Prefeitura de São Paulo realiza limpeza na praça Princesa Isabel, atual Cracolândia, nesta segunda (4). — Foto: ISAAC FONTANA/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO |
A Prefeitura de São Paulo desmontou nesta segunda-feira (4) barracas instaladas na Praça Princesa Isabel, no Centro de São Paulo, após a Cracolândia ter migrado para o local.
De acordo com a prefeitura, a Secretaria Municipal de Assistência Social realizou na última semana 1,8 mil abordagens na região, com 232 encaminhamentos para serviços de atendimento.
O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, acompanhou a ação e criticou a gestão municipal pela remoção de famílias em situação de rua que vivem no local.
Em nota, a prefeitura afirmou que retirou 35 toneladas de materiais como madeira, lonas, sofás e lixo na ação de zeladoria. A gestão afirma que seguiu as normas do decreto municipal que prevê a preservação de itens de uso pessoal, mas que coíbe objetos de ocupação permanente em áreas públicas.
Na semana passada, o então governador João Doria (PSDB) afirmou que orientou o secretário da Segurança Pública e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) a retirar as barracas na Praça Princesa Isabel. A afirmação foi feita durante a inauguração de uma passagem entre a estação da Luz da CPTM e a Sala São Paulo.
Em 2017, quando ainda era prefeito da capital paulista, Doria havia dito que a Cracolândia havia acabado em São Paulo. A promessa tinha sido feita logo após uma megaoperação das Polícias Civis e Militares, com mais de 900 agentes.
Prefeitura de São Paulo remove barracas na praça Princesa Isabel, atual Cracolândia. — Foto: Isaac Fontana/Estadão Conteúdo |
Migração do fluxo
Mapa cracolândia — Foto: Guilherme Luiz Pinheiro |
A mudança de endereço da Cracolândia para a região da praça Princesa Isabel, localizada entre as avenidas Rio Branco e Duque de Caxias, na Santa Cecília, em março, foi ordem de criminosos, segundo relataram usuários de drogas.
A informação foi confirmada oficialmente pelo delegado da Polícia Civil Roberto Monteiro e por fontes da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Segundo Monteiro, a “mudança do fluxo foi ordem de uma facção criminosa”.
"Nós tivemos uma notícia de que o fluxo, por ordem de uma facção criminosa, um líder, se mudou para outros locais, não só para a Praça Princesa Isabel, onde nós já temos um trabalho sendo realizado de inteligência ali naquele local, como também para outros pontos, como já estava ocorrendo diante da nossa repressão ao tráfico de drogas”, afirmou ele.
No dia 21 de março, o SP2 mostrou que os usuários de drogas que ocupam normalmente a rua Helvétia saíram da região e se espalharam por outras ruas do Centro. A Prefeitura da capital creditou a mudança como resultado de ações conjuntas entre o município e o estado para urbanização da área.
A venda e o consumo de drogas continua constante e à luz do dia na região da Luz, no Centro, e concentrada na Praça Princesa Isabel. Com uma câmera escondida, a TV Globo filmou bancas improvisadas vendendo crack: os traficantes usam lâminas para cortar e vendas as pedras. Na região também há muito lixo espalhado.
Um homem que vive na Cracolândia contou que a mudança do fluxo de drogas na região é “momentânea”.
“Só liberou meia-noite que ia subir, mas aí foi na sexta, aí no sábado já ficou, ficou direto agora [na Praça Princesa Isabel”, disse. “Tem que voltar [pra lá, no futuro], eu acho. Os cara mandou sair e nós ficou aqui mesmo, é mais suave, né?”, afirmou ele.
Ruas da Cracolândia vazias — Foto: TV Globo |
Cracolândia é desafio há décadas
A mudança silenciosa da Cracolândia chamou a atenção porque, segundo fontes da GCM, por dia, entre 800 e 1,5 mil pessoas ocupavam a região. Desde o dia 18 de março o fluxo mudou repentinamente.
Essa não é a primeira vez que a Cracolândia se muda para a Praça Princesa Isabel. Em 2017, depois de uma operação policial com mais de 900 agentes, os usuários que ficavam na rua Helvétia se espalharam pelo Centro, concentrando-se na praça Princesa Isabel durante um mês. Depois, voltaram para o mesmo lugar.
A Cracolândia é um desafio para São Paulo há cerca de 30 anos. Especialistas apontam que a solução passa por medidas efetivas e permanentes nas áreas de saúde, assistência social e segurança pública.
Segundo o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani, preocupa o fato de ter sido o tráfico a determinar a mudança do local do fluxo dos usuários.
“Quando você pulveriza [usuários e traficantes pela região também fica mais difícil pra você conseguir prender e localizar esses traficantes. É uma tentativa sempre de dificultar o trabalho da polícia, agora a polícia vai ter que aprimorar novamente as suas técnicas para conseguir prender esses sujeitos. Esse é um processo longo, e a gente está vendo mais uma etapa desse processo, que é um processo longo”, diz Alcadipani.
Fonte: G1