Como uma ilha dizimou 300 mil coelhos em nome da biodiversidade

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“É um dos poucos casos em que os humanos podem reverter permanentemente alguns danos que causamos”, analisa a pesquisadora Melissa Houghton, após acompanhar um trabalho de dez anos para recuperar a Ilha Macquarie, território australiano que fica no meio do caminho entre a Austrália e a Antártida.

Enquanto o mundo olha principalmente para espécies ameaçadas de extinção, neste caso o equilíbrio da ilha foi ameaçado por excesso de animais, com muitas espécies invasoras introduzidas por humanos desde o século 19.

Ratos, gatos e coelhos se multiplicaram fora de controle, e o consumo desses animais abalou o ecossistema, dizimou plantas e populações de pássaros, mudando completamente a paisagem local, relata o jornal The Guardian.

Houghton chegou à ilha como adestradora de cães, e ela e seu labrador Wags foram responsáveis por localizar muitas das espécies invasoras. Só a população de coelhos atingiu um pico de 300 mil animais na ilha, e sem predadores, esses animais encontraram um verdadeiro banquete a céu aberto, se refestelando com os repolhos locais, uma espécie de planta que pode atingir o tamanho de uma pessoa.

Elefantes marinhos e pinguins são frequentadores assíduos da Ilha Macquarie, território da Austrália. — Foto: Samuel Bloch/Getty Images

Em 2014, a ilha foi considerada livre de espécies invasoras. O último gato selvagem foi alvejado em 2000, e seu veneno foi usado em 2010 para matar os ratos e camundongos, com coelhos também sendo alvo. Mas, após o envenenamento acidental de aves nativas, o calicivírus (uma doença hemorrágica do coelho) foi lançado no ambiente em fevereiro de 2011.

A pesquisadora, que permaneceu na ilha desde 2011, tornou-se cientista e completou seu doutorado como parte da equipe de pesquisa que monitora o ressurgimento de Macquarie. Segundo Houghton, há ainda algumas centenas de coelhos na ilha, mas em locais onde não é possível encontrá-los, como penhascos.

Apesar de drástico, o extermínio de animais invasores mostrou resultados na recuperação do terreno e da biodiversidade local. É uma grande cadeia.

Coelhos dizimavam a vegetação, e o limo crescia em locais onde antes albatrozes poderiam fazer seus ninhos; pássaros menores, que também usavam a ilha como refúgio para reprodução, eram comidos por gatos selvagens, ou ainda, expostos pela falta de vegetação, tornavam-se alvos fáceis para as aves predatórias; a população de insetos e invertebrados como aranhas voltou a crescer, uma vez que deixaram de ser alimento para os ratos. “Hoje há teias de aranha em toda parte”, afirma a pesquisadora.

O processo de reestruturar o ecossistema de Macquarie custou 14 milhões de libras (R$ 87 milhões), e teria custado mais se não fosse o apoio das instalações de pesquisa já existentes, contudo ilhas isoladas são centros de biodiversidade, cada uma com sua própria variedade de flora e fauna.

“Esta ação de manejo, a erradicação, salvou comunidades e espécies inteiras, muitas das quais não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo”, afirma a pesquisadora Justine Shaw, da Universidade de Tecnologia de Queensland e supervisora do doutorado de Houghton.
Fonte: Um Só Planeta


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