Yago, ao ser solto: "Esses foram os piores dias da minha vida. Isso aqui é um inferno" Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo |
Preso depois sair de uma padaria no Jacarezinho, o entregador Yago Corrêa de Souza, de 21 anos, foi solto na tarde desta terça-feira por ordem da Justiça. O juiz Antônio Luiz da Fonseca Lucchese, durante a audiência de custódia, entendeu não haver provas suficientes para manter Yago preso. No entanto, ele ainda responderá ao processo.
"Esses foram os piores dias da minha vida. Isso aqui é um inferno", disse Yago Corrêa de Souza, preso por policiais no domingo à noite e acusado de associação para o tráfico.
— Esses foram os piores dias da minha vida. Isso aqui é um inferno. Eu só quero justiça. Eu pensei que iria ficar aqui dentro. Passei fome — disse o entregador Yago Corrêa de Souza, após deixar a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica. - Não sou bandido, sou morador. Lá dentro era só desespero.
O advogado de Yago disse que a família ainda está muito assustada.
— Yago é um jovem negro que está acostumado a passar por incursões da polícia, mas não a passar por um cárcere desses, uma masmorra dessas — disse o advogado Vivaldo Lúcio da Silva Neto. — Peço a vocês que deixem o menino respirar.
A Justiça do Rio determinou a libertação provisória do entregador Yago Corrêa de Souza, de 21 anos, após ele ficar preso por dois dias. O rapaz, morador da comunidade, foi comprar pão para o churrasco da família quando foi detido por um PM.
Érica Corrêia de Souza, irmã de Yago, agradeceu o apoio e fez um apelo ao governador Cláudio Castro.
— Peço ao governador que colocou o estado dentro da nossa comunidade para entrar com um projeto para os jovens do Jacarezinho que estão precisando de emprego. Precisando de cursos profissionalizantes, de assistência, de médico. É isso que eu peço ao governador — disse, comemorando a liberdade do irmão.
Questionado pelo GLOBO sobre os apelos que a irmã de Yago fez ao governador Cláudio Castro, o Palácio Guanabara respondeu que, por enquanto, este assunto está com a PM.
Durante toda manhã, parentes e amigos fizeram uma vigília na porta da penitenciária pedindo a revogação da detenção do rapaz. Os advogados disseram que não há como imputar o crime de tráfico de drogas a ele. Em um dos vídeos, feito na padaria, às 19h34m, Yago aparece de bermuda jeans e camisa do Flamengo comprando pão. O vídeo mostra a atendente servindo ao menos sete pães a Yago, que pega o pedido e caminha em direção à porta do estabelecimento.
"Diante das circunstâncias em que teria se dado a prisão, sem perder de vista que aqui há evidente necessidade de que os fatos sejam mais apurados, sobretudo diante da dinâmica dos fatos, certamente faz com que se esvaia qualquer substrato para se cogitar, neste momento, de prisão cautelar, ainda mais diante da manifestação a posteriori da autoridade policial", disse o juiz em um trecho da decisão.
O delegado assistente da 19ª DP (Praça da Bandeira), Marcelo José Borba Carregosa, que está cuidando do caso afirmou que Yago "estava na hora errada e no lugar errado". Carregosa destacou que "houve um erro" e que a versão apresentada pela família do jovem negro detido era verdadeira, e pediu que o juiz da custódia liberasse Yago.
Só após a prisão, a Polícia Civil reconheceu que Yago havia sido preso de forma equivocada. Carregosa declarou que "muitos elementos foram levados" em consideração para o pedido de soltura do entregador.
O advogado Vivaldo Lúcio da Silva Neto criticou a declaração do delegado sobre as circunstâncias em que o jovem foi preso:
— Eu gostaria que ele esclarecesse melhor essa situação de que todas as comunidades têm tráfico de drogas. Então todos os lugares são o local errado e a hora errada. Todos os lugares da comunidade infelizmente são assim, entendeu? A verdade é a seguinte: eu só quero é ser feliz, viver tranquilamente na favela onde eu nasci — destacou o advogado, citando um famoso funk carioca.
Para o advogado, a prisão do entregador negro é mais um caso de racismo estrutural:
— O Poder Judiciário entendeu pela liberdade. O próximo passo é mostrar que ele não faz parte do tráfico. Até o dia 10 de março, ele virá para assinar e esperamos que haja a absolvição. O que aconteceu foi racismo estrutural — avalia.
Fonte: O Globo