Pediatra e oficial do Corpo de Bombeiros dão dicas para evitar situação de refluxo em crianças na fase de amamentação, prevenindo risco de crise respiratória
Foto: Divulgação / Pexel |
Depois de um caso na Grande Terra Vermelha, em Vila Velha, ter acendido um alerta, com uma bebê de pouco mais de um mês que precisou ser levada para uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) após um engasgo, o Folha Vitória ouviu especialistas para saber o que fazer nestes casos.
Episódios de engasgo e o próprio diagnóstico de refluxo não são incomuns na infância. Bebês, por exemplo, podem engasgar durante a amamentação ou mesmo um pouco após, ao golfar enquanto dormem.
A médica pediatra e neonatologista Racire Sampaio Silva, professora titular do curso de Medicina da Universidade Vila Velha (UVV), explica que esse engasgo em bebês acontece por causa do chamado refluxo gastroesofágico.
"É o retorno do conteúdo do estômago para o esôfago. Isso acontece normalmente em crianças pequenas até elas conseguirem ficar sentadas. Quando o bebê fica de estômago cheio, esse conteúdo volta para o esôfago. É por isso que depois que ele mama, é recomendável que o bebê fique na posição vertical, como se ficasse em pé", recomenda.
A médica diz que a criança deve ficar nessa posição entre 15 e 20 minutos depois que é amamentado até que se esvazie o estômago. "Isso evita que haja retorno, de forma que não reflua com facilidade", destaca.
Ela explica que quando a criança é muito pequena, ela tem o reflexo de sucção, sentindo prazer quando suga. Seguindo o instinto, ela não tem condições de demonstrar que está satisfeita.
"Como na criança, a vontade de sugar não tem muito a ver com o que cabe dentro da barriga, pode ser que aquela criança, que é pequena, mame uma quantidade maior do que caiba em seu estômago. Então, ela pode golfar com mais facilidade", descreve. Esse golfar é o refluxo da criança pequena.
A golfada, indica a médica, é um reflexo de que a barriga está cheia. "É bom que ela golfe e saia pela boca. Caso ela refluir o conteúdo e não sair pela boca, ele pode ir para os pulmões e acontecer o que a gente chama de broncoaspiração, com consequências ruins", alerta.
Para evitar essa situação, a médica diz que é preciso ficar atento à quantidade de leite consumida pelo bebê.
Para quem utiliza mamadeira, quem vai prescrever essa quantidade é o pediatra e não os rótulos das embalagens de leite.
Já para a criança que mama no peito e que engolfa, a mãe deve ficar atenta a alguns sinais que tem a ver com a própria produção de leite.
"Geralmente orientamos essa mãe, que tem uma boa produção de leite, que esvazie o peito manualmente e doe para algum banco de leite materno, e coloque o bebê para mamar no peito mais vazio. Assim, o bebê irá mamar uma quantidade menor de leite mas ele vai gastar um tempo maior. Então, a vontade de mamar vai coincidir com o que cabe na barriga", orienta.
No caso de um engasgo, Racire diz que se for uma criança pequena ou um bebê, o recomendado é utilizar a manobra de deitar a criança de barriga para baixo e fazer pressão entre as escápulas (no meio das costas), fazendo pressão dando pancadinhas para desobstruir as vias aéreas, com a mão na boca da criança, para que ela fique aberta.
Se for uma criança maior que engasga, é necessário fazer a Manobra de Heimlich, abraçando-a por trás e a enlaçando com os braços ao redor do abdome. Uma das mãos permanece fechada sobre a chamada “boca do estômago” (região epigástrica).
A outra mão comprime a primeira, ao mesmo tempo em que empurra a “boca do estômago” para dentro e para cima, como se quisesse levantar a vítima do chão. A regra é fazer movimentos de compressão para dentro e para cima (como uma letra “J”), até que a vítima elimine o corpo estranho.
Se a criança engasga e não está respirando, é necessário prestar os primeiros socorros imediatamente.
De acordo com informações da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), em crianças menores, o risco maior é de broncoaspirar alimentos em grãos ou engasgar com balas ou pequenos objetos levados à boca por curiosidade.
Sobre este assunto, a capitão Andresa, porta-voz do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo, explica que existem procedimentos simples de serem realizados e que são muito efetivos e salvam vidas.
“No caso de um bebê de até um ano, é importante dar tapinhas nas costas, mais precisamente cinco tapas entre as escápulas. Depois deve-se virar a criança e fazer cinco compressões com dois dedos no centro do peito. O operador do Ciodes, quando a pessoa liga para o 193, explica todo o procedimento”, disse.
A autoridade também explica que, se o responsável pela criança não souber o que fazer, é possível ligar 193 ou 192 que os operadores irão repassar os procedimentos.
“É imprescindível prestar socorro em casa, até porque, se o engasgo for total, não deixando passar ar, a vítima não respira e em pouco tempo entrará em parada cardíaca se não houver a liberação das vias aéreas que estão obstruídas”, pontuou.
Evite engasgos em crianças
- Deixe o chão de casa sempre limpo e tenha cuidado ao manusear alimentos em grão, assim o perigo fica longe das mãozinhas curiosas das crianças;
- - Evite dar aos pequenos alimentos como pipoca e bala, pois eles facilitam o engasgo;
- Após a amamentação, deixe o bebê em pé, no colo, por pelo menos 20 minutos antes de deitá-lo;
- Na hora de dormir, lembre-se de fazer com que o berço fique um pouco mais alto do lado em que a criança deita a cabeça;
- Deixe a criança dormir do lado direito para não comprimir o estômago após a amamentação. Isso evita as golfadas e, consequentemente, a sufocação por engasgo;
- Vigie a criança enquanto ela dorme para que as medidas de socorro possam ser tomadas em tempo hábil caso ocorra algum acidente.
Fonte: Folha Vitória