Após demissão da Globo, Cléber Machado estreia hoje (02) em nova emissora para narrar jogos da final do Paulistão


Às 16 horas, na primeira partida final do Paulista, entre Água Santa e Palmeiras, Cléber Machado assume o microfone da Record TV,  depois de 35 anos de Globo. 

A contratação de Cléber Machado pela Record TV tomou conta do noticiário esportivo do país REPRODUÇÃO/TWITTER

A contratação abalou o jornalismo esportivo do país

O narrador que, por 35 anos, foi a voz da TV Globo em São Paulo, fechou acordo para trabalhar na Record TV, emissora que decidiu retomar sua tradição no futebol. Ele fará sua estreia hoje (02), às 16 horas, no primeiro jogo da final do Campeonato Paulista, entre Água Santa e Palmeiras.

Sua voz inconfundível estará também na transmissão da partida decisiva, no próximo domingo, dia 09.

De maneira clara, sem revanchismos, Cléber falou sobre o novo momento da carreira.

Qual a sensação de terminar um casamento de 35 anos? E começar um novo?

Eu não cheguei a ficar com a sensação de terminar casamento. Houve o fim de uma era muito grande. Três décadas e meia...Trinta e cinco anos... De uma convivência muito saudável. Muito boa, muito boa profissionalmente para mim.

E quero crer que também entreguei um trabalho bem feito, digno, neste tempo todo.

Acho que a gente ainda não está começando um novo casamento, né?

Houve uma piscadinha...

E a piscadinha foi legal e a gente está se conhecendo...

Mas o que vivi não foi uma situação ruim.

Não fiquei enjoado e amargurado num primeiro momento (na saída da Globo).

E agora espero fazer uma sequência de jogos legais (na Record).

Cléber Machado ficou 35 anos na Globo. E vê com otimismo a Record TV retomar a tradição do futebol REPRODUÇÃO/RECORD TV

Você imaginava o quanto é importante para o jornalismo esportivo brasileiro do país? Foi manchete, com merecimento, em todos os veículos de comunicação.

Não, nunca tive essa noção. As vezes me falavam da (minha) importância... Eu acho assim: nossa função de narrador ganhou uma função muito diferente basicamente com o Galvão Bueno e também com o Luciano do Valle.

Mas o Galvão mudou o (nosso) status. Eu nunca tive essa sensação (da importância). Aliás, nunca tive a noção de quantas narrações ficam marcadas nas vidas das pessoas, que vêm falar comigo de alguns jogos, de algumas transmissões, de algumas frases.

Mas evidentemente que mesmo não sendo na situação mais real, é uma prova de carinho, de atenção.

A gente da mídia, às vezes tem um pouco esse lado, né: quando está em atividade, a gente fica olhando ali e é mais difícil dizer que foi uma boa transmissão e mais fácil dizer que cometeu uma gafe.

Nesse momento, com o caso de tanto tempo (na Globo), acho que a repercussão foi grande e mais positiva. Eu não cheguei a ver nada tipo 'é isso mesmo, ele não serve para nada'. Isso além de reconfortante, é muito agradável, sentir que o seu trabalho foi marcante de alguma maneira, fez parte de uma história e ficou na visão, no sentimento de várias pessoas.

"Não foi pelos meus olhos verdes que eu fiquei 35 anos na Globo. E eu nem tenho olhos verdes" REPRODUÇÃO/TWITTER

Como você vê o renascimento da tradição do futebol na Record?

A gente está em um tempo em que várias plataformas passaram a transmitir futebol. Para os profissionais é muito bom. Para o público é um leque maior de opções, vamos encontrar um meio de comunicar exatamente à audiência onde vai estar o jogo.

Eu passando de adolescente para adulto e já profissional de rádio sempre acompanhei as transmissões...Eu sei que a Record tem uma tradição anterior a essa que eu vou falar.

A Record tem a tradição dos grandes jogos, das grandes transmissões, dos grandes eventos, do Raul Tabajara, do Hélio Ansaldo e tal...

Mas a minha geração é do Silvio Luiz.

O Silvio Luiz fazendo um sucesso estrondoso nos anos 80. E de lá para cá, teve outros bons momentos.

Acho que retomar, repensar, entender que o esporte também é um pilar bom para a programação é bom.

Bom para o público, é bom para a emissora e também para os profissionais.

O Silvio Luiz me disse que a sua contratação mostra a importância dos grandes narradores do Brasil. E que chegou o reconhecimento que os narradores mais antigos não tiveram. Concorda?

Silvio Luiz com Pelé. A Record TV tem uma profunda relação com o futebol. Principalmente o Paulista REPRODUÇÃO/TWITTER

Ah, o Silvio é um querido... Sempre que tenho oportunidade, eu falo: o que nós fazemos hoje, o pessoal da minha geração e das gerações posteriores, temos uma base de pirâmide da transmissão esportiva de estilos.

O Galvão Bueno, o Luciano do Valle e o Silvio Luiz.

É por técnica, por vibração e por descontração.

E hoje acho que há um mix disso tudo em quase todos os narradores.

Não sei se é um reconhecimento dos narradores antigos não tiveram...

Eu acho assim, o Silvio é um exemplo claro de reconhecimento sempre. O tanto tempo que ele tem de carreira e continua sendo uma estrela.

O Galvão deixou de narrar na tevê aberta e vai continuar fazendo, acontecendo e sendo notícia, sendo um cara importante.

Às vezes eu nem consigo me colocar nesse patamar, entendeu? Mas, assim, acho que foi para mim uma reação, uma repercussão e até um movimento que mostra, repito: poxa, eu fiz alguma coisa.

