Entenda como raça de galos ficou gigante após intervenção humana


De acordo com o biólogo Helimar Rabelo, parte da explicação tem a ver com melhoramento genético, que é um processo que tem a ver com seleção e cruzamento dos animais.

No Espírito Santo, a criação de galos gigantes, com até 1,18 metro de altura, tem despertado a curiosidade de muitas pessoas. As aves já chegaram a ser vendidas por R$ 6 mil e os ovos, a R$ 1 mil a dúzia. Mas o que aconteceu com esses animais para eles ficarem tão grandes? O segredo está na alimentação ou eles crescem naturalmente?

A reportagem foi atrás de respostas para explicar porque os galos da raça Índio Gigante são tão diferentes das outras aves "normais". E parte dessa explicação tem a ver com melhoramento genético, que é um processo que tem a ver com seleção e cruzamento.

Todo animal criado para um fim comercial passa por esse processo para obter animais com as características desejadas pelo criador. Seja para chegar a uma cor em específica ou ter animais maiores, como nesse caso.


Os galos passaram por intervenção humana?

Mesmo chamando a atenção pelo tamanho, espécie de galo é extremamente dócil — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Sim. De acordo com o biólogo Helimar Rabelo, os galos ficam desse tamanho, com mais de um metro de altura, por causa da intervenção humana.

"O galo gigante é resultado de uma seleção genética. Vai cruzando os descendentes deles com outros. É uma seleção forçada pelo homem", explicou.

O biólogo Edson Valpassos explicou ainda que a seleção genética acontece por meio da reprodução entre os animais da mesma espécie, no qual sempre é selecionado aqueles que têm as melhores características.

"Essa seleção vai justamente selecionar os animais que têm características diferenciadas da maioria. É uma forma de fixar, progressivamente, animais com um genótipo desejado. No caso do galo do Índio Gigante, é a altura", disse.

O pesquisador Elsio Figueiredo, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), explica como funciona o método.

"O melhoramento genético é você definir qual a característica que quer melhorar. Então, se definir que quer melhorar a altura do indivíduo, vai escolher aqueles indivíduos com altura mais alta para serem reprodutores", define.

Ou seja, para conseguir galos mais altos, é feito cruzamento entre animais de tamanho maior. Nesse caso, é mais fácil ver os resultados, já que são características com impacto visual. "Nesses aí, a gente se refere a eles como genes de grande efeito. Esses que são visuais, que você consegue ver, como são os casos também do pescoço pelado e outros genes de cor", explica Figueiredo. O ciclo de vida curto dos frangos também facilita o monitoramento da evolução das linhagens.


Melhoramento genético é comum na fauna e flora

Val passos explicou ainda que a seleção genética não é algo novo na fauna e flora. É o caso dos bovinos, equinos e até mesmo de plantas, como o milho e a orquídea.

"O milho é uma planta originário das Américas, mas que foi selecionado pelos povos antigos, desde os astecas, através de um processo de seleção genética, no qual o consumo era baseado na cor, no sabor, entre outras características. O milho que conhecemos hoje é um processo mais avançado, resultado de um cruzamento entre as melhores plantas há centenas de anos. Se isso fosse feito hoje, não daria o mesmo resultado", disse.

O biólogo explicou também que os animais e plantas que passam por essa seleção genética costumam ter alto valor agregado, justamente por causa do investimento para ver o resultado do cruzamento entre as espécies.

"Há animais com alto valor agregado, como bois e vacas, e também plantas. A seleção genética pode demorar semanas ou anos, por isso que o custo nesta produção é mais elevado", disse.


Galos gigantes não foram feitos para brigar

Mesmo sendo criados a partir da intervenção humana, o biólogo Helimar Rabelo afirma que esses animais, no entanto, não foram feitos para brigas porque têm o coração pequeno, quase do tamanho de uma galinha normal. Ou seja, um dos fatores que ajuda a gente a ir contra um certo achismo popular de que o Índio Gigante foi selecionado pra briga.

"Para as pessoas, ele fica um galo mais potente. Mas não! Ele nem pode brigar, porque se ele se estressar muito, é comum essas aves morrerem por estresse. Então, como o coração é pequeno, apenas o tamanho do corpo é grande, eles podem enfartar brigando", explicou o biólogo.


"Galo dos ovos de ouro"

Em Vargem Alta, no Sul do Espírito Santo, o produtor Leonardo Pontini tem uma produção caseira de galos da raça Índio Gigante com cerca de 30 animais. Por lá, galos que medem 1,18 de altura são a atração.

Em um vídeo (veja abaixo), o produtor mede um dos galos, batizado carinhosamente de Loki. Em cima da mesa, a real dimensão do tamanho dos animais, com mais de 1 metro. No vídeo, ele até comenta o nome dos pais do "pequeno" Loki: Cacaroto e Perfeitinha.

Os valores dessas aves gigantes no mercado também chamam a atenção. Uma dúzia de ovos da espécie é vendida por até R$ 1 mil. O produtor contou que a ave mais cara que ele vendeu chegou ao valor de R$ 6 mil.

Apesar do lucro, hoje a criação é outra. Atualmente, Leonardo segue vendendo ovos, pintinhos, frangos e frangas, mas os galos não entram na lista porque já são considerados da família.

Sobrinha do Leo segurando um dos galos gigantes quando tinha oito anos — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

"São como animais de estimação, a gente se apega na criação, todos têm até nome", comentou Leo.

Em uma foto de quando uma sobrinha tinha oito anos, dá para ver e comparar o tamanho do animal.

"Meu maior galo hoje tem 1,18m, mas já tive de 1,20m. O Blackout, que tem 1,18m, um galo preto. Já cheguei a ter 200 aves, mas hoje o custo da criação é muito caro, a ração é cara, e eu também estou trabalhando fora.", disse o produtor.

Leo tem produção de 30 aves gigantes — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Vira e mexe alguém passa pela criação querendo conhecer os galos. O produtor contou que o galo gigante já foi criado em grande escala, mas hoje a criação é somente por hobby.

"A produção dos ovos começa em agosto e elas põem, em média, 80, 100 ovos por ano. Ovos de tamanho normal, parecido com a galinha comum, mas o desenvolvimento das aves é acelerado, elas são precoces. Enquanto um frango caipira leva 1 ano pra chegar ao ponto de abate, se for o caso, a espécie Índio Gigante com cinco meses já dava para abater, já pesaria três quilo e meio, quatro quilos, mas a gente não abate", contou o criador

O galo ficou tão famoso que até procuram para tirar fotos com a estrela do galinheiro.

"A gente recebe bastantes visitas. Muita gente que vem quer tirar foto com o galo gigante, quer conhecer, quer saber mais da raça. São aves muito dóceis, e as minhas duas filhas também ajudam na criação, elas vêm aqui, catam os ovos. Ele é o mascote da gente", comentou o produtor.


Fonte: g1 ES



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