Um ano depois de lançado, o sistema brasileiro de pagamento instantâneo, o Pix, é um sucesso. Sinônimo de facilidade e rapidez em pagamentos, não demorou para virar ferramentas nas mãos de criminosos que encontram brechas para aplicar golpes.
Tanto que o crescimento dos golpes e dos casos de sequestro-relâmpago levaram o Banco Central do Brasil a limitar o valor das transações para R$ 1 mil no horário entre 20h e 6h e nos fins de semana. Segundo o Painel de Indicadores Criminais da Secretaria de Estado da Segurança Pública, somente de janeiro a outubro deste ano foram registrados 2659 crimes envolvendo também meios eletrônicos de pagamentos.
Mas não são apenas os consumidores que caem em golpes. Muitos empresários relatam que os prejuízos com os golpes do Pix estão cada mais mais recorrentes.
Comerciante do Centro de Vitória, Luiz Carlos Júnior teve que modificar os hábitos no momento da venda depois de tomar vários golpes via Pix.
"O sentimento que fica é o de revolta. Infelizmente, é um sacrifício manter uma loja aberta com tantas despesas e dificuldades que estamos passando nessa crise no Brasil. Agora, o que nos resta é realizar o Pix só mediante a autorização verbal do proprietário da loja, após a confirmação do dinheiro na conta da empresa e sem utilizar o Whatsapp", explica.
Outro que foi vítima foi o empresário Aurimar Júnior. Ele caiu na modalidade do comprovante de Pix falso. Ele relatou que a suposta cliente entrou em contato com a loja através do Whatsapp, solicitando o orçamento de um aparelho celular no valor de R$ 4 mil.
"O entregador levou a mercadoria até ela que, na mesma hora, enviou o comprovante de pagamento. Logo em seguida, o entregador entrou em contato comigo para verificar se o dinheiro realmente havia caído na conta. Quando identifiquei que o comprovante era falso, a pessoa já havia ido embora. Até tentei entrar em falar com ela, pedindo explicações, mas já era tarde", conta.
Quando o empresário já havia perdido as esperanças de reaver seu prejuízo, a delegacia de Cariacica entrou em contato, avisando que o aparelho tinha sido recuperado.
Compra foi de R$ 310, mas mulher digitou 31 centavos
Em outro caso de golpistas utilizando o Pix, o comerciante Geraldo Antônio Ramos, relatou dois golpes da mesma pessoa em seu comércio. No primeiro caso, ele conta que uma mulher tentou dar o primeiro golpe no dia 20 de maio. A suspeita escolheu três vestidos com o valor total de R$ 310.
Comerciante Geraldo Antônio Ramos relata que cliente digitou centavos ao invés do valor total das compras - Foto: Reprodução TV Vitória |
Na hora de realizar o pagamento, disse estar com pressa, fez a transferência e saiu antes que o atendente pudesse conferir o valor. O real valor transferido pela golpista foi de R$ 0,31.
No dia 6 de julho, a mesma mulher voltou a loja para aplicar outro golpe. No comprovante do Pix, aparece o valor do pagamento de apenas R$ 0,01 mas a compra foi de R$ 475. Dessa vez, todos os funcionários já estavam em alerta para não entregar nenhuma mercadoria até que o pagamento fosse confirmado.
"Como havia pouco tempo que a cliente tinha saído da loja, conseguimos pegá-la descendo a escada rolante para o supermercado. Após vários embates e discussões, ela resolveu devolver a compra", relata o empresário.
Especialistas aconselham cautela antes de finalizar compra
Especialista em segurança cibernética, Eduardo Pinheiro pede que comerciantes fiquem atentos se a conta bancária está no nome do cliente - Foto: Reprodução TV Vitória |
O especialista em Segurança Tecnológica, Eduardo Pinheiro, alerta que é preciso desconfiar sempre. Afinal, protegidos pelo anonimato por trás de uma tela, não é possível saber quem é golpista e quem é cliente.
"Busque referências de quem você está comercializando e fique atento aos detalhes da negociação. Principalmente se a conta bancária está no nome da pessoa que está realizando a compra pois muitos criminosos utilizam nomes de terceiros para ativar contas bancárias e também linhas de telefones pré-pagos", aconselha.
Delegado André Landeira sugere abrir conta exclusiva para recebimentos via Pix - Foto: Reprodução TV Vitória |
O delegado titular da Polícia Civil de Campo Grande, em Cariacica, André Landeira, passou a orientar os comerciantes após atender a uma proprietária de uma loja de bicicletas, que também foi alvo dos golpistas.
"Um alerta que a gente faz, que é o mesmo alerta que demos à proprietária da loja: abrir uma conta exclusiva para recebimentos via Pix, para que os vendedores e os caixas tenham acesso a conta para consultar se o dinheiro realmente entrou ou não", relatou.
Bancos podem ser responsabilizados
Advogado e especialista Raphael Câmara alerta que nem sempre os bancos são responsabilizados por golpes no Pix - Foto: Reprodução TV Vitória |
O advogado e especialista em Direito do Consumidor, Raphael Câmara, explica que nem todo golpe envolvendo Pix é de responsabilidade do banco. "O banco é responsabilizado se esses delitos se derem dentro das agências bancárias ou até mesmo usando o site do próprio banco. Mas, em casos de crimes mais graves, como, por exemplo, sequestros-relâmpagos, que tem ocorrido muito por conta Pix, o banco não é responsabilizado porque esse fato não pode ser atribuído à agência ou a qualquer funcionário da instituição", diferencia.
Como agir se você for vítima
Se mesmo com todos os cuidados, a pessoa acabar sendo vítima de golpe, a recomendação das especialistas é elaborar o boletim de ocorrência o mais rápido, apresentando o máximo de provas e detalhes que puder. O BO pode ser feito de forma online, sem necessidade de comparecer a uma delegacia de polícia.
O titular da Delegacia de Defraudações, Douglas Silveira, destaca a importância de registrar o boletim de ocorrência após cair em um golpe.
"Com muita cautela, verificar se é o valor correto antes da entrega da mercadoria. Pode ser on-line, pode ser na delegacia mais próxima ou na Delegacia de Defraudações, mas é fundamental e importante denunciar. Ainda que o valor seja pequeno, nós aconselhamos que ao menos faça o boletim de ocorrência para que possamos mapear esses golpes" destaca.
Fazer o boletim de ocorrência, segundo a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), é fundamental porque todas as transações via Pix são rastreáveis e, assim, é possível identificar os criminosos.
O próximo passo é entrar em contato com o banco ou instituição financeira para buscar meios de ter o seu dinheiro restituído e evitar que mais pessoas se tornem vítimas.
Dicas para evitar cair em golpes do Pix
- Estabeleça um limite diário para transferência via Pix no app ou site oficial do seu banco;
- Realize transações somente no app ou site oficial do seu banco;
- Certifique-se que o site do banco ou da loja que você está navegando é o correto;
- Confira se o site em que está navegando é seguro clicando no cadeado que fica ao lado da barra de endereço do navegador;
- Não clique em links ou baixe arquivos de e-mails suspeitos. Confira se o e-mail possui um domínio confiável. Em caso de dúvida, procure um canal de comunicação oficial;
- Não realize transações financeiras quando estiver conectado em redes públicas como de shoppings e restaurantes;
- Ao divulgar sua chave Pix para pessoas e empresas que você não tem relação de confiança, prefira informar a chave aleatória;
- Ative a autenticação de duas etapas em todos os aplicativos e redes sociais que oferecerem a opção.
Fonte: TV Vitória/Record TV