Caso Kauã e Joaquim: Psiquiatra afirma que Georgeval não tem doença mental nem psicopatia


Médico forense foi ouvido no júri popular do pastor como testemunha de defesa, nesta terça-feira (18)

Hewdy Lobo Ribeiro afirmou que, além de analisar o comportamento do pastor dentro da prisão, ouviu pessoas que haviam convivido com ele. (Reprodução de vídeo)

O psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro depôs por videoconferência no primeiro dia de júri popular de Georgeval Alves Gonçalves, no Fórum de Linhares, nessa terça-feira (18). Segundo o especialista, o pastor não tem doenças mentais ou distúrbios de personalidade. Segundo ele, também não apresenta características de psicopatia.

"Nessa primeira avaliação com duração aproximada de duas horas telepresencial, trouxemos que descartamos a presença de doenças mentais graves e transtornos de personalidade, de maneira preliminar e ainda não consistente e definitiva. Solicitamos que, para ter sucesso e conforto e segurança nas conclusões, compensar as limitações da avaliação, pedimos protocolos médicos que tinham atendido Georgeval nesse tempo que ele estava recluso. Os profissionais e médicos deixaram registrados nos prontuários claramente que Georgeval não apresentava nenhum adoecimento mental", afirmou o o psiquiatra forense.

Um laudo assinado por ele e revelado por A Gazeta aponta que Georgeval não tem “perfil pessoal de autor dos crimes de homicídio, tortura e abuso sexual”. Ribeiro ainda é responsável por análises de outros acusados “famosos”, como a ex-deputada federal Flordelis, condenada por matar o marido; e Adélio Bispo, responsável pela facada que feriu gravemente o ex-presidente Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral em 2018.

Segundo o médico no depoimento, foi aplicado um teste específico que identifica a psicopatia, teste este que não encontrou indícios desse distúrbio. O resultado foi confrontado com prontuários de psicólogos que atenderam Georgeval nos cinco anos em que esteve preso, o que, para o especialista, reafirma a conclusão positiva para o pastor.

"Indivíduos com psicopatia apresentam comportamento carcerário dos mais diversos (em relação à psicopatia). Ele (Georgeval) tinha comportamento adequado durante permanência no sistema carcerário."

Ribeiro afirmou que, além de analisar o comportamento do pastor dentro da prisão, ouviu pessoas que haviam convivido com Georgeval por "tempo razoável". "Essas analises mostraram o comportamento adequado dele (pastor) e bom relacionamento com o filho e o enteado", declarou o psiquiatra.

Ele foi questionado pelo advogado Pedro Ramos, que faz a defesa de Georgeval, a respeito do comportamento considerado "frio" do pastor nos dias seguintes ao incêndio. O médico disse que, pela história de vida de Georgeval, que teve uma infância difícil e cheia de traumas, é possível que ele tenha uma resiliência mental que fez com que lidasse dessa forma com situações muito tristes, como a morte do filho e do enteado.

Enquanto o médico relatava a história de vida de Georgeval, citando a morte de uma filha ainda bebê e dos dois meninos, o pastor, que estava sentado em uma cadeira de frente para um agente prisional, começou a chorar.

"Ele tem um histórico de vida de muita dificuldade. Por ele ter tido a morte desse filho e do enteado, ele também havia tido a perda de uma filha antes da perda desses dois filhos. O histórico de vida dele, de tamanhas dificuldades, ele foi desenvolvendo característica de superação. A capacidade de suportar elementos de vida tão graves tão traumáticos", disse o médico.

O psiquiatra explicou ainda que há uma ferramenta de defesa mental, inconsciente, que poderia explicar as atitudes do pastor. "São os chamados mecanismos de defesa. São meios psicológicos mentais, sentimentais, comportamentais que a pessoa individualmente, de acordo com histórico de vida, lida com questões para que as questões traumáticas ou potencialmente traumáticas sejam vivenciados da maneira menos sofrida."

O médico aponta ainda que ele pode ter, no momento do incêndio, sofrido de um episódio de dissociação, o que explicaria a atitude dele no momento do fogo. "O indivíduo diante de situação extrema pode ter um nível momentâneo e temporário de desestabilização, de dificuldade de manterem íntegros memória, atenção, capacidade de interpretação e outros fatores", apontou.


Não tem perfil de abusador sexual, diz médico

Sobre a acusação de que Georgeval teria abusado sexualmente das crianças, Hewdy Lobo Ribeiro evidenciou que indivíduos que cometem essa prática têm algum nível de agressividade, impulsividade por drogas e jogos, além de alterações emocionais. "No caso de Georgeval, ele não tem essas alterações e nem histórias de autor de crime contra a dignidade sexual", declarou durante a oitiva.

Citou ainda que não há nenhum registro de crime de Georgeval relacionado a esse tipo de crime sexual. "É uma acusação gravíssima. Pelos elementos subjetivos não tem histórico, comportamento. Nas questões objetivas não se captou nos corpos dos meninos material que tivesse a confirmação de presença de material genético de Georgeval", completou.

Sobre o PSA (antígeno prostático específico) encontrado nas coletas feitas no ânus nas crianças, o psiquiatra afirmou que teve dificuldades para saber se a substância estava de fato presente, ao ler o laudo pericial da polícia. "Meninos, independente da faixa etária, apresentam a presença de PSA", afirmou. Ele explicou ainda que o PSA é uma proteína, enquanto o espermatozoide é uma célula. "O que se tem para explicar sobre a presença de PSA é que ele era oriundo da próstata dos meninos", alegou.

Tortura

Questionado se Georgeval apresentava indicativos de que poderia ter praticado tortura contra as crianças, o psiquiatra afirmou que "um dos entendimentos teóricos da tortura diz respeito a um comportamento agressivo quer seja físico, moral ou psicológico de um indivíduo com o outro, como entre pai, filho e enteado" e que o entendimento da equipe que avaliou o pastor é de que tortura é "uma ação de longo prazo".

Destacou que não haviam indícios de agressividade do pastor com as crianças, com base em informações colhidas com pessoas que conheciam Georgeval e o desempenho das crianças na escola. "O perfil criminal dele não se enquadra no conceito de tortura", afirmou.

O juiz que preside o júri, Tiago Favaro Camata, perguntou se, caso tivesse sido feito por outros profissionais, o laudo poderia ter mostrado um resultado diferente. Hewdy Lobo Ribeiro afirmou que é possível que pessoas que usem outras metodologias possam ter resultados distintos. O juiz perguntou ainda se uma pessoa sem o "perfil criminal" imputado a ele não poderia ter cometido o crime. O psiquiatra negou, afirmando que mesmo pessoas sem perfil para cometer certos crimes podem, eventualmente, cometê-los.


Fonte: A Gazeta



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