Única das 27 unidades da federação não afetada foi Roraima. Ministro de Minas e Energia disse que vai pedir à PF e à Agência Brasileira de Inteligência que investiguem se houve ação humana.
Um apagão afetou todas as unidades da federação na manhã de terça-feira (15), com exceção de Roraima.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e o Ministério de Minas e Energia (MME), uma falha aconteceu no Sistema Interligado Nacional às 08h31.
Em entrevista, o ministro Alexandre Silveira, do MME, afirmou que o apagão foi causado por uma sobrecarga no Ceará. Ele também citou "outro evento" em local ainda não identificado pelas autoridades.
O ministro informou ainda que irá pedir à Polícia Federal (PF) e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que investiguem se o apagão pode ter sido causado por ação humana.
Veja o que se sabe e o que ainda falta esclarecer sobre o apagão nacional da terça-feira a partir dos pontos abaixo:
O que aconteceu?
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) identificou uma ocorrência às 8h31 de terça-feira, que levou a uma "separação elétrica" no sistema interligado. Na prática, as regiões Norte e Nordeste do país foram desconectadas do Sul e Sudeste.
Com o incidente, o órgão realizou uma "ação controlada" — ou seja, proposital — para evitar que o problema na rede se espalhasse.
"Houve pelo menos 16 mil MW de interrupção de energia. A interrupção no Sul e no Sudeste foi uma ação controlada para evitar propagação da ocorrência", diz o ONS.
Segundo apurado pela reportagem do g1, apenas o estado de Roraima não registrou falta de energia. Trata-se, inclusive, do único estado que não é ligado ao Sistema Interligado Nacional.
Qual foi a causa do incidente?
O ministro Alexandre Silveira apontou uma sobrecarga no Ceará como uma das razões do apagão.
"Um dos eventos já apontados pelo ONS aconteceu no norte do Nordeste, mais precisamente na região do Ceará. O outro evento possível ainda não está detectado pelo ONS", disse.
"Foi um fato que causou a interrupção nas regiões Norte e Nordeste e, por uma contingência planejada do ONS, minimizou a carga das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, para que não houvesse a interrupção total dessas regiões", completou o ministro.
Silveira também informou que irá pedir à PF e à Abin que investiguem se o apagão pode ter sido causado por ação humana.
"Por se tratar de um setor altamente sensível, além de determinar as apurações devidas e internas pelo ONS, Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] e nossas vinculadas, estou oficiando ao Ministério da Justiça, para que seja encaminhada à Polícia Federal um pedido de instauração de inquérito policial para que apure com detalhes o que poderia ter ocorrido, além de diagnosticar apenas onde ocorreu", disse o ministro.
"Vamos encaminhar tanto à PF quanto para a Abin a instauração de procedimentos para apurar eventuais dolos [ações com intenção de causar prejuízo] nesse ocorrido de hoje", continuou. "Os dados técnicos serão passados no momento adequado. Serão passados nas próximas 48 horas."
De acordo com o ministro, o sistema nacional de energia foi completamente restabelecido "exatamente às 14h49" da terça-feira, com 100% dos consumidores com serviço recuperado até o fim da tarde.
Quais foram os impactos do apagão?
Com a interrupção no fornecimento de energia, uma série de problemas foram registrados ao redor do país, tais como:
- Problemas em linhas de metrô;
- Interrupção no fornecimento de água de algumas cidades;
- Semáforos apagados, que geraram caos no trânsito;
- Escolas precisaram dispensar alunos mais cedo em algumas localizações;
- Comércios tiveram prejuízos;
- Suspensão de consultas em hospital.
Problemas em linhas de metrô
Relatos registrados em Belo Horizonte, São Paulo e Salvador apontam para impactos nas linhas de metrô. Na capital baiana, por exemplo, os passageiros precisaram deixar os vagões em que estavam e caminharem pelos trilhos.
Já em São Paulo, relatos apontaram que as linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha, 4-Amarela e 15-Prata tiveram impactos.
Com o problema, as plataformas ficaram lotadas e ônibus do sistema Paese foram acionados. Os passageiros foram orientados por avisos sonoros e pelo Agente de Atendimento e Segurança nos trens e estações.
Em nota, a ViaQuatro, concessionária responsável pela Linha 4-Amarela, informou que os trens chegaram a operar com velocidade reduzida e maior tempo de parada por conta da falha elétrica.
Já a CPTM informou que a oscilação de fornecimento de energia não afetou a circulação de trens e não houve registro de ocorrências, mas reiterou que algumas estações ficaram sem energia e precisaram funcionar por gerador. A normalização foi completa às 11h.
O Metrô de São Paulo, por sua vez, afirmou que todas as linhas já estão operando normalmente.
Interrupção no fornecimento de água de algumas cidades
O apagão também afetou os sistemas de fornecimento de água que atendem a maioria das cidades de Alagoas, segundo informou a Companhia de Saneamento. Pelo menos 77 dos 102 municípios do estado ficaram com o serviço deficitário.