Eu não fiquei tanto tempo em uma grande emissora só por causa dos meus olhos verdes, que aliás, não são verdes, mas acho que é o reconhecimento para todos os profissionais dessa área.

Mas evidente, alguns atingem determinado ponto, atingem determinados tamanhos. E a gente tem de ficar feliz com o determinado tamanho que a gente alcança.

Cléber Machado revela ter 'duas propostas e meia'. Não definiu ainda seu futuro após o Paulista REPRODUÇÃO/YOUTUBE

Você nunca teve medo de se posicionar. Viessem vitórias ou derrotas do esporte brasileiro. O que mudou narrar neste jejum de Copas da Seleção Brasileira? A última conquista foi há 21 anos.

Eu diria para você que não mudou muito. Não mudou nada. Principalmente no aspecto de narrar competições nacionais. Ou a Libertadores. A Libertadores, a Copa do Brasil, o Campeonato Brasileiro.

Eu acho que esse jejum sempre fazia parte dos assuntos, principalmente dos programas. Esse assunto é mais tratado nos progamas do que nas transmissões. Eu acho que é uma questão que temos de pensar. Ficamos em jejum de 70 a 94 e estamos em jejum de 2002 até a Copa do ano passado, em 2022.

É mais um momento que o futebol brasileiro tem de pensar, repensar, entender qual é a posição dele no mundo do futebol.

Qual é a prática do futebol brasileiro, que consegue ser igual, comparável e vencedora em relação aos outros países.

O futebol muda muito. Não muda muito na essência. Mas muda muito na aplicação, na técnica, na tática, na estratégia, e às vezes, meu único receio é quando ouço assim: 'ah, nós não precisamos aprender nada com ninguém, somos pentacampeões'.

Isso é fato, é história. Mas nós temos de andar para conquistar a sexta estrela. Porque ela não vem só em consequência das cinco. É preciso fazer alguma coisa para que a sexta estrela venha. Tomara que essa administração (da CBF) esteja pensando assim.

Você deu várias entrevistas e manteve uma postura digna sobre a saída da Globo. O que a emissora significou na sua carreira?

Poxa, a Globo significa tudo na minha carreira. Para você ter ideia, neste mês de abril, eu estou fazendo 44 anos de carreira, comecei em abril de 1979. Trabalhei seis anos no sistema Globo de Rádio e 35 anos na TV Globo.

São 41 anos de 44 anos de carreira. Então, é óbvio que é a minha casa. É óbvio que eu conheço todos os atalhos, os caminhos, as salas, o café, o banheiro, as pessoas, o que se precisa fazer, as cobranças, os benefícios, a condição de trabalho.

Então porque não há porque eu ter nenhuma bronca. Aconteceu, aconteceu...

A minha pergunta (para a cúpula da Globo) foi: "Vocês não me querem mais ou é uma questão de reajuste interno?" Eu ouvi 'reajuste'. Nunca ninguém falou, e eu espero que tenham dito a verdade para mim, nunca ninguém falou que o meu trabalho não era mais satisfatório.

E do outro lado, a nota oficial 'deles', que pode ser vista como uma nota padrão, ao citar 'portas abertas', eu não fiz nada para fechar as portas e eles não fizeram nada para me diminuir. Eu tenho a impressão que é isso. Não tenho nenhuma queixa da empresa.

Transmitir esses dois jogos finais do Paulista, pela Record TV, mexem com seu ânimo? Voltou a ter o frio na espinha por ser em uma nova emissora?

Sabe que eu nunca fui de ficar tenso, nervoso, antes de uma transmissão? Nem quando comecei a carreira. Acho que a gente se prepara ao longo dos dias para fazer uma transmissão.

Eu não sei, eu não pensei ainda como é que vai ser. Vou ver na hora que eu chegar, que eu sentar, que eu entrar no estúdio, que eu botar o fone, que eu botar os meus papéis na mesa, que rodar a vinheta e começar a transmissão.

Eu imagino que vai ter um frio na barriga, mas confesso que sou muito tranquilo nessa hora. Eu só fico intranquilo quando eu acho que não me preparei direito para fazer. Então, espero que tenha um friozinho na espinha, na barriga. Mas espero que seja um trabalho bem feito, que dê resultado, que dê audiência.

E o Paulista tem uma ligação muito grande com a minha carreira. Eu passei grande parte do meu período na TV Globo fazendo jogos e finais do Paulista, então tem esse aspecto de um campeonato que de uma forma tem uma ligação com a minha voz, com o que eu trabalhei, que eu transmiti.

Cléber ao lado de seus novos companheiros de transmissão, Dodô e Renato MarsigliaDIVULGAÇÃO RECORDTV

O seu contrato é de apenas um mês na Record TV. Você está livre para escolher seu caminho, depois de 35 anos em um mesmo lugar. Já é cogitado em várias emissoras. Qual é a sensação de ter liberdade de escolha? E o que vai pesar para a escolha do seu futuro profissional?

É... A gente fez um acordo para esses dois jogos finais do Campeonato Paulista.

Tem algumas coisas encaminhadas. Mas não foi uma chuva de convites. É muita especulação. Mas de prático, eu tive um, dois. Vá lá, dois e meio. Mas nada assim muito espetacular.

Eu nunca imaginei precisar ter liberdade para escolher nada. Eu imaginei que iria me aposentar onde eu estava. Sei lá, depois da Copa do Mundo de 2026.

É um mundo novo, que exige atenção, conversa, perspectivas, quais são...

A questão da sua vida (pessoal). Como eu te falei, eu não fiquei em nenhum momento, graças a Deus, fiquei abatido amargurado, ficar sem conversar com ninguém, não quero sair da cama (quando saiu da Globo)...

Aconteceu, agora vamos conhecer esse novo mundo...

Fonte: R7 Notícias


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