LUTO NO JORNALISMO: Morre Hilmar de Jesus, o repórter do Caso Araceli


Morreu no final da manhã desta sexta-feira (28/01), em Vitória, o jornalista e radialista Hilmar de Jesus, aos 65 anos. O falecimento, no final da manhã, foi confirmado por familiares. Ele deixa esposa, com a qual morava em São Mateus, e cinco filhos, todos maiores de idade.

Hilmar de Jesus era conhecido pela cobertura do Caso Araceli, em 1973, que o projetou no meio jornalístico. Segundo familiares, ele estava internado no Hospital Santa Rita, onde fazia tratamento de um câncer na laringe, descoberto em abril de 2021.

A família confirmou que o sepultamento será realizado neste sábado pela manhã, no Cemitério de Cariacica, terra-natal do jornalista e radialista.

Hilmar Manoel de Jesus era proprietário e jornalista do Jornal A Ilha, de São Mateus, acessado nas versões online e impressa (mensalmente).

A CARREIRA

Com cerca de 50 anos de carreira, Hilmar de Jesus atuou na Rádio Espírito Santo e outras emissoras da Grande Vitória e, no jornalismo impresso, destacou no Jornal da Cidade, A Tribuna (correspondente em São Mateus e região), Folha Acadêmica, Barcos Notícias e Diário Popular antes de ter a própria empresa jornalística. Nesses últimos, além de repórter, foi editor.

“Era o nosso decano, como eu o referenciava e ele gostava de ser chamado assim! Tivemos uma amizade bonita, mais voltada para a vida profissional, e aprendi muito com ele. Tinha muita experiência no Jornalismo Profissional, tanto no rádio quanto no meio jornal. Acompanhei parte da trajetória dele no impresso desde a fase de correspondente de A Tribuna, até passar pela Rádio Barcos FM e jornais Barcos Notícias e Diário Popular”, relata o jornalista e radialista André Oliveira, Diretor de Jornalismo e Conteúdo do Censura Zero.

André Oliveira recorda que, em 2003, ministrou o 1º Curso de Locução & Produção em Rádio, e convidou Hilmar de Jesus, então correspondente de A Tribuna em São Mateus e Região, para a cerimônia de encerramento realizada no Clube Ouro Negro. Também estavam presentes o empresário Rui Baromeu, a juíza aposentada Victória Consuelo (já falecida) e a coordenadora do Projeto Araçá, Maria da Penha Rocha Santos.

Os jornalistas Hilmar de Jesus e André Oliveira com o formando Téo Ferreira, na cerimônia de encerramento do 1º Curso de Locução & Produção em Rádio, ministrado em 2003.

O Diretor do Censura Zero acrescenta ainda que atuou junto com Hilmar de Jesus na televisão em São Mateus.

“Em 2009, por exemplo, eu era contratado da então TV São Mateus (atual TV SIM) e decidi narrar os jogos do Capixabão, naquela grande fase do Pitbull. Eu o convidei para ser o comentarista dos jogos da Associação Atlética São Mateus. Ele atuou de graça, pela nossa amizade; e ele gostava muito de futebol. Gravávamos os jogos ao vivo, nos estádios e, depois, havia a exibição na íntegra no dia seguinte. Fizemos todas as partidas e fomos ‘pé-quente’: o São Mateus conquistou o título inédito!”, relata André Oliveira, com ar saudoso.

CASO ARACELI

Hilmar de Jesus tinha orgulho de ser Jornalista Profissional “das antigas”. No site do Jornal A Ilha, mantém na capa, desde 18 de maio de 2019, a reportagem do Caso Araceli, com o qual ganhou projeção profissional logo no início da carreira:

Caso Araceli, 48 anos depois, revela o furo de um foca. Como tudo começou!

Lembro como se fosse hoje. Estava na antessala do então chefe da Polícia Civil do Espírito Santo, na antiga chefatura em Bento Ferreira. Dr. Gilberto Barros de Farias quando chegou uma mãe chorando desesperada e com a foto da filha nas mãos.

Era 18 de maio de 1973, por volta das 17h30. A mulher era a boliviana Lola Chances Crespo, e a foto era da filha Araceli Cabrera Sanchez Crespo, à época, com 8 anos de idade.

Começava ali o Caso Araceli que se tornou famoso em todo o Mundo pela violência que sofreu aquela criança. Foi sequestrada, drogada, estuprada e assassinada.

Esse bárbaro episódio serviu apenas para algo como homenagear Araceli como passou o dia 18 de Maio a ser considerado Dia Nacional de Combate ao Abuso Sexual contra Crianças.


Recordo que naquele momento que percebi o desespero da mãe logo me dirigi ao Dr.
Gilberto e usei das seguintes palavras: “Doutor, tem uma mãe aí fora desesperada com a foto da filha que desapareceu. Se a polícia não agir rápido, vai ser difícil encontrá-la se passar mais tempo”. E foi o que aconteceu. Dois dias depois o corpo de Araceli foi encontrado totalmente desfigurado e em adiantado estado de decomposição.

À época, trabalhava como repórter do Jornal da Cidade, na atrás do Teatro Carlos Gomes, no Centro de Vitória. Fui o primeiro a publicar a foto no Jornal que pertencia aos jornalistas Djalma Juarez Magalhães e Maria Nilce, outra que foi brutalmente assassinada anos depois.

Começava ali trajetória deste repórter que “furou” os grandes jornais da época – A Gazeta, A Tribuna e o terceiro periódico, Jornal O Diário. Estava sacramentado ali o ‘Furo de um Foca’.

Foca era a expressão usada na época para chamar repórter em início de carreira.

E o resto da história a maioria do capixaba da época se recorda. Foram anos e anos do processo na Justiça e até hoje o caso ainda não teve uma solução, apesar dos poderosos da época das famílias Helal e Michelini terem sido indiciados, depois condenados e mais à frente absolvidos.

Muitas pessoas que direta ou indiretamente participaram do caso como jornalistas, políticos e até testemunhas morreram, alguns de forma violenta como Luiz Emoção e Sebastião Soares (jornalistas), Marislei Fernandes Muniz, o deputado Clério Falcão, dentre outros.

Cheguei até a esboçar um livro que tinha como titulo “A Maldição de Araceli”, mas não tive respaldo financeiro para ir à frente pois revelaria os bastidores que implicariam no
envolvimento de gente da alta sociedade.

E o restante todo mundo sabe.

E 48 anos depois, o mistério continua!

Só para lembrar, Araceli tinha oito anos de idade, morava com os pais Gabriel Sanches Crespo e Lola Cabrera Sanches Crespo, no bairro de Fátima, na Serra, e estudava no Colégio São Pedro na Praia do Suá, em Vitória, de onde teria sido levada para o Bar e Restaurante Franciscano, na Avenida Dante Michelini, em Camburi, onde foi estuprada, drogada e acabou sofrendo overdose, tendo o corpo jogado nas matas do Hospital Infantil por Paulinho Helal e Dantinho. O pai de Dante de Barros Michelini, o Dantinho, Dante de Brito Michelini, também foi indiciado pelo crime, mas já morreu.

Fonte: Censura Zero


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