![]() |
Anne Marjorie — Foto: Reprodução/Instagram |
No dia 3 de abril, Anne Marjorie, âncora do Bom Dia RN, da Inter TV, afiliada da Globo no Rio Grande do Norte, apresentou o telejornal e foi tomar café na lanchonete da emissora. Mas o que era para ser um dia normal, como outro qualquer, virou o dia em que ela sofreu um ataque cardíaco sintomático aos 40 anos.
"Gosto muito de sentar no cantinho que tem sol, porque passo duas horas e meia ao vivo", recorda ela, em conversa com Quem, horas antes de fazer uma ablação por cateter (procedimento minimamente invasivo no qual o médico passa um cateter pelos vasos sanguíneos até o coração a fim de destruir/ neutralizar as vias elétricas anormais do tecido cardíaco).
Mas, naquele dia, Anne se sentiu estranha, com uma dor esquisita no braço esquerdo e os batimentos cardíacos acima do normal. "Andei pela emissora e jurava que era um pico de estresse porque a gente vinha de uma pressão muito grande por conta dos atentados no RN. Tudo aquilo mudou minha rotina. Ao mesmo tempo, fazia dez dias que eu tinha vivido uma sensação que fazia anos que não vivia. Fui noivar em São Miguel do Gostoso e fiquei com meu companheiro [o advogado Rubem Martins, de 40] dentro d'água, relaxando. Tinha sido tão bom!", comenta.
Anne lembra que, além da dor esquisita no braço esquerdo e do coração acelerado, começou a sentir uma tontura. "A dor no braço esquerdo lembra uma dor muscular, mas foi irradiando, é um incômodo muito grande, como se alguém tivesse subido em cima do meu braço. Com o avanço dos sintomas, a respiração foi ficando mais curta e minha angústia aumentou", afirma.
Socorro
Como sempre foi saudável e não apresenta nenhum fator de risco para ataque cardíaco (obesidade, hipertensão e diabetes, entre outros), Anne afirma que, em um primeiro momento, as pessoas não deram muita atenção ao que ela estava sentindo. "Todo mundo falou: vai passar. Ainda existe muito preconceito em torno da idade, uma idealização de que tem que ser acima do peso ou mais velho para ter algo no coração. Me deram gelo para segurar... Mas conheço meu corpo e sabia que tinha algo errado. Meu coração parecia que ia pular do meu corpo", recorda.
Anne diz que sua frequência cardíaca chegou a 220 batimentos por minuto. "Quando estava na Inter TV, eu só pensava que tinha um jornal para colocar no ar no dia seguinte. As demandas não paravam de chegar. Eu pensei: vou respirar bem e vai dar certo, mas a palpitação estava insuportável. Digo que meu coração teve um burnout e eu não queria ouvir porque precisava responder aquelas demandas", afirma.
Vulnerabilidade
A jornalista, que já foi vítima de violência doméstica no passado, conta que nunca tinha sentido nada parecido antes. "E já passei por situações limítrofes, já fui sequestrada, passei por cárcere privado. Já aguentei tanto. Essa história de ser guerreira e forte é a pior coisa que pode existir. Não quero mais ser forte, quero ser vulnerável. Eu quero que a minha vulnerabilidade seja respeitada. Por conta de eu ser tão potente, meu corpo disse: 'vou parar agora, você não está me respeitando'", avalia.
Apesar de seus sintomas estarem sendo negligenciados, Anne contou com a sensibilidade da amiga e colega de trabalho Ana Paula Davim, que é filha de cardiologista e identificou que os batimentos dela estavam anormais. "Cheguei perto da Ana e ela botou a mão no meu coração e falou que aquilo não era batimento de uma pessoa em repouso e ligou para o pai. A partir daí, tudo piorou muito. A dor no meu braço esquerdo começou a aumentar, passei a ver tudo muito escuro. Se eu não tivesse falado com a Ana, eu iria negligenciar", diz.
