Ao menos quatro estados brasileiros registraram tempestades de poeira na tarde desta sexta-feira. Cidades do interior paulista foram as mais atingidas. O fenômeno também foi observado em municípios de Goiás, Mato Grosso do Sul e Maranhão.
A tempestade de vento e poeira destelhou casas e prédios, derrubou árvores e provocou até um tombamento de um caminhão na região paulista de Presidente Prudente, uma das mais afetadas, segundo a empresa de meteorologia Metsul. O aeroporto da cidade sofreu danos com os ventos que superaram os 100 km/h, conforme Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Moradores de Andradina, Penápolis, Dracena e Tupi Paulista também testemunharam o fenômeno.
— Passei por um dos piores momentos da minha vida — conta Rayssa Basso, de 18 anos.
Moradora de Dracena, no interior de São Paulo, ela viu a tempestade de areia atingir sua casa e viu as telhas de uma área externa voarem.
— O tempo estava vermelho e foi tudo muito rápido. Em cinco minutos, formou e já começou a ventar muito. Fiquei com bastante medo por estar sozinha em casa — conta a jovem.
De acordo com o Metsul, a nova tempestade de areia no Oeste paulista se deu com a chegada de fortes áreas de instabilidade que avançaram a partir do Sul do país e que provocaram granizo e vento forte nos três estados sulistas entre ontem e hoje. Após meses de pouca chuva, a ventania decorrente dos temporais acabou levantando a areia que se depositava sobre o solo seco.
O meteorologista Franco Villela, do Inmet, explica que o fenômeno está relacionado à estiagem prolongada dos meses de inverno somada ao avanço de tempestade em áreas mais quentes.
— As tempestades avançam para lugares muito quentes, nos quais se acumulou muita poeira dos meses de inverno que foram extremamente secos. Os ventos mais frios, que são mais densos, quando saem dessas nuvens de tempestade e encontram esses ventos quentes, formam uma turbulência próxima à superfície que levanta a poeira.
Segundo Giovanni Dolif, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o fenômeno tem sido visto com frequência neste ano por conta de um longo período de estiagem da temporada seca potencializado pela última estação chuvosa (entre outubro e março) bastante deficitária.
— Ela começou atrasada em 2020 e terminou adiantada em 2021. Além disso, o volume de chuva foi menor — afirmou Dolif.
Por isso, o solo está muito seco e há o risco de que o país continue tendo tempestades do tipo.
— Nos próximos dias, a gente deve continuar tendo pancadas de chuva, pode formar outras linhas de estabilidade e se passar por áreas secas, que ainda não choveu, vai levantar mais poeira. Mas à medida que as chuvas vão acontecendo, vai molhando o solo. E a chance de tempestades de areia vão diminuindo — explica Dolif.
Em Goiânia, o estudante de arquitetura Gabriel Maia, de 21 anos, estava em seu quarto trabalhando quando percebeu uma forte ventania. Ao ouvir um barulho alto, decidiu abrir a janela e se deparou com uma nuvem de poeira, que acarretou em queda de energia.
— Começou a bater na janela, fiquei meio preocupado. A parte de cima do banheiro que tem uma estrutura saiu e fiquei assustado com o barulho. Abri a janela e vi a tempestade de areia, uma ventania muito forte. Tive que fechar janela, porta, tudo, para não entrar poeira.
A tempestade ainda foi vista em municípios de Mato Grosso do Sul, como Três Lagoas, e Maranhão, ao menos em Grajaú, localidade que integra a Amazônia Legal, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Conforme Villela, o fenômeno registrado no Maranhão é mais local, enquanto as tempestades observadas nos outros três estados vizinhos têm sua formação mais associada entre si.
Novos temporais no Sudeste e no Centro-Oeste do país estão previstos para este fim de semana, o que pode provocar ocorrências localizadas de tempestades de areia nas duas regiões.
Tempestades repetidas
No último domingo, municípios paulistas como Franca e Ribeirão Preto já haviam registrado tempestades de poeira. De acordo com o Inmet, o fenômeno foi resultado da formação de áreas de instabilidade e fortes ventos, ocorridos a partir das correntes descendentes de ar frio. O órgão informou que, quando as tempestades se organizaram e se agruparam, se deslocaram para o norte do estado e promoveram uma "frente de rajadas" de vento.
Segundo o Inmet, a frente de rajadas teve ua extensão de pelo menos 200 km, suspendendo e arrastando a poeira do solo. O fenômeno ocorreu em áreas onde e déficit hídrico e com um dos menores índices de chuva nos últimos meses no Brasil.
Fonte: O Globo