meliponicultor desde 2008 e presidente da Associação dos Meliponicultores do Espírito Santo (AME/ES) desde 2016, conta que o fato de a meliponicultura nacional estar em franco desenvolvimento ajuda a alavancar a atividade por aqui. Ele aponta que o Espírito Santo está tendo uma participação muito ativa no avanço nacional.

“Infelizmente não temos um censo que permita falar em números com segurança, mas só de associados, somos hoje mais de 200 pessoas, e há centenas de outros criadores com os quais a associação se relaciona. Então, dá para especular que somos mais de 600, mas podemos passar de mil criadores diretos além, é claro, dos simpatizantes, auxiliares e familiares”, aponta.

João explica que um dos maiores filões, a produção de mel, ainda é incipiente, pois a comercialização é dificultada por conta da legislação, feita sob medida para a apicultura. “O mel das abelhas nativas possui características físico-químicas diferentes da apicultura e, assim, o mel nativo fica fora dos parâmetros estipulados para o mel da apicultura, então, não pode ser comercializado formalmente”, lamenta.

O criador também destaca que, após a superação dos entraves legais, muitas possibilidades poderão ser exploradas, já que o estado tem uma boa diversidade de abelhas sem ferrão. “Temos várias espécies que podem ser utilizadas para produzir uma carta de meles, tais como jataí, uruçu, mandaçaia, pé-de-pau, mandaguari e tubuna”.

Economia

Enquanto a produção de mel não decola, as negociações de colônias ajudam na movimentação da economia, já que o setor representa importante fonte de renda para criadores com interesse comercial. João destaca também o impacto econômico em toda a cadeia de produção, como a fabricação e vendas de caixas, materiais e acessórios.

Além dos ganhos financeiros, o meliponicultor pode usufruir de outras vantagens da criação. “A atividade pode representar importante fator de entretenimento e até como terapia, pois são claros os indicativos de sua eficiência para controlar problemas como a depressão”, destaca.

No Espírito Santo, a meliponicultura é praticada de forma tradicional, principalmente por agricultores familiares, comunidades indígenas e quilombolas. O destaque fica com o município de Aracruz. “Lá há um projeto desenvolvido por uma empresa de celulose junto com os índios e que tem uma produção muito grande”, explica Alex, do Incaper.

A criação de abelhas sem ferrão foi normatizada na Assembleia Legislativa (Ales) pela Lei 11.077/2019. De proposição da deputada Janete de Sá (PMN), a matéria determina que a criação de abelhas nativas seja restrita à região geográfica de ocorrência natural das espécies. O texto também traz regras específicas para a criação comercial de abelhas nas unidades de conservação de proteção integral. O objetivo, segundo a deputada, é fomentar o desenvolvimento econômico dos produtores, bem como preservar essas espécies.


Tipos de abelhas

Dos mais de 20 mil tipos de abelhas no mundo, 400 são da tribo Meliponini, mais conhecidas como abelhas sem ferrão. A abelha clássica, listrada e com ferrão, não é tipicamente brasileira. Conhecida como abelha africanizada, a espécie foi introduzida no Brasil na época da colonização, conta Alex Teixeira. “Elas foram trazidas da Itália e Alemanha pelos padres europeus, que utilizavam a cera para fazer velas. Posteriormente, trouxemos uma espécie da África para melhoramento genético, já que é uma espécie mais defensiva e que produz mais mel”.

No Brasil existem cerca de 200 espécies de abelhas sem ferrão. “Algumas espécies são exclusivas no Brasil, 87 espécies são tidas como endêmicas. No Espírito Santo, há 39 tipos de abelhas sem ferrão. Aqui podemos produzir seis tipos de mel de abelha sem ferrão, em pequena quantidade”, esclarece o extensionista do Incaper.

Diferenças no mel

O mel produzido por abelhas com e sem ferrão é bastante diferente. A começar pela forma de produção. Diferente das abelhas africanizadas, que produzem mel em favos, as nativas produzem mel em “potes”.

“As espécies sem ferrão são muitas e cada espécie vai produzir um mel que tem sabor, aroma e consistência diferentes. Quando falamos de mel da abelha africanizada, estamos falando de Apis, um mel mais característico, no teor de acidez e água. O que é considerado mel pela legislação brasileira é o da abelha africanizada”, detalha Alex.

Caminho das pedras

Dono de meliponário no bairro Santo Antônio, em Vitória, Rogério Caldeira conta que teve o primeiro contato com abelhas nativas em 2010, mas só em 2016, após um acidente que o deixou temporariamente em repouso doméstico, começou a estudar sobre o assunto.

Foi então que encontrou a Associação de Meliponicultura do Espírito Santo. Após receber orientação da entidade, ele montou um meliponário e decidiu aliar a atividade à educação ambiental. Rogério recomenda que pessoas interessadas na criação de abelhas nativas procurem a associação. “Eles vão te orientar na forma da lei, até mesmo para que você não faça uma criação de forma irregular, diferente do que a lei federal, estadual ou municipal dizem”, orienta. A associação, observa Caldeira, é importante para a troca de ideias e experiências sobre a atividade.

Além do mel, os meliponíneos têm potencial para produzir pólen e própolis de qualidade diferenciada, explica. De acordo com Caldeira, a arborização, com boa variedade de plantas é fundamental para a produção de mel em boa qualidade e quantidade. Investir em estrutura que não deixe as abelhas expostas ao sol e chuva constantes e mais perto da natureza possível também é fundamental para a criação.

O criador também orienta como fazer a isca para as abelhas sem ferrão. 

Preservação

A proteção às abelhas é tema de dois projetos que tramitam no Legislativo. Nesse sentido, o Projeto de Lei (PL) 237/2019, de autoria do deputado Gandini (Cidadania), veda a utilização de inseticidas à base de neonicotinóides nos serviços de carro fumacê nos centros urbanos. De acordo com estudos, a substância derivada da nicotina é considerada agressiva para insetos polinizadores como a abelha.

Já o PL 686/2019, da deputada Iriny Lopes (PT), proíbe o uso de agrotóxicos, fungicidas e inseticidas num raio de mil metros no entorno de apiários no estado. O objetivo é preservar as áreas de apicultura e meliponicultura, bem como assegurar a renda e a saúde de seus produtores.

Um pouco de história

Desde a pré-história, as abelhas já faziam parte da vida do ser humano. Inicialmente, eram caçadas para que o mel e o pólen fossem encontrados e consumidos. A primeira bebida alcoólica do mundo também tem a assinatura das abelhas. O hidromel era uma mistura de mel e água. Por isso o material fermentado se transformava em bebida alcoólica.

Hoje, as abelhas não são mais caçadas e sim criadas para a produção de própolis, cera, apitoxina (veneno encontrado nos ferrões), geleia real, rainhas e enxames. Sua principal função, entretanto, continua sendo a polinização.

A apicultura foi inserida no Brasil em 1839, quando algumas colônias de abelhas da espécie Apis mellifera foram levadas até o Rio de Janeiro e desde então a atividade vem crescendo no país. Atualmente, a produção atende ao consumo interno e também é exportado para países como Estados Unidos, Canadá e Alemanha.

Enfim os dois primeiros meses de 2021, o Brasil exportou 112,4% mais mel do que no mesmo período em 2019. Os dados são do Agrostat Brasil, ferramenta que reúne números de exportação e importação de produtos agropecuários.

Fonte: ESHoje


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