Vitor Pereira Flamengo |
A decepção com os três títulos em disputa na temporada 2023 minaram a confiança do torcedor do Flamengo no trabalho do técnico Vítor Pereira, mas o português ainda conta com o prestígio junto ao elenco e à diretoria rubro-negros. Com contrato até o fim da temporada, o comandante foi trazido para o lugar de Dorival Júnior e em dois meses indicou o seu potencial, apesar dos resultados.
Mas afinal, quais os motivos para o Flamengo não demitir o treinador:
- Multa alta: O Flamengo acertou com Vítor Pereira que em caso de demissão o técnico receberia todo o seu contrato, válido por um ano, e com custo total de R$ 25 milhões. Logo, se for desligado após dois meses, a rescisão implicaria em uma multa de cerca de R$ 18 milhões
- Bom relacionamento: Vítor Pereira chegou ao Flamengo com a preocupação de não bater de frente com as estrelas do elenco. Apresentou suas ideias, entendeu que precisaria de tempo de adaptação, e faz tudo sem sobressaltos, mesmo com as cobranças por desempenho. A postura o ajudou a cair nas graças dos jogadores, ainda que não seja exatamente simpático.
- Conceitos: As ideias de jogo apresentadas por Vítor Pereira no Flamengo partem de um objetivo simples de dar ao time maior consistência, e não ficar refém do talento individual. Ao buscar essas soluções no dia a dia e apresentar alguns avanços, o treinador ganhou pontos com o elenco e com a diretoria. Falta agora implementar as ideias no campo.
- Bagagem: A experiência de Pereira com elencos internacionais e na disputa de grandes competições têm sido enfatizada no Flamengo. Não à toa o técnico resiste bem à pressão após um início conturbado, e sem dar motivos para cobranças além do desempenho em campo. É nessa casca que a diretoria aposta para que o técnico consiga extrair o melhor do elenco.
- Mea-culpa: A direção do Flamengo apostou alto na troca de Dorival por Vítor Pereira e não quer dar o braço a torcer de que tomou a decisão errada. Para não fazer mea-culpa, também insiste com o trabalho ainda que os resultados estejam longe do esperado. A ideia é esticar a corda ao menos até o fim do Campeonato Carioca para que o técnico dê a "liga" necessária.
- Falta de opções: Hoje no mercado o Flamengo não tem uma sombra ao trabalho de Vítor Pereira. Jorge Jesus, o treinador dos sonhos do torcedor a todo ano, só fica livre do Fenerbahce da Turquia no meio do ano. No mercado brasileiro, as alternativas são consideradas de nível inferior. Tite, ex-seleção, seria a exceção, mas o nome não é debatido no Flamengo.
As partidas contra Vasco, no domingo (que já pode garantir o título antecipado da Taça Guanabara) e Fluminense, quarta-feira, chegam com status de decisão sobre o futuro. Se confirmar o favoritismo nestes jogos e nas semifinais, o Flamengo seguirá em mares mais tranquilos a preparação para o Campeonato Brasileiro e a Libertadores, que terão início em abril. Caso contrário, Pereira se torna vulnerável.
Hoje, Vítor Pereira tem respaldo da diretoria e do elenco do Flamengo, que o abraçou após o gol de Arrascaeta sobre o Del Valle e nas entrevistas pós-jogo. Há um entendimento que os conceitos apresentados estão sendo assimilados e a equipe começa a ganhar a cara do treinador. Mas é cobrada uma resposta no campo de jogo. A parte física também evoluiu em paralelo e a expectativa é que em abril se aproxime do ideal. Até lá, a ideia é suportar a pressão externa para engrenar o trabalho por toda a temporada.
— Três chances de títulos que deixamos passar. Mas como o mister falou, encontramos um caminho e podemos reverter isso. Vamos trabalhar em dobro. Vamos dar apoio para o Vitor. Também está se ambientando e está procurando a melhor a equipe — declarou o capitão Éverton Ribeiro.
— Nós não deveríamos ter começado dessa forma. Deveríamos ter começado com títulos, mas é um trabalho que está no início. Nos dois últimos jogos com todo o elenco, os jogadores deram sinais claros de um grupo unido que quer jogar um futebol de qualidade. É um trabalho que está no início, não é como começa, e sim como acaba — afirmou o técnico após a Recopa.
Reforços em pauta
Marcos Braz, vice de futebol do Flamengo — Foto: Divulgação |
Em outra frente, a diretoria entende que Vítor Pereira precisa de peças para reforçar o time e vai ao mercado para buscar dois ou três jogadores. A lesão de Pulgar não aumentou a lista, e as prioridades ainda são um volante, um meia e um atacante que jogue pelo lado direito. No meio do ano o Flamengo terá o retorno de Bruno Henrique, mas ainda não se sabe em que condições ele vai estar após lesão.
Até lá, as avaliações do trabalho do técnico e dos atletas seguem na esperança de uma melhoria imediata já nos clássicos. Pelo o que o Flamengo apresentou nos últimos jogos, o diagnóstico é que Vítor Pereira tem conseguido conter a sangria da defesa e agora vai focar em novas dinâmicas do ataque para buscar sistemas de jogo flexíveis, e algumas experiências devem acontecer.
No último jogo, o Flamengo adotou um 3-4-3 com Thiago Maia na linha de zagueiros, os dois laterais bem avançados e Vidal e Ribeiro na transição, com Arrascaeta, Gabi e Pedro no ataque contra uma defesa com cinco jogadores. O time abusou dos cruzamentos, colocou duas bolas na trave e perdeu nos pênaltis.
Para os jogos contra Vasco e Fluminense, a força máxima deve ser lançada novamente, com o quarteto Arrascaeta, Everton Ribeiro, Pedro e Gabigol mantido. Gerson, que voltou de lesão, pode entrar na vaga de Vidal, ou ser adiantado para o lugar de Arrasca ou Ribeiro, algo que Vítor Pereira já ensaiou e teve que adiar por conta da lesão do volante, que saiu do Maracanã com uma bolsa de gelo no pé. Outro que deixou o campo com dores foi Pedro. Everton Cebolinha entrou e pode ganhar espaço.
A verdade é que o técnico tem tentado de tudo com o elenco que tem nas mãos e buscado variações de jogo para encontrar um equilíbrio. Só que o Flamengo não consegue, muito por desempenho individual dos atletas, ser mais aquele time dominante, com troca de passes e posições por intuição, e ao buscar seguir as diretrizes de um novo trabalho dá claros sinais de dificuldades de se adaptar.
O cenário foi visto também no começo do ano passado, quando o técnico Paulo Sousa buscou implementar novas ideias, mas faltou química com o elenco. Desta vez Vítor Pereira tem se preocupado em ganhar o vestiário, cobrar os jogadores sem deixar de valorizá-los, e não expor qualquer tipo de insatisfação por não cumprimento de suas propostas táticas, algo que no Corinthians o fez se desgastar com os principais jogadores do elenco.
Fonte: O Globo