Agricultor usa sistema agroflorestal e planta sem irrigação

Cearense utiliza espécies da caatinga para criar ambiente favorável e produzir feijão, hortaliças e frutas

Antonio Gomides soma mais de 165 mil seguidores no Instagram e no TikTok

A partir de um plantio em consórcio com espécies da caatinga, o agricultor Antonio Gomides implementou um sistema agroflorestal em que a irrigação se tornou dispensável. A técnica consiste em combinar no mesmo terreno plantas arbóreas e frutíferas com cultivos agrícolas.

Na agrofloresta, reproduz-se um ambiente semelhante ao de uma floresta nativa para tornar o sistema sustentável, sem a necessidade de usar agrotóxicos no manejo do plantio. Dentre as técnicas implementadas nesse modelo, está utilizar em