A empresária Vânia Paula de Freitas, 40 anos, descobriu que o namorado a estava traindo Arquivo pessoal |
“Estava havia nove meses namorando um rapaz, quando descobri que eu não era a única em sua vida. O pior é que ele já tinha deixado alguns sinais, mas eu não quis ver.
Nos conhecemos em maio de 2018, por meio do aplicativo Tinder e, desde o primeiro encontro, nossa conexão foi imediata. Gostávamos das mesmas coisas e falávamos a mesma língua. Foi difícil não me apaixonar já de cara.
A primeira viagem que fizemos juntos foi para Maceió. Já estávamos juntos havia uns três meses, em um relacionamento sério. Eu já conhecia a família dele, os amigos e também já frequentava a casa em que ele morava com os pais.
Certa noite, no hotel, depois de um dia agitado, nos deitamos para descansar antes do jantar. Eu estava com a cabeça encostada no peito dele, enquanto ele mexia no celular. Quando, distraidamente, ele foi me mostrar algo, percebi que ele navegou entre as abas abertas. E, pasmem, uma das abas era o Tinder. Poxa, ele estava namorando comigo e ainda estava no Tinder? Como assim? Fiquei muito brava e tirei satisfação. No dia seguinte, ele me disse que tinha desinstalado.
Enfim, relevei. Mas, depois daquilo, sempre fiquei alerta e desconfiada. Confiança é algo que, uma vez perdida, dificilmente pode ser restaurada. Detesto invasão de privacidade e não sinto nenhuma vontade de estar em um relacionamento no qual não confie na pessoa. Detesto mais ainda cogitar a hipótese de ter que vigiar o celular de alguém. Ou eu confio, ou vou embora. Enfim, a vida seguiu, e eu segui com ele.
Cerca de nove meses após o início do namoro, em março de 2019, nós viajamos juntos mais uma vez. Era Carnaval e, como ambos somos empresários, conseguimos tirar alguns dias de folga para uma miniférias a dois. Depois de uma longa viagem com conexões e atrasos de vôos, chegamos exaustos ao resort que havíamos reservado. Fizemos check-in, deixamos as malas no quarto e logo fomos almoçar no restaurante do hotel.
Com a barriga cheia, era hora de começar a ver a programação para a noite. Fomos para a piscina, pedimos alguns drinks, ele baixou a programação e o cardápio do hotel em seu celular --já que essa era a única forma de ter acesso a essas informações, via QR code.
Saímos para jantar e, após ele dar uma olhada nas opções, era a minha vez de ver para escolhermos juntos o que jantaríamos. Meu celular havia ficado na bolsa, no quarto do hotel, então, ele me emprestou o aparelho. Minutos depois, meu mundo desabou quando vi uma notificação no WhatsApp dele e, por impulso, a li.
Não me recordo exatamente o que estava escrito, mas lembro perfeitamente da sensação de desespero que senti, pois era uma mensagem de uma mulher --e não era uma mensagem apropriada para enviar a um homem comprometido. Sem que ele percebesse, cliquei na notificação e comecei a ler as conversas rapidamente, por cima. Foi questão de segundos, não precisei passar minutos olhando, não, pois duas coisas que vi já foram suficientes para colocar um ponto final naquela relação. Não precisava investigar mais nada. Eu não merecia aquilo.
Ele mantinha conversas regulares e picantes com essa mulher, mas, como eu disse antes, duas coisas foram cruciais para que eu acabasse com aquilo naquela exata hora. A primeira coisa que me impactou nas mensagens foi como ele elogiava a outra mulher. E eu sentia muita falta de elogios na nossa relação, nunca ouvi dele algo como 'Você está linda!', nada disso. Estava em uma relação tóxica e não sabia. Foi só mais tarde, depois de passar por centenas de horas de terapia, que percebi o quanto minha autoestima tinha sido prejudicada por essa situação.
E eu bem ali, na frente dele, no restaurante do hotel, com o celular nas mãos. E uma das mensagens que ele enviou para a tal mulher foi a que mais cortou o meu coração: ‘Sou seu fã'. A segunda coisa que me impactou foi que ele praticava jiu-jitsu, na época. Eu sempre pedia que ele tirasse uma foto vestindo o quimono e me mandasse, achava bonito, sexy. Pedi isso dezenas de vezes. E, finalmente, um dia ele mandou. Lembro-me de como fiquei feliz, mas, acreditem, ele enviou a mesma foto, exatamente no mesmo dia, para ela também.
