Cerca de 86% das crianças que vivem em abrigos no país não podem ser adotadas; entenda

Mutirão no Ceará tenta facilitar a conexão dessas crianças com familiares mais próximos e regularizar 'adoções informais' feitas por parentes.

A Defensoria Pública do Ceará iniciou um mutirão para facilitar a restituição de crianças que vivem em instituições de acolhimento em sua família original. Isso é importante porque, antes de ficar disponível para a adoção em outras famílias, é preciso um trâmite para que ocorra uma reintegração familiar.

Em todo o país, quase 32 mil crianças vivem em casas de acolhimento e os principais motivos são: abandono, violência e vulnerabilidade. Desses, 86% não podem ser adotados pelo fato de não terem passado por esse processo.

O esforço da Justiça é para que a criança deixe o abrigo, de preferência no convívio de alguém da família biológica que tenha condições de acolher e cuidar, como explica a psicóloga e coordenadora de abrigo Geovana Rocha.

"Quando essa família é encontrada, é feito um trabalho de conscientização e orientação para que eles busquem a defensoria para que seja feita a regularização do pedido de guarda", falou.

Para algumas crianças que estão com a situação indefinida pela Justiça, há também a opção de família acolhedora. Esse é o caso da dona de casa Lane Brandão, que se voluntariou e ofereceu sua casa, cuidado e amor para um menino de dois anos, filho de uma adolescente em vulnerabilidade, que ainda está com o destino indefinido.

Lane Brandão se voluntariou e ofereceu sua casa para um menino de 2 anos — Foto: TV Globo/Reprodução

"A gente realmente cuida sabendo que ele vai [embora] e fica muito feliz sabendo que ele vai sair da nossa casa melhor do que chegou. Conseguimos dar um pouco da nossa essência, nosso amor e nosso carinho para ele", falou.

Regularização

De acordo com Elizabeth Chagas, da Defensoria Pública do Ceará, é muito importante regularizar esse vínculo criado apenas pelo afeto. "Muitas vezes tem os avós, os tios, primos, um parente que fica com essa criança, mas que não tem a guarda regularizada".

Esse é o caso do assistente de administração Paulo César, que cuida do sobrinho de 12 anos desde que ele era um bebê. Mas, sem a guarda, logo as dificuldades começaram a aparecer.

"Desde um atendimento no serviço de saúde, passando por uma questão que envolva o colégio [...] Eu teria mais facilidade de chegar e dizer: 'olha, eu sou o pai dele, ‘tio-pai’, aí tudo isso facilitaria nas questões mais burocráticas", falou.

A mesma situação é vivida pela costureira Francisca de Fátima Sampaio, que procurou o mutirão para formalizar a relação de avó e mãe que tem com os netos, que se tornou ainda mais próximas quando eles ficaram órfãos há cinco anos.

"Graças a Deus estou aqui para tomar conta deles e mostrar que sou a 'mãe-vó' mesmo, de verdade", disse ao Jornal Hoje.
Fonte: Jornal Hoje

 
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