Grande dama dos palcos brasileiros foi eleita para a casa em novembro e assumiu a cadeira 17
Eleita em novembro para a cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras (ABL) como candidata única, em gesto interpretado como deferência à trajetória da atriz, Fernanda Montenegro tomou posse na nova função na noite de sexta-feira (25), aos 92 anos. O evento ocorreu no Petit Trianon, no Centro do Rio, lotado, em cerimônia concorrida.
Recepcionada pela secretária-geral da entidade, a acadêmica Nelida Piñon, de quem é amiga, e conduzida ao palco por Cacá Diegues, Rosiska Darcy de Oliveira e José Sarney, a atriz fez um discurso que combinou elementos de sua trajetória pessoal com a defesa do ofício de ator.
Fernanda Montenegro enfatizou a relevância das artes cênicas para a cultura e combinou citações de filósofos e dramaturgos.
“Sou atriz. Venho dessa mística arte arcaica eterna que é o teatro. Sou a primeira representante da arte brasileira, do palco brasileiro, a ser recebida nessa academia. A raiz desta arte está na complexidade de só existir através do corpo e da alma de um ator ou de uma atriz, ao trazer a literatura dramática para a verticalidade cênica”, disse a agora imortal
A posse contou com a presença de autoridades, como secretários municipais e estaduais, deputados e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Fernanda Montenegro coleciona prêmios nacionais e internacionais, como o Emmy Internacional, o Festival de Berlim e o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. É a única brasileira já indicada ao Oscar de melhor atriz, pela atuação em Central do Brasil (1998), de Walter Salles, em que interpretou a professora aposentada Dora.
Na eleição que a conduziu à cadeira, vaga pela morte do diplomata Affonso Arinos, a atriz recebeu 32 votos favoráveis. Houve ainda dois em branco. Durante o discurso, narrou episódios anteriores, nos quais, em diversos encontros, fora instada pelo antecessor na cadeira 17, Affonso Arinos de Melo Franco, a escrever um livro e entrar para a ABL.
“A razão desse comando tão fraterno feito a mim se deu porque era um ativista cultural real, um artista, um irmão da mesma fé. Um potencial cantor, ator. Um feliz e saudável boêmio, companheiro de muitas figuras de nossa dita cultura popular. Cultura popular da qual eu faço parte, com nosso gênio absoluto, Gilberto Gil”, afirmou, em alusão ao astro da MPB, também escolhido imortal e que tomará posse em oito de abril.
De fardão, já sentada junto aos convidados presentes ao Petit Trianon, Fernanda Montenegro viu a filha, Fernanda Torres, ler e interpretar o discurso de Nélida Piñon, que reflete o espírito da ABL na recepção da nova acadêmica. Uma mensagem que relembrou as contribuições da atriz para a arte e suas origens familiares.
Em setembro de 2019, Fernanda Montenegro lançou “Prólogo, ato e epílogo: Memórias”, uma autobiografia com a qual se habilitou a concorrer a um dos 40 assentos da ABL. Na trajetória, a atriz cumpriu todos os ritos, desde a campanha à posse, na qual exaltou também todos os antecessores na cadeira 17: o patrono Hipólito da Costa e os acadêmicos Osório Duque-Estrada, Roquete-Pinto, Álvaro Lins e Antonio Houaiss.
Fonte: CNN Brasil