Giovanna e Rafael procuravam pertences em meio aos escombros da casa dos sogros dela, na Vila Felipe, para onde tinha se mudado no dia da chuva que destruiu parcialmente o município.
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Giovanna e o marido em frente aos escombros da casa onde iriam recomeçar a vida — Foto: Marcos Serra Lima/g1
A chegada a Petrópolis, no último dia 15, significava uma tentativa de "respiro" na vida do casal Giovanna Medran e Rafael Alves. Duas semanas antes, em São Paulo, eles perderam Ôrion, um bebê de apenas 3 meses, para a variante ômicron da Covid.
Só que a chegada à Região Serrana do Rio de Janeiro coincidiu com o dia da maior catástrofe na história da Cidade Imperial – mais de 200 pessoas já morreram e 30 seguem desaparecidas.
A equipe do g1 conversou com Giovanna, de 16 anos, na manhã de segunda-feira (21), no sétimo dia de buscas por vítimas da catástrofe. A jovem, que disse ser emancipada, estava com o companheiro e um amigo do casal revirando escombros na Vila Felipe, um dos pontos mais afetados pela chuva.
O cenário na vila era de destruição. Na segunda pela manhã o sol estava forte, mas naquela tarde voltaria a chover e as buscas precisariam ser de novo interrompidas. Enquanto a equipe de reportagem entrevistava Giovanna, bombeiros apareceram para ver se estava tudo bem.
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Marido de Giovanna procura a certidão de óbito do filho no meio dos escombros — Foto: Marcos Serra Lima/g1
Com o que sobrou da casa para onde havia se mudado ao fundo, Giovanna contou como, na terça-feira anterior. teve a esperança de dias melhores devastada pela tempestade. No dia do temporal, ela e Rafael, de 30 anos, chegaram na casa do sogros por volta das 6h.
"A gente acabou de perder o nosso filho, há duas semanas, e ele morreu por Covid... Teve quatro paradas cardíacas e, como a gente estava traumatizado, a gente veio aqui pra tentar se reerguer. Só deu tempo, mais ou menos, de a gente comer, tomar banho, e na hora que a gente ia deitar para descansar da viagem de São Paulo até aqui, começou uma chuva muito forte", disse a jovem.
No dia 15, a chuva chegou de tarde. Uma casa ao lado à dos sogros dela seria a primeira a desabar. Depois, todos decidiram que precisavam sair dali. O local onde ficava a casa é próximo a uma pequena cascata, um lugar aparentemente calmo, contrastando com o cenário de destruição na vila.
"Foi um barulho muito específico. A chuva estava forte, a lama já estava começando a vir. Só que até então, ninguém estava se tocando, pelo nervosismo. E as sirenes não estavam tocando no momento. Pararam de tocar assim que a primeira casa caiu. Os bombeiros chegaram aqui, mais ou menos, dez e meia da noite – e a gente já tinha tirado mais de cinquenta pessoas do soterramento", lembrou.
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Bombeiros avaliam os riscos no local do desabamento na Vila Felipe, Petrópolis — Foto: Marcos Serra Lima/g1
A jovem disse ter visto, impotente, crianças e mulheres grávidas sendo levadas pela lama. Ela mesmo contou ter sido arrastada pela enxurrada, mas conseguiu sair "só" com uma costela quebrada. A sogra não teve a mesma sorte e precisou ser socorrida para um hospital com mais ossos quebrados.
Na segunda seguinte à tragédia, Giovanna, Rafael e um amigo deles voltaram ao local para tentar recuperar alguns pertences. Entre eles, exames e o atestado de óbito do bebê.
"Não tem como reconstruir a nossa vida. Vir pra cá de novo já traz toda a lembrança do que aconteceu. E de assistência, realmente, a gente não tem nenhuma. A assistência que está fazendo diferença é dos próprios moradores, que estão indo atrás das pessoas desaparecidas. Os próprios moradores estão tirando do próprio bolso pra comprar leite, fralda, remédios...", explicou.
Até aquela segunda, a jovem e o marido estavam num dos abrigos improvisados na cidade. Traumatizada, ela disse que qualquer barulho a tem deixado assustada.
"Qualquer barulho, um garfo caindo no chão, qualquer coisa, eu já acho que vai desabar outra barreira, que vai acontecer outra coisa", desabafou.
Fonte: G1