De acordo com o mergulhador, as ameaças estão surgindo de diferentes formas. Até durante as compras com a família, ele tem recebido ameaças
Foto: arquivo pessoal |
O mergulhador Fernando Rocha de Lima, de 42 anos, contou em entrevista à reportagem do Folha Vitória que tem recebido ameaças de pessoas que apontam ele como o responsável pela morte de uma orca foi encontrada na praia de Costa Bela, na Serra.
O caso aconteceu na última terça-feira (20), quando Fernando, acompanhado de outros mergulhadores, tiveram a experiência de interagir com uma orca no mar de Nova Almeida, na Serra.
Um vídeo gravado pelos mergulhadores retrata a emoção deles no momento em que o animal se aproxima da embarcação. Fernando chega a tocar na orca que se aproxima e quase sobe no barco.
Apesar de tamanha emoção após o encontro raro, horas depois, Fernando foi surpreendido com a notícia de que a orca que ele e os outros mergulhadores avistaram no mar, foi encontrada morta na areia da praia de Costa Bela, também na Serra.
Desde o ocorrido, além das lembranças, Fernando contou que tem recebido constantes ameaças de pessoas na rua, que relacionam a morte do animal, com o contato do mergulhador.
"Muita gente maldosa me vê na rua e diz que eu matei o animal. Eu estive dentro de um mercado e precisei ir embora porque apontavam para mim dizendo 'a Polícia Civil vai investigar'", disse o mergulhador.
De acordo com o mergulhador, nem mesmo a presença da família inibe a ação de desconhecidos que insistem em apontá-lo como responsável pela morte da orca.
"Eu fui comprar presentes de Natal com minha família, um pastor parou o carro, apontou o dedo para mim e disse que eu matei a baleia", contou o mergulhador, que está preocupado com toda a situação.
Além da rua, momentos após a notícia da orca encontrada morta, Fernando lembra que até no seu celular, chegaram inúmeras mensagens em tom de ameaça que colocavam ele como culpado pela tragédia.
Autopsia encontra plástico no estômago da orca
Vale lembrar que exames realizados pelo Instituto Orca detectaram a presença de plástico no estômago do animal.
O diretor do instituto, Lupércio Araújo, apontou que ao analisar o animal e pela quantidade de plástico encontrado em seu interior, a orca estava a pelos menos três semanas em sofrimento, não conseguindo se alimentar normalmente.
O doutor em Oceanografia, Adriano Magesky, explicou que na autopsia feita na orca, além da presença do plástico, outros fatores também impactaram e podem ter prejudicado a saúde do animal.
Porém, nenhum desses fatores está relacionado ao contato com os mergulhadores.
"A baleia que apareceu na praia, segundo a autopsia, tinha muito plástico ingerido. Isso tem sido comum para muitos mamíferos marinhos e interfere nas atividades do animal, que fica doente, não se alimenta e fica exposto a doenças e outros organismos oportunistas. Segundo a autopsia, também havia mordidas de tubarão-charuto, uma espécie pequena de tubarão que arranca nacos de carne das presas", explicou.
Magesky reforça que o comportamento das orcas é complexo, pois além de ter o hábito de viver em grupos, esses animais costumam viver em águas mais frias, ou seja, características diferentes das registradas no vídeo.
"O comportamento das orcas é bastante complexo. São animais extremamente inteligentes, então é difícil saber a natureza da interação observada. Pode ter sido curiosidade dela. São animais que vivem em grupos onde há interação entre os membros. São animais de águas oceânicas e mais frias, então é pouco comum aparecerem em regiões costeiras tropicais. Pode ser que ela tenha se desprendido do grupo por estar mais fraca e doente", apontou o oceanógrafo.
O doutor ainda faz um alerta sobre o aparecimento desses animais. "Ao ser vista próxima a águas costeiras, convém chamar os órgãos responsáveis pelo monitoramento de mamíferos marinhos (do governo ou ONGs)."
Mergulhador fez tatuagem em homenagem ao animal
O encontro com a orca aconteceu na última terça-feira (20), em Nova Almeida, mas desde então, o profissional não tirou a cena da cabeça. A emoção foi tanta que ele decidiu eternizar a memória com uma tatuagem.
"A ideia surgiu porque esse animal marcou minha vida. Eu sinto um amor como se fosse um filho. É um amor muito grande que eu queria marcar para nunca mais esquecer. Conversando com um amigo, ele deu a ideia de fazer a tatuagem e eu gostei da ideia", disse Fernando Rocha.
"Ela me ama"
Uma das falas que marcou o vídeo do momento em que os mergulhadores encontram o animal, foi escolhida para integrar o desenho, feito pelo tatuador Willian Aguiar.
"Foi um momento único. Ela me abraçava e faltava entrar do barco. Parecia que ela já me conhecia, foi realmente muito emocionante."
Veja o resultado da tatuagem:
Fonte: Folha Vitória