A Polícia Rodoviária Federal (PRF) afirmou em entrevista coletiva, nesta quarta-feira (30), que cabia à concessionária Arteris Litoral Sul, empresa que detém a concessão da BR-376, a responsabilidade pela liberação de tráfego, em Guaratuba, no litoral do estado, onde foi registrado deslizamento de terra na segunda-feira (28).
O deslizamento arrastou 10 carros e seis caminhões. Duas pessoas foram encontradas mortas, e a estimativa é a de que outras 30 estejam desparecidas, segundo Corpo de Bombeiros.
"Quem tem todo um inventário da rodovia, em relação a obras, a tudo que é feito na própria pista, como galerias, para garantir a segurança, é o órgão rodoviário responsável. Nesse caso, há uma concessão pública", afirmou Antônio Paim, superintendente da PRF.
"Essa condição, principalmente, numa serra, é uma condição muito dinâmica. Então, essa questão é uma questão própria da concessionária avaliar e agir de acordo com os levantamentos e até o histórico de ações que se tem nos locais", destacou Paim.
De acordo com as autoridades, que atuam nas buscas no local, por causa da chuva intensa, o resgate se torna ainda mais difícil. A Defesa Civil do Paraná informou nesta terça que o trecho da BR-376 atingido pelo deslizamento corre risco de desabar.
O g1 entrou em contato com a concessionária Arteris Litoral Sul sobre a responsabilidade mencionada pela polícia e sobre os instrumentos usados para a tomada de decisão, porém, até a última atualização da reportagem, não havia recebido retorno.
Especialista considera que BR-376 deveria estar bloqueada
O engenheiro civil e mestre em transportes pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) Sergio Ejzenberg avalia que a pista deveria ter sido interditada logo após o primeiro deslizamento registrado na tarde de segunda-feira e que não poderia mais ter sido liberada.
Ele afirma que é possível prever desastres como este, em especial, por ser um local que já havia registrado queda de barreira na data.
“Esta liberação não deveria ter acontecido [...] Existe, sim, como prever (deslizamentos), existem sinais de alerta, a engenharia pode prever isso."
"Não precisa ter sinal de alerta em uma rodovia como um todo, mas sim de um trecho, de um local que havia acabado de ocorrer um deslizamento. [...] Essa situação merecia uma intervenção específica, objetiva e direta e sem garantia de segurança, não poderia ter sido liberada", afirmou o profissional.
Para Ejzenberg, o desastre merece atenção e investigação rigorosa para que os responsáveis pela liberação sejam responsabilizados por todas as perdas causadas pelo deslizamento. Ele afirma que as vidas poderiam ter sido preservadas.
“É preciso saber que a pista já estava interrompida, então, é preciso saber quem liberou ela, com ordem de quem. [...] Era necessário avaliar se havia risco de um movimento maior, se aquilo foi um prenúncio ou só um pequeno movimento", afirmou.
"Quando se viu depois, aquilo foi um prenúncio, aquele aviso poderia ter salvado gente. Como não foi tomado como aviso, pessoas morreram."
Na terça-feira (29) a Defesa Civil afirmou que a concessionaria sabia dos riscos de deslizamento do local.
De acordo com o coronel Fernando Raimundo Schuning, a Arteris sabia que o volume de chuva apresentava riscos para o tráfego na pista e a empresa sabia da “vulnerabilidade técnica”.
Em nota enviada também na terça, a empresa respondeu que possui "programa permanente de monitoramento de encostas". Sobre o lugar onde foi registrado o deslizamento, a concessionária afirmou que o local é monitorado de forma periódica e que "não apresentava risco".
Os deslizamentos na BR-376
Imagem feita por geólogos da UFPR mostra deslizamento na BR-376 e um segundo deslizamento ao fundo — Foto: Centro de Apoio Científico em Desastres - UFPR |
O problema na pista começou às 15h30 de segunda, quando houve um primeiro deslizamento. O trecho, no entanto, foi parcialmente interditado pela concessionária Arteris, e o fluxo seguiu em uma faixa, o que causou lentidão no trânsito, com uma fila de carros.
Cerca de quatro horas depois, um talude cedeu em cerca de 200 metros de pista e arrastou ao menos 15 veículos, entre carros e caminhões, que estavam na pista. A chuva era intensa no local no momento do incidente.
De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) não há pluviômetro monitorado pelo órgão ou pela Agência Nacional de Águas (ANA) na pista, mas o equipamento mais próximo, pouco abaixo do local do deslizamento, administrado pela ANA, apontava volume acumulado de 247 milímetros de chuva apenas na segunda-feira.
No acumulado das últimas 72 horas, foram 355 milímetros. O Cemaden afirmou que há um alerta de risco para a região desde o domingo (27).
Fonte: G1