Chamas começaram dentro do quarto onde os irmãos Ícaro e Israel estavam. Sem possibilidade de fuga do local, ambos acabaram morrendo carbonizados.
O incêndio que provocou a morte de duas crianças de cinco e seis anos na Serra, Grande Vitória, foi causado por uma sobrecarga na ligação elétrica irregular, o chamado "gato de energia", na casa onde irmãos moravam com a família.
É isso que aponta a conclusão do inquérito instaurado para apurar as causas da ocorrência e possíveis responsabilizações do caso, que aconteceu em agosto de 2021, no bairro Laranjeiras.
De acordo com o perito criminal da Polícia Civil que participou da investigação, Fernando Colnago, o "gato de energia" causou um aumento na temperatura da fiação da casa, iniciando o incêndio no quarto onde Ícaro e Israel estavam.
"Abrimos a parede e dentro havia diversas emendas à fiação elétrica, que estavam todas derretidas. A rede elétrica não tinha qualquer proteção, como disjuntor ou fusíveis e, como estava irregular, qualquer falha favorecia esse tipo de acontecimento. Foi o que aconteceu", afirmou Fernando Colnago.
Guarda-roupas impediu que crianças fugissem das chamas
Além de constatar a causa, o laudo final também detalhou como foi a situação vivida pelas crianças durante o incêndio.
Ambos ficaram presos no cômodo por conta do guarda-roupa, que potencializou as chamas e inviabilizou a saída dos irmãos pela porta.
"Como a tubulação era plástica, depois que pegou fogo, ficou derretendo por dentro da parede, até chegar à tomada. E a tomada estava exatamente na frente ou bem próximo ao guarda-roupas, que é de madeira, estava cheio de roupas, e aí houve o incêndio. O guarda-roupas ficava ao lado da porta de entrada do quarto", disse o perito.
Imagens divulgadas pela Polícia Civil mostram o emaranhado de fios em um só ponto de energia elétrica, a situação do quarto após o incêndio e a ligação irregular por onde era capturada a distribuição elétrica de um poste — Foto: Divulgação/PCES
De acordo com o perito, a geladeira da residência apresentou um princípio de curto-circuito poucos dias antes do incêndio, mas as autoridades não foram acionadas.
O delegado responsável pelo caso, Rodrigo Rosa, descartou qualquer hipótese de violência contra as crianças. Ainda segundo ele, não é possível apontar culpa da família pela autoria da ligação irregular de energia elétrica.
"Não há penalização com relação às mortes das crianças, claro, por ter sido uma fatalidade. Agora tentaremos descobrir quem realmente fez aquela ligação clandestina. Não podemos afirmar se eram o moradores da casa, não sabemos se é uma casa própria, alugada, se tinham conhecimento daquela ligação", salientou o delegado.
Relembre o caso
Ícaro e Israel Storch morreram queimados quando o quarto deles pegou fogo, em uma casa na Serra, na Grande Vitória, no dia 16 de agosto. A avó e a irmã mais velha dos meninos, que estavam em outro quarto, conseguiram sair com a ajuda de vizinhos.
Como os irmãos foram carbonizados, foi preciso fazer exames de DNA para identificá-los. A família esperou mais de 40 dias até a liberação dos corpos.