Só sei que, em questão de segundos, após ver essas duas mensagens, comecei a tremer, meu coração batia tão forte, tão forte, que consigo lembrar da sensação terrível como se fosse hoje. Apesar de não doer mais como antes, confesso que ainda me dá um nó na garganta só de mencionar o assunto.
Após ler tudo, mesmo sem ele perceber, já muito nervosa, joguei o telefone na mão dele e perguntei: ‘Que merda é essa?’. Ele ficou sem reação. Peguei a chave e voltei para o quarto. Lá comecei a raciocinar sobre o que faria em seguida. Ele logo veio logo atrás de mim, dizendo que não era nada do que eu estava pensando, que não havia me traído, mas não tinha mais como se justificar. Peguei minhas coisas, as malas que ainda nem haviam sido desfeitas, fui até a recepção do hotel, fiz o check-out, e ele foi atrás de mim.
Pedi que ele não chegasse perto de mim, mas nessa hora já estava em prantos. A recepcionista perguntou se eu precisava de ajuda e disse que precisava pegar um traslado de volta para Salvador. Prontamente, ela fez tudo para me ajudar. Outra funcionária do hotel me permitiu usar o computador para pesquisar uma passagem aérea e, assim, consegui voltar no mesmo dia para Vila Velha, no Espírito Santo, onde moro.
Paguei tão caro por aquela passagem que lembro que tive que dividi-la em trocentas mil vezes no cartão de crédito. Toda vez que eu recebia a fatura do meu cartão, revivia tudo aquilo. Na hora, não me importei com nada, só queria sair dali, estar em casa, no meu lugar seguro e bem longe dele e daquele cenário de terror. Minha paz não tinha preço! Não mesmo.
Enquanto isso, soube que ele ficou curtindo solteiro o Carnaval de Salvador. Depois que retornou para Vila Velha, ele ainda mandou mensagem querendo conversar comigo, mas já não queria nem ouvir a voz ou nada relacionado a ele. Me escreveu: ‘Vamos conversar. Não é para pedir para voltar, só quero esclarecer tudo'. Recusei, imediatamente, o convite para a conversa. Já não tinha mais nada a dizer.
Depois disso, algumas vezes mandei algumas mensagens para ele, dizendo o quanto me machucou, o quanto me fez mal. Até que, um dia, ele me respondeu dizendo que se soubesse que eu era tão infantil, jamais teria se envolvido comigo. Aquilo me feriu mais ainda. Fui ao fundo do poço e, depois disso, nunca mais mandei mensagem. Foquei a minha cura, em ficar bem e livre daquela relação tóxica.
Foi mais de um ano de muito trabalho para começar a conseguir levantar minha cabeça, pois ainda gostava dele! Essa situação deixou muitas feridas em mim e, dando esse relato, percebo que elas cicatrizaram, mas ainda estão lá. Não dói mais, mas jamais vou esquecer o que passei. Não tem jeito! Não sei se ele começou a namorar a tal mulher depois, não faço a menor ideia de como ficou a vida dele. Cortei relações totalmente.
Hoje, pouco mais de quatro anos depois, posso dizer que, certamente, houve muito aprendizado. Aprendi a valorizar e a proteger ainda mais minha autoestima, a amar ainda mais minha própria companhia e reforcei a crença de que não devo aceitar nada menos do que respeito, que é o que mereço! Aprendi também a identificar potenciais relações tóxicas e a ter tolerância zero para aceitar esse tipo de abuso. A cada dia acredito mais que não preciso estar em um relacionamento para ser plenamente feliz. Sou completa, eu me basto! Quem vier virá para acrescentar e multiplicar, jamais para dividir ou subtrair.
E eu que nem curtia muito usar os cardápios digitais com QR code nos restaurantes, algo muito comum desde a pandemia, hoje até agradeço pelo que aconteceu e por ter me livrado dessa relação tóxica e abusiva.”
Fonte: Marie Claire