Zoológico em instalação militar de Manaus cuida de 300 animais

Cabral, onça-pintada melânica que vive em zoológico de Manaus - WELLINGTON VALADARES/MINISTÉRIO DA DEFESA

Os passos, apesar de silenciosos, atraem a atenção dos visitantes. Aos poucos, ele se aproxima das grades e impressiona pela pelagem escura e olhos amarelos. “Que bonita, mamãe”, diz uma menina. A mãe balança a cabeça para confirmar. O motivo para a reação das duas chama-se Cabral, uma onça-preta que vive no zoológico do Cigs (Centro de Instrução de Guerra na Selva). O local, na capital amazonense, é mantido pelas Forças Armadas com o objetivo de preparar militares para situações de guerra. No entanto, nos últimos 57 anos também tem sido um espaço para o acolhimento de animais silvestres vítimas de maus-tratos e em risco de extinção.

Cabral é tido como uma mascote do Cigs. Ele foi resgatado em 2000 após a mãe ter sido morta por caçadores. Hoje, com 22 anos, é um dos animais mais longevos do local. Já viveu mais do que o esperado para uma onça-pintada, espécie que tem expectativa de vida de cerca de 15 anos. De acordo com os tratadores, a onça não tem nenhuma doença e vem recebendo atenção especial devido à idade.

“É uma tarefa muito especial a que executamos aqui. O trabalho de conservação de espécies animais traz para a gente uma situação muito diferente de qualquer quartel do Brasil. Não há outro zoológico desse porte no Exército brasileiro. Isso nos enche de orgulho. Sabemos que estamos no caminho certo e fazendo algo de bom”, avalia o coronel Fábio Pinheiro Lustosa, comandante do Cigs.

Atualmente, o zoológico abriga 40 espécies, todas da fauna amazônica. São mais de 300 animais, entre répteis, mamíferos, aves, cobras e peixes, a maioria resgatada por órgãos públicos da área ambiental e levada ao Cigs pelo Ibama. Alguns animais têm condições de retornar à floresta depois do atendimento, mas a maior parte fica no zoológico por não se recuperar adequadamente.

Além de Cabral, outras nove onças estão em recintos do zoológico. Duas delas vivem juntas desde que chegaram ali, em 2019: Cunhã e Simba. Ambas foram encontradas com fraturas múltiplas de membros posteriores e na coluna, além de apresentarem doenças metabólicas por causa de desnutrição quando eram filhotes.

Quando foram trazidas ao zoológico, as duas onças tiveram de passar por uma série de cirurgias ortopédicas. Os maus-tratos, contudo, deixaram sequelas até hoje. Cunhã é cega e quase não caminha. Já Simba tem dificuldade para se locomover.

As onças-pintadas Cunhã e Simba - AUGUSTO FERNANDES/R7

Em razão do grau de debilidade, elas têm uma supervisão especial dos veterinários do zoológico. Quando estão sozinhas no recinto, cuidam uma da outra e não se separam. Cunhã é mais agitada. Basta sentir a presença de Simba por perto que começa a bater a pata na cabeça do companheiro, que logo fica irritado. As duas trocam mordidas, mas no final acabam deitando e adormecendo juntas.

“Garantir amor, dignidade, respeito e conforto aos animais da fauna amazônica que não podem ser reintroduzidos na vida livre é a nossa missão”, destaca Lustosa.

Demais espaços

O zoológico do Cigs também conta com pequenos felinos amazônicos, como jaguatirica, gato-maracajá, gato-mourisco e gato-do-mato. Há, ainda, diferentes tipos de macaco, entre eles macaco-aranha, macaco-prego, macaco-barrigudo e mico-de-cheiro.

O local abriga ainda espécies como anta, porco-do-mato, caititu e queixada. Além disso, o zoológico dispõe de uma sala entomológica, com uma coleção de mais de 200 insetos da Amazônia, e um aquário, com mais de 20 espécies de peixes amazônicos, entre eles pirarucu e tambaqui.

Entre as aves, o destaque fica para a harpia, ou gavião-real, que impressiona pelo tamanho — pode medir até 105 cm de comprimento — e pelo colorido das penas. Além dela, o zoológico tem duas espécies de arara (canga e candindé), tucano e mutuns, aves específicas da Amazônia.

O Cigs cuida de 16 espécies de tartaruga, como tracajá e iaçá, e também de sucuris, jiboias, jacaretingas e açus.

Cada espécie é avaliada pelos veterinários de seis em seis meses. O manejo é realizado para a obtenção de dados de biometria, profilaxia dentária e exames de rotina para avaliar o estado de saúde dos animais.

Quanto à alimentação, o Cigs elabora a dieta de cada espécie seguindo recomendações de manuais nacionais e internacionais sobre animais silvestres. A maior parte tem duas refeições diárias, uma de manhã e a outra à tarde, para poder se alimentar de forma balanceada e sem exageros.

Os primatas, que têm um sistema digestivo muito curto, similar ao dos humanos, não conseguem ingerir grandes quantidades de suprimentos, necessitando de uma dieta mais precisa e rigorosa. Por isso, além da ração, contam com variados tipos de fruta para completar a alimentação.

Já os felinos comem em dias alternados, com proteína animal de acordo com o peso ideal para consumo diário.

Fonte: R7


Postagem Anterior Próxima Postagem