Após morte e apreensões no ES, bromazolam entra para a lista de substâncias proibidas da Anvisa

Substância entrou para o rol de drogas proibidas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em dezembro de 2022. Até então, estar em posse da substância não era considerado tráfico.

A morte de um DJ de 37 anos na Serra, Grande Vitória, em julho de 2022, e uma sequência de duas apreensões de drogas sintéticas, nos municípios de Guarapari e Vila Velha, foram o pontapé inicial para a descoberta de uma nova droga que começou a ser comercializada no país, o bromazolam.

A substância, que já é relacionada a mais de 200 óbitos nos Estados Unidos, ainda não tinha sido registrada no Brasil, e passou a entrar no rol de drogas proibidas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por meio do trabalho da perícia da Polícia Civil do Espírito Santo.

De acordo com a Polícia Civil capixaba, o homem que morreu no motel de Jardim Limoeiro, na Serra, não tinha sinais de violência no corpo e, no local do óbito, havia indícios do uso de substâncias ilícitas. A partir disso, na época, levantou-se a hipótese de uma intoxicação.

O corpo então foi encaminhado ao Departamento Médico Legal (DML), onde a médica legista Ana Paula Knak fez a necropsia do cadáver, coletando sangue, urina e conteúdo estomacal para enviar ao laboratório.

"Identificamos a substância [bromazolam] na amostra que foi encaminhada pela medicina legal. Para nós foi uma novidade, porque era uma substância que até então nunca tínhamos identificado no laboratório de toxicologia", pontuou a perita Daniela de Paula, chefe do Departamento de Laboratórios Forenses.

Bromazolam: substância é proibida pela Anvisa em todo o Brasil após apreensões no ES — Foto: Reprodução/Polícia Civil

Como não havia relatos dessa substância por aqui, os peritos do Espírito Santo começaram a pedir ajuda das polícias civil e federal de outros estados, mas ninguém tinha apreendido algo do tipo até aquela época.

A partir daí, a equipe buscou parcerias com universidades para confirmar o que era a substância encontrada.

"Para que a gente pudesse definir este caso, foi importante a participação do professor José Luiz da Costa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pois lá ele tinha o padrão dessa substância, que é importante para que a gente possa fazer a comparação. Utilizando isso, foi possível concluir e definir quanto tinha no organismo daquele indivíduo", detalhou Daniela.

Descoberta da primeira morte do Brasil por bromazolam

Bromazolam, droga sintética apreendida no ES — Foto: Reprodução/TV Gazeta

De acordo com a polícia, no organismo do homem morto, conforme os exames, havia álcool, sertralina, viagra, cocaína e bromazolam. Sabendo disso, a perícia concluiu que a substância estava relacionada e contribuiu para esse óbito, se tornando o primeiro caso registrado aqui no Brasil.

"O que a gente sabe é que não é uma substância de uso terapêutico para tratar doença nem nada do tipo. Não é comercializada no mundo. E geralmente ela não é encontrada nas vítimas de forma isolada, com o uso sozinho, como foi o caso dessa vítima da Serra, que não tinha só isso na corrente sanguínea dele. Então, não dá para afirmar que foi somente o bromazolan que causou esse óbito, mas ele contribuiu", disse a médica legista Ana Paula Knak.

Rol das substâncias proibidas

Bromazolam: substância é proibida pela Anvisa em todo o Brasil após apreensões no ES — Foto: Reprodução/Polícia Civil

Com a descoberta da morte e outras apreensões que aconteceram logo em seguida, em julho e dezembro de 2022, a perícia do Espírito Santo comunicou o perigo para a Anvisa, responsável por realizar a listagem das substâncias proibidas e que têm um controle especial no nosso país.

O comunicado foi feito em novembro, e, em dezembro, o bromazolam entrou para a lista, segundo a perita Daniela.

"Até aquele momento (antes de estar na lista), o bromazolam, se fosse pego com um traficante, não seria considerado tráfico. Acho que foi essa a contribuição que o Espírito Santo deu, porque permite que, agora, as apreensões já sejam caracterizadas como tráfico de drogas", afirmou.

Outras apreensões

De acordo com a Polícia Civil, dois dias depois da morte do homem no motel, 3.596 selos contendo um pó foram encontrados com um suspeito em Guarapari. Ele estava com outras drogas, por isso acabou preso. Os selos foram encaminhados para a perícia no dia 20 de julho e aí, juntamente com pesquisadores da Unicamp e da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), descobriram que se tratava do bromazolam.

Ainda de acordo com a polícia, em outubro teve mais apreensão, mas de pouca quantidade, na Praia da Costa, em Vila Velha. Em fevereiro deste ano, outra pequena quantidade foi achada com um suspeito em Guarapari.

Como a droga é usada

Bromazolam: substância é proibida pela Anvisa em todo o Brasil após apreensões no ES — Foto: Reprodução/Polícia Civil

O perito Victor da Rocha Fonseca, do Laboratório de Química Forense, no exterior, as pessoas comercializam no formato de pó ou comprimido. Nas amostras encontradas no Espírito Santo, elas vieram de forma diferente, em selos.

"São selos em papel. Desses selos, são extraídos pequenos selos e a pessoa faz a ingestão sublingual. Eles colocam esse papel em contato com a mucosa, embaixo da língua, vai ter a absorção da substância que vai ser direcionada à corrente sanguínea", relatou o perito.

Efeitos desconhecidos e combinada com outras drogas

Bromazolam, droga sintética apreendida no ES — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Segundo o perito do Laboratório de Química da polícia Forense, Victor da Rocha Fonseca, os efeitos desta droga ainda são desconhecidos. Além disso, ela é usada combinada com outras substâncias, como a cocaína e o fentanil, podendo causar reações ainda maiores.

Ela é da mesma classe de medicamentos do Rivotril, Clonazepam, então são depressoras do sistema nervoso central. Têm uma efeito de sedação e são antidepressivos", disse o perito.

Fonte: G1

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