No Pará e no Amapá, pessoas também relataram que o abastecimento de água estava acabando.
Ainda não há um levantamento de quantas pessoas foram afetadas pela falta de água porque o desabastecimento é parcial em algumas cidades e não afeta toda a população de cada uma delas, já que alguns imóveis têm sistema próprio como cisternas ou poços.
Semáforos apagados geraram caos no trânsito
Com o apagão, semáforos ficaram apagados em diversas regiões do país e causaram confusão e caos no trânsito. Entre os estados que registraram relatos estão: Alagoas, Amapá, Piauí, Ceará, Pará, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.
Apagão: falta de energia deixa semáforos desligados na capital paraense — Foto: Débora Soares/TV Liberal |
Escolas em algumas localizações precisaram dispensar alunos mais cedo
Devido à falta de energia, diversas escolas e universidades ao redor do país liberaram os alunos mais cedo.
Comércios tiveram prejuízos
O apagão também afetou vários comércios brasileiros. Em Manaus, por exemplo, o proprietário de uma panificadora precisou improvisar com velas para conseguir atender os clientes.
Comércio atende com luz de vela após apagão em Manaus — Foto: Jucélio Paiva/Rede Amazônica |
Já em Teresina, o proprietário de um quiosque relatou que suas vendas foram afetadas. "Dependemos de internet, de liquidificador para fazer suco, e principalmente de maquininhas de cartão e PIX", afirmou.
Hospital suspende consultas
Em São Luiz, no Maranhão, o Hospital do Câncer parou de atender nas áreas de consultas e exames após o apagão, por não ter um gerador de energia. Pessoas que esperavam atendimento precisaram ir embora.
Quando foi o último apagão nacional?
O último apagão que afetou a maior parte das regiões do Brasil aconteceu em 2014, quando um curto-circuito em uma linha de transmissão deixou Sul, Sudeste, Norte e Centro-Oeste sem energia. À época, ao menos 11 estados foram impactados.
Naquele ano, o ONS havia informado que a “perturbação no Sistema Interligado Nacional” ocorreu entre o município de Colinas (TO) e a região de Serra da Mesa (GO), provocando a interrupção do fornecimento de cerca de 5 mil MW (megawatts).
Esse, no entanto, não foi a maior interrupção de energia registrada no país. Em 2009, um apagão afetou 18 estados e algumas cidades do Paraguai, deixando quase 60 milhões de pessoas sem energia elétrica por seis horas.
Nesse caso, o motivo foi um curto-circuito que, provocado possivelmente por um raio, desligou três linhas de alta tensão que distribuíam a energia produzida na usina de Itaipu para as principais regiões do país. Como consequência, a hidrelétrica binacional foi desligada.
O que diz o Ministério de Minas e Energia?
Em nota, o MME informou que o sistema de energia já foi restabelecido.
Veja a última atualização divulgada na íntegra:
"O Ministério de Minas e Energia (MME), em atualização à situação de atendimento elétrico brasileiro, informa que o sistema nacional de energia foi restabelecido, às 14h30, restando ajustes pontuais a serem realizados pelas distribuidoras em algumas cidades".
A Pasta ainda informou que o ministro Alexandre Silveira já determinou a criação de uma "sala de situação" e lidera todo processo de retomada, bem como determinou a rigorosa apuração das causas do incidente.
O que diz o Operador Nacional do Sistema Elétrico?
Já o ONS informou, em nota, que a recomposição de energia foi concluída em todas as regiões do país às 14h49 de terça-feira.
Veja a última atualização divulgada na íntegra:
"O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) confirma que hoje, dia 15 de agosto, às 8h31min, houve uma ocorrência no Sistema Interligado Nacional (SIN) que provocou a separação elétrica das regiões Norte e Nordeste das regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste, com abertura das interligações entre essas regiões.
Houve pelo menos a perda de 18.900 MW de energia. A interrupção no Sul e no Sudeste foi uma ação controlada para evitar propagação da ocorrência.
O Operador, assim que identificou a situação, iniciou ação conjunta com os agentes para restabelecer a energia nas regiões. A normalização das cargas da região Sul foi concluída às 9h05min e nas regiões Sudeste/Centro-Oeste, às 9h33min. O SIN foi 100% recomposto às 14h49min.
As causas da ocorrência ainda estão sendo apuradas".
O que diz a Aneel?
O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, afirmou nesta terça-feira (15) que o foco do governo no momento é restaurar o fornecimento, e que "eventuais repercussões" serão definidas depois.
"Primeira preocupação que temos em um evento desse é restaurar o serviço e é exatamente isso que, nesse momento, o ministério está envolvido, o ONS, as empresas e a Aneel. Eventuais repercussões, depois que o problema está resolvido, é que nós vamos passar para essa etapa", declarou.
Fonte: G1