Mentir uma vez ou outra pode ser comum e, em alguns momentos, até necessário. Por outro lado, pessoas que costumam mentir compulsivamente sobre qualquer assunto podem sofrer de um transtorno chamado mitomania, ou mentira patológica, conforme explica a psicóloga Marilene Kehdi, especialista em atendimento clínico e psicopatologia. A seguir, veja como identificar um mentiroso compulsivo.
“É um transtorno psicológico em que a pessoa mente de forma consciente e não se constrange mesmo quando suas mentiras são descobertas. Elas mentem para qualquer pessoa, em qualquer lugar, sobre qualquer tipo de assunto, seja importante ou trivial”, explica a psicóloga.
Fatores psicossociais como baixa autoestima, dificuldade de autoaceitação, tentativa de se proteger de situações constrangedoras e o desejo de ser aceito no meio em que vive são alguns dos motivos que podem levar uma pessoa a contar mentiras. De acordo com a psicóloga, os sinais da mitomania podem começar a aparecer tanto na infância quanto na adolescência.
“Às vezes o adolescente não é feliz com a vida dele, ou por outros motivos, e quer criar outra realidade, e ele vai aumentando essas mentiras e criando o hábito de mentir, então vai se tornando uma doença. Se a criança vive em um ambiente onde as pessoas mentem, ela vai aprender a mentir também. Pode ser também que a pessoa tenha vergonha da sua situação social e minta, às vezes ela vai muito mal profissionalmente, se sente mal com isso e vai mentir que está muito bem, e muitas vezes vai perdendo o controle dessa mentira”, afirma Marilene.
A mitomania pode se apresentar de diversas formas, segundo a psicóloga, os principais sinais são: ausência de culpa ou de medo de ser pego nas mentiras; excesso de felicidade ou tristeza nas histórias que estão sendo inventadas; a pessoa costuma figurar como uma vítima ou um herói na história contada; ela também pode ter respostas muito elaboradas para perguntas simples, tem diversas versões para uma mesma história.
“O teor das mentiras da mitomania é fantasioso e extremo. A pessoa mente porque não consegue ficar sem contar a mentira, não consegue parar, ela não tem controle e não tem necessariamente um propósito para mentir. É preciso que essa pessoa aceite que ela tem [um transtorno] e busque o tratamento, mas geralmente quem tem essa doença não aceita buscar tratamento, que pode ser psicológico e psiquiátrico”, explica Marilene.
Quando um mentiroso compulsivo é confrontado, além de não se constranger, ele pode continuar mentindo e aumentando ainda mais a história irreal com justificativas.
“Isso afeta muito os relacionamentos pessoais, porque quando as pessoas percebem que o outro tem esse hábito de mentir pra tudo, elas se afastam. A pessoa então precisa reconhecer que necessita de ajuda para parar de mentir e dificilmente quem tem a mitomania reconhece isso, e por isso não busca ajuda”, afirma a especialista.
O principal tratamento para a mitomania é a psicoterapia que, segundo a psicóloga, ajuda o paciente a identificar quais aspectos da vida o levam a buscar uma realidade fantasiosa, e quais gatilhos podem desencadear a compulsão por mentir. Além disso, Marilene explica que a mitomania pode estar associada a outros transtornos de personalidade ou a outras compulsões.
Fonte: R7