Após 92 anos da primeira edição, Stéphanie Frappart, Neuza Back e mexicana Karen Medina tornam-se, nesta quinta, primeiras mulheres a comandar jogo do Mundial masculino
Stéphanie Frappart, Neuza Back e Karen Diaz Medina. Nunca antes a assinatura do trio de arbitragem na súmula de uma partida teve tamanha importância. Afinal, foram 92 anos de espera. Nesta quinta-feira, elas fazem história: são as primeiras mulheres árbitras a comandar um jogo da Copa do Mundo masculina de futebol.
O trio de arbitragem conduz o confronto entre Alemanha x Costa Rica, no estádio Al Bayt, pela última rodada da fase de grupos do Mundial no Catar.
Stéphanie Frappart, árbitra francesa: a primeira mulher a conduzir jogo em Copa do Mundo masculina — Foto: REUTERS/Hannah Mckay |
De um lado do campo, o técnico da Alemanha, Hansi Flick, apoiou o pioneirismo de Frappart. De outro, o técnico Luis Fernando Suárez, da Costa Rica, exaltou a representação da conquista para as mulheres no futebol.
- Eu confio 100% nela. Acho que ela merece estar aqui - disse Flick.
- Sou um admirador profundo de tudo que as mulheres têm conquistado e acho que elas têm que continuar conquistando. Especialmente nesse esporte que é muito sexista. É difícil atingir esse espaço e acho que é um passo positivo para o futebol - destacou Suárez.
As mulheres árbitras... de onde vieram
Desde a Copa de 1930 - na primeira edição do torneio -, a Fifa nunca havia escalado mulheres para qualquer função da arbitragem nos jogos do Mundial. Nem mesmo no VAR. Uma postura que expõe a falta de oportunidades na formação e também uma evolução tardia na área - considerando que a primeira mulher árbitra no mundo estreou apenas na década de 1970: a brasileira Léa Campos.
Os registros históricos sobre as mulheres no futebol são escassos, mas Léa deixou o nome marcado como possivelmente sendo a primeira mulher a apitar jogos do masculino.
Léa Campos, primeira árbitra do Brasil — Foto: Arquivo Pessoal |
Durante 40 anos, entre 1941 a 1979, as mulheres foram proibidas de jogar futebol no Brasil, com base no Decreto-Lei 3.199 - e isso afetou o desenvolvimento delas no esporte. O pioneirismo de Léa, por exemplo, aconteceu neste período, e por anos a Federação Mineira não autorizou a expedição de seu diploma. Desde então, a evolução na arbitragem aconteceu de forma tímida - em todo o mundo.
O Campeonato Brasileiro, por exemplo, só voltou a ter mulheres árbitras de forma contínua há três anos - em 2019. Na Europa, só em 2017 uma de suas principais ligas masculinas teve uma mulher no comando de arbitragem, com Bibiana Steinhaus, na Bundesliga.
Na Copa do Mundo masculina...
A presença de mulheres na arbitragem do Mundial feminino tornou-se uma imagem comum, mas em meio aos homens, a competição parecia distante de uma mudança. Em sua última edição, por exemplo, em 2018, na Rússia, foram 99 nomes convocados - entre juízes e assistentes. Nenhuma mulher.
Quatro anos depois, das 129 pessoas escolhidas pela Fifa para a Copa de 2022, há seis mulheres: Neuza Inês Back (Brasil), Karen Diaz Medina (México), Yoshimi Yamashita (Japão), Salima Mukansanga (Ruanda), Stephanie Frappart (França) e Kathryn Nesbitt (Estados Unidos). Menos de 5% do todo, mas com o peso de ser um marco histórico. Curiosamente, no conservador Catar.
Cristiano Ronaldo e Stephanie Frappart antes de jogo pela Copa — Foto: REUTERS/Hannah Mckay |
Stéphanie Frappart: a primeira mulher árbitra na Copa
Frappart coleciona pioneirismos. Antes mesmo de comandar Alemanha x Costa Rica, por exemplo, tornou-se a primeira mulher em uma partida da Copa masculina - como quarta-árbitra de México x Polônia. A francesa tem 38 anos, está no quadro da Fifa desde 2011 e também foi a primeira de outras quatro competições: Campeonato Francês, Liga dos Campeões, Eliminatórias para o Catar e a final da Supercopa da UEFA.
A relação de Frappart com o futebol surgiu através do pai, que atuava na equipe amadora da cidade de Herblay-su-Seine - uma comuna da França. Acompanhando o "mentor" nos jogos de fim de semana, a francesa também se aventurou pelo esporte e virou atleta do Val d'Oise, mas ainda jovem terminou abandonando as chuteiras para tentar a carreira como árbitra.
"Me apaixonei pela arbitragem em pouco tempo, logo após os meus primeiros apitos", disse Stéphanie em entrevista à Federação Francesa de Futebol.
Árbitra Stephanie Frappart conversa com Pulisic durante Chelsea x Liverpool — Foto: Reuters |
Pelo Brasil, Neuza Inês Back. Pelo México, Karen Diaz Medina
Frappart, dessa vez, não estará sozinha no pioneirismo. Ela conduz o primeiro trio de arbitragem feminina da história da Copa do Mundo masculina, ao lado da brasileira Neuza Inês Back e da mexicana Karen Diaz Medina.
Stéphanie Frappart e Neuza Back durante a Copa do Mundo — Foto: REUTERS/Carl Recine |
Neuza tem irmão árbitro, formou-se em educação física, estreou no Campeonato Catarinense e enfim integrou o quadro de assistentes da Fifa, em 2014. Dois anos depois, participou de competições como o Mundial de Clubes de 2020 e os Jogos Olímpicos de 2016. Também pioneira, ela esteve na primeira equipe totalmente feminina do Mundial de Clubes e da Libertadores.
Karen Diaz, por sua vez, formou-se em engenharia agroindustrial, mas fez a carreira na arbitragem - estreando como profissional em 2009. Ela trabalhava no café de um centro esportivo e substituiu um árbitro que não chegou a tempo da partida. Anos depois, em 2016, esteve na Liga Mexicana e acumula outros jogos em disputas pré-Mundiais de base da Concacaf.
Fonte: GE