Idade não é o principal indicador de saúde dos mais velhos; é preciso buscar a autonomia, ativando não só a força, mas a mobilidade e as emoções. Ginástica para o cérebro é tão importante quanto cuidar do intestino.
O Globo Repórter dess sexta-feira (2) investigou a nova longevidade. Um estudo da USP mostra que a idade não é o principal indicador de saúde. Cinco pilares são vistos como nova forma de avaliar o envelhecimento saudável - cognição, psicológico, mobilidade, sensorial e a vitalidade. As amizades criam redes de apoio e diversão. E se libertar dos preconceitos é um grande passo para envelhecer bem, como mostra o cantor e compositor Leo Jaime. O programa mostra ainda por que ginástica para o cérebro é tão importante quanto cuidar do intestino. Confira a íntegra no vídeo acima e mais detalhes abaixo.
Aula de psicomotricidade de Ivaldo Bertazzo — Foto: Globo Repórter
O educador físico, bailarino, coreógrafo e terapeuta corporal Ivaldo Bertazzo trabalha há mais de 40 anos com a reeducação dos gestos. Ele criou o premiado método Bertazzo, cujos exercícios misturam equilíbrio, raciocínio, noção do espaço, controle da postura e dos movimentos, e ainda mexem com o emocional e o psicológico. Tudo para estender o prazo de validade das habilidades motoras e da atividade cerebral, que vão se desgastando com o tempo e que precisamos manter ativas para as tarefas corriqueiras no nosso dia a dia. As ferramentas para as aulas são as mais variadas e, algumas, bem caseiras.
Edney Silvestre explica sobre os cinco pilares que são vistos como nova forma de avaliar o envelhecimento saudável — Foto: Globo Repórter
Pela primeira vez no Brasil, os dados de mais de nove mil pessoas maiores de 50 anos foram analisados por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP. Os pilares de uma longevidade maior e melhor incluem a cognição (memória, raciocínio e julgamento); o psicológico (sintomas depressivos e a qualidade do sono); a mobilidade (o caminhar e o equilíbrio); o sensorial (como a pessoa enxerga e ouve, que é fundamental para nossa interação com o meio ambiente) e a vitalidade (mede a energia para executar as coisas e envolve aspectos nutricionais). para envelhecer bem, é preciso buscar a autonomia.
O economista aposentado Roberto Santos, é um dos personagens inspiradores para quem quer envelhecer bem. Ele fez um curso de culinária depois que se aposentou e foi levado pela filha para remar, na região oceânica de Niterói (RJ). Os dois novos prazeres, no mar e na cozinha, preenchem o tempo e ajudam a afastar a tristeza que bate de vez em quando, segundo ele.
A terapeuta holística de tai chi chuan Lidia Matsubara tem hábitos nutricionais exemplares e a professora de nutrição da Unifesp Fernanda Naufel explica por que cuidar da flora intestinal tem papel fundamental na nossa saúde. O intestino saudável é importante para a imunidade, para a proteção da parte neurológica, cardiovascular e para a boa absorção dos nutrientes. Após os 65 anos, a flora intestinal vai perdendo a diversidade e a necessidade de uma alimentação mais natural e rica em fibras é maior.
Ubiratan e Frances fazem ginástica para o cérebro — Foto: Globo Repórter
À medida que envelhecemos, o cérebro envelhece também. Os lapsos de memória são comuns e a percepção pode diminuir, assim como a capacidade de aprendizagem, mas isso não é uma sentença de doença ou de demência. O diretor do laboratório de Neurociência e Aprimoramento Cerebral da UFRJ, Rogério Panizzutti, coordena estudos que investigam a cognição de idosos, com testes simples. No laboratório e em casa, eles executam tarefas no computador. Os exercícios desafiam a capacidade do cérebro em tarefas de memória, de atenção e resolução de problemas.
Um dos mais longevos projetos brasileiros de acompanhamento do envelhecimento é o Gamia, da Universidade de São Paulo. A cada ano, 30 idosos são selecionados e têm aulas de nutrição, enfermagem, terapias e atividades físicas no Hospital das Clínicas. É como um treinamento para enfrentar melhor a velhice - de corpo e alma. O médico e professor Wilson Jacob Filho faz parte do projeto desde o início, nos anos 1980, quando ninguém pensava no cuidado dos idosos. O ponto chave é a convivência, que estimula o aprendizado, os cuidados com a saúde e ainda combate a solidão. As avaliações são constantes. Ao final de 12 meses, os participantes que precisam são encaminhados para especialistas.
Leo Jaime em aula de ballet — Foto: Globo Repórter
O cantor e compositor Leo Jaime desafia os preconceitos de que homem não dança balé e de que pessoas acima do peso normal não tem elegância, por exemplos. “Se você for pedir autorização para os outros ou pro mundo pra você ser feliz, provavelmente você vai se cansar”, diz o artista, que foi considerado o melhor da Dança dos Famosos, quando participou do desafio. Ele fala também sobre o medo do julgamento alheio.
O professor de geriatria da Faculdade de Medicina da USP Márlon Aliberti diz que a partir dos 45 anos, já se começam a detectar pequenas diferenças entre as pessoas. A psicóloga Maria Conceição tem 45 anos e quer ir longe. O que começou com uma caminhada de meia hora, virou corrida, esporte que pratica todos os dias, há oito anos, na zona leste de São Paulo. Ela diz que a corrida controla as ansiedades, e reduz os níveis de estresse. A psicóloga nem sabia, mas enquanto deixava para trás, o cansaço da cabeça, fortalecia o corpo para enfrentar um câncer de mama, doença que descobriu em 2018 e que voltou em 2021.
De repente, a vida perde a cor. Passa devagar, fica sem graça, sem atrativos. Quando a gente se dá conta, a depressão pode estar chegando. Pesquisadora explica que a depressão também pode levar a outras doenças, porque ela prejudica o autocuidado. Estudo Viva Vida, com 450 participantes, é voltado para idosos com depressão leve ou no começo. Ele não substitui os cuidados médicos, mas faz muita diferença. Idosos recebem mensagens quatro vezes por semana.
Fonte: G1