![]() |
Anne Marjorie com os filhos Davi, de 20 anos, e Dom, de 7 — Foto: Reprodução/Instagram |
Coração 'resetado'
Anne então foi examinada pelo pai da amiga e correu para o hospital. "Vi a equipe inteira em cima de mim para me reanimar. Nessa hora veio tudo na minha mente, caiu minha ficha. O que tive não foi um infarto, foi uma taquicardia supraventricular. Precisaram 'resetar' meu coração porque ele não estava diminuindo a frequência. Quando reseta, colocam uma substância na veia e a pessoa tem a sensação de quase morte. Meu noivo me contou que foi muito angustiante. E eles vendo tudo, mas sendo fortes. Só depois de seis horas que meu coração começou a bater mais adequadamente, mas ainda com oscilação", explica.
Nesta terça-feira (11), Anne passou por uma ablação por cateter. "O ataque cardíaco engloba várias situações. No meu caso foi taquicardia supraventricular. Não infartei. Agora é torcer para que dê certo o procedimento, para que eles consigam corrigir o ritmo do meu coração. Não dando certo, vou ter que usar marcapasso (aparelho implantado perto do coração, com o objetivo de monitorar e controlar os batimentos cardíacos). Acredito vai dar tudo certo", conta ela, que é mãe de dois filhos: Davi, de 20, e Dom, de 7, de uma relação anterior.
A jornalista aproveita para fazer um alerta às mulheres. "Passou mal, não vá ao Google. Vá direto para o pronto-socorro. Quando passei mal, as pessoas logo falaram: 'passou, né? passou?' Não passou, não, está sangrando, está doendo. Os movimentos da vida, da carreira vão nos engolindo todo dia e vamos nos permitindo ser engolidos pelo sistema. Agora estou lendo um livro da dra. Ana Claudia Quintana Arantes, 'Pra Vida Toda Valer A Pena Viver', em que ela diz: 'chegou o momento de não mais escrever sobre o final feliz. Quero jogar luzes sobre o durante feliz'", conta.
"O final feliz pode ser agora. Estou aqui desde às 11 da manhã esperando para fazer um procedimento e pode ser que nunca mais fale com você. Vão colocar um cateter no meu coração e pode acontecer muitas coisas. Quero que o meu durante seja feliz. Fiz 40 anos agora, no dia 5 de março, e quinze dias depois perdi uma tia com um câncer de pâncreas. É tudo muito rápido. Temos que ser felizes agora", opina.
Nesta quarta-feira (12), Anne atualizou seu estado de saúde após ser submetida à ablação por cateter. "Na UTI, me recuperando da cirurgia que, segundo o médico, 'não foi fácil', mas deu tudo certo! Em breve, volto para dar mais notícias! Todo meu amor a cada pessoa que mandou amor para esse processo", contou a jornalista nos Stories do Instagram.
Colapso cardíaco
Procurado por Quem, o cardiologista Ronaldo Vasque, professor do Instituto Paulista de Treinamento e Ensino (Iparte) e diretor do Hospital Santa Ana, explicou que ataque cardíaco é a expressão usada por leigos para designar a falência do coração, que pode ser causada por infarto, doença da musculatura do coração e doença no sistema nervoso do coração, como a taquiarritmia, que foi o quadro de Anne. Segundo os profissional, os médicos não utilizam o termo 'ataque cardíaco', mas sim colapso cardíaco.
"Existem várias comorbidades que podem levar a um colapso do coração. Segundo o dicionário Aurélio, colapso trata-se de um substantivo masculino, que significa um estado de choque por uma debilidade orgânica, pela sua ruína, enfraquecimento, que leva à insuficiência cardíaca, que pode ser acompanhada de perda de consciência ou não", explica o médico.
"O ataque cardíaco, como as pessoas que não são profissionais de saúde chamam usualmente, pode ser um infarto do miocárdio, que leva a um colapso, mas também pode se referir a outras comorbidades, que também levam à insuficiência do órgão. De uma maneira geral, o uso da referência ataque cardíaco, dependendo do caso, pode estar diretamente relacionado ao infarto agudo do miocárdio", acrescenta.
![]() |
Anne Marjorie atualiza quadro de saúde após ablação — Foto: Reprodução/Instagram |
Fonte: G1