Família afirma que companheiro de Jenifer Carvalho foi o autor do disparo. Polícia ainda investiga se crime foi um feminicídio
A jovem Jenifer Carvalho, encontrada morta na Rocinha, fazia anotações de planejamentos para o relacionamento — Foto: Arquivo pessoal
Um caderno encontrado em uma casa na Rocinha, na Zona Sul do Rio, indica os sonhos de Jenifer Carvalho Paes, de 19 anos, encontrada morta com um tiro no peito na última segunda-feira. Em uma das folhas, a jovem fez uma lista de compras que simboliza o que esperava para a nova fase: “Compras para nossa casinha”, escreveu ao lado das iniciais J e G, com um coração no meio. Jenifer morava com o namorado na comunidade havia um mês. O desejo de construir uma família também foi expresso por ela com uma representação do que seria uma certidão de nascimento de um filho. O documento foi desenhado a mão por ela, que apontou a previsão do primogênito nascer em 2024. O homem indicado como o pai do futuro filho, no entanto, é apontado pela família de Jenifer como o suspeito do crime.
Jovem fez lista de compras para a casa nova que desejava construir ao lado do namorado — Foto: Arquivo pessoal
Jovem morta na Rocinha pretendia comprar itens para casa nova
Dentre itens que pretendia comprar para a nova casa, Jenifer marcou quatro deles, que já havia comprado: uma cama de casal — ao lado a jovem desenhou um coração —, um armário, cabides e uma cortina para o banheiro.
Segundo parentes da vítima, foi na cama de casal que ela foi encontrada morta. Na residência havia apenas os itens destacados em sua lista.
Sonho de ter filho com namorado
Em outra folha, ela também indicou que desejava ter um filho com o namorado — que é apontado pela família como o principal suspeito da morte da jovem. No que seria uma simulação de uma certidão de nascimento, Jenifer escreveu que seu primogênito se chamaria Heitor e que nasceria em 2024.
Jennifer simulou uma certidão de nascimento de um futuro filho seu com o namorado. A criança, segundo a anotação, se chamaria Heitor — Foto: Arquivo pessoal
'Local parecia um cativeiro'
Segundo a família, na manhã de segunda-feira, o namorado da jovem entrou em contato com a mãe de Jenifer, informou que ela estava morta e disse que precisavam buscar o corpo da vítima na comunidade. Com isso, a avó paterna e os pais da garota foram ao local indicado — que, segundo os parentes, parecia um cativeiro. Até então, ninguém da família havia visitado Jenifer e seu companheiro.
— O local parecia um cativeiro. Era um buraco no alto da comunidade. Subíamos por algumas vielas e descíamos uma escada num buraco. A casa era como um quarto, mas sem janela. Bem pequeno. No local, só tinha uma cama e um armário, mais nada — conta o pai: — Minha filha estava sentada na cama, com um tiro no peito. A mão direita estava aberta e a esquerda, para dentro do lençol.
Rodrigo conta, ainda, que ao lado da cama tinha uma pilha de roupas da filha e que parecia que ela tinha tido a intenção de deixar o local. Ele acredita que, durante uma briga entre o casal, o rapaz tenha atirado em Jenifer.
— O perito disse que tinha tecido nas unhas da minha filha, o que leva a imaginar que houve uma briga — deduz Rodrigo.
Namorado tinha ciúmes
A avó de Jenifer, Thania Paes, conta que a neta fez duas amigas quando se mudou para a Rocinha — foram elas que suspeitaram do sumiço da jovem e buscaram por ela.
— Essas duas meninas nos contaram que ele tinha muito ciúmes da Jenifer. Ela não podia sair, não podia ter redes sociais ou amigos. Minha neta era uma menina extrovertida, gostava de conversar com as pessoas, gostava de agradar às pessoas. Ele não se sentia bem com isso, não gostava, dizia que as pessoas queriam “pegar” ela. Então, trancava ela — lamentou a avó: — Minha neta era uma menina boa, pacata, estudava, tinha sonhos de trabalhar e conquistar muitas coisas na vida dela. Foi criada com muito amor e carinho, até apareceu esse monstro para carregá-la e fazer isso com ela.
Ao pai, a jovem chegou a relatar algumas das agressões, mas acreditou na capacidade de mudança do rapaz com o tempo:
— Dizia: 'Vou dar mais uma chance para ele, porque gosto muito dele. Ele vai mudar, eu conversei com ele'. Fiquei bem chateado com a escolha dela depois de tudo que aconteceu. Ela chegou a me mandar fotos com a cabeça machucada. Depois disso (há duas semanas), ela não falou mais comigo.
O caderno — encontrado pela polícia e por parentes na casa onde Jenifer foi encontrada morta — também conta com um trecho de uma música do grupo Exaltasamba, escrito pela garota:
“Nada que você possa falar vai curar o mal que me causou. Nada que você possa fazer vai aliviar a minha dor. Com certeza vou te perdoar, pois eu gosto muito de você”, dizia.
Qual foi a causa da morte de jovem?
A polícia investiga se a jovem foi vítima de feminicídio, mas a família já tem certeza da resposta. Segundo o pai de Jenifer, Rodrigo Carvalho, a filha vivia um relacionamento conturbado e violento. Há duas semanas, no último contato que fez com a família, a jovem alegou ter sido agredida pelo companheiro e disse precisar de dinheiro para deixar o local. Preocupado, o pai afirma ter pedido que a filha saísse logo do local e voltasse para casa, em Irajá, na Zona Norte. Alguns dias depois, porém, Jenifer desistiu de sair da comunidade da Rocinha e permaneceu ao lado do namorado.
A investigação está a cargo da 11ª DP (Rocinha). O namorado de Jenifer foi abordado quando estava em uma van. Ele ia para a casa da mãe, em Santa Cruz, na Zona Oeste. Segundo a polícia, ele não resistiu à abordagem e foi levado para a delegacia, onde prestou depoimento. Ele nega envolvimento com o crime e diz que a jovem teria se matado. A polícia, agora, aguarda novas oitivas, assim como os resultados de exames cadavérico e do local.
Fonte: g1