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Lucas, de 22 anos, usou o celular para gravar a cena, que aconteceu em fazenda de multinacional em Porteirão (GO), e mostrou as imagens para os auditores do Ministério do Trabalho durante fiscalização no local.
Trabalhador rural resgatado em operação gravou agrotóxico sendo jogado sobre ele e colegas
Um vídeo gravado por um trabalhador acabou servindo como prova para ajudar ele e mais de 200 colegas que foram resgatados em março durante uma grande operação realizada em fazendas da zona rural de Goiás, acompanhada de perto pelo Profissão Repórter.
Lucas, de 22 anos, usou o celular para registrar quando um avião da fazenda em que trabalhava, em Porteirão, despeja agrotóxico bem perto de onde ele e os companheiros trabalhavam.
"Ainda quer que a gente trabalhe ainda em uma desgraça dessa. Estão pondo veneno, jogando o veneno aqui. Nós trabalhando e jogando veneno aqui, ó. Molhou todo mundo de veneno, o avião jogando veneno por cima da gente aqui", reclama ele nas imagens.
Migrante do Nordeste, Lucas deixou a esposa e os dois filhos pequenos em casa, em União do Piauí, para trabalhar nos meses de safra. Questionado por que resolveu gravar, ele afirma:
"Porque isso aí é molecagem, pô. Trabalhador hoje em dia... A gente sai de longe, deixa a família da gente lá, está confiando que vai voltar pra casa. Aí faz uma covardia daquela ali com a gente. Chega, Deus me livre, a gente morre! Como é que vai voltar pra casa?".
Depois que o agrotóxico foi jogado sobre a plantação, os trabalhadores relataram que todos sentiram dor de cabeça e coceira no corpo. Lucas também gravou os efeitos e tudo foi mostrado aos auditores do Ministério do Trabalho, que questionaram os funcionários da multinacional que é dona da fazenda.
Caco Barcellos: Falaram para a gente, agora há pouco, ali atrás, que vocês costumam lançar agrotóxico sobre o plantio.
Uatila da Silva Barbosa, gestor de operações agrícolas da BPBunge: Bom, se não tiver ninguém usando a área. Se tiver alguém na área, não pode.
Auditor fiscal: Nós temos um vídeo, que nos foi repassado: os trabalhadores estavam trabalhando na capina, foi lançado o agrotóxico praticamente sobre eles, inclusive eles passaram mal. A BP tomou conhecimento disso?
Uatila: Cara, disso ninguém tá sabendo não. Você sabe alguma coisa disso?
Funcionário do intermediário Fredison: Sei.
Uatila: Aconteceu isso?
Funcionário do intermediário Fredison: Colocaram até no grupo.
Uatila: Isso aí não tô sabendo não.
Na chegada ao local, um carro branco esperava as viaturas da polícia e as seguiu pelo fim do trajeto, o que levantou a suspeita de que a informação de que haveria operação acabou vazando. Segundo o delegado da Polícia Federal Vitor Bueno Cardoso, o motorista do veículo era o filho do proprietário, que já havia estado nos alojamentos dos trabalhadores no dia anterior.
"Tentaram alterar um pouco aí, inclusive nos alojamentos. Aquela barraca ali foi montada hoje pelos empregadores", contou.
Fonte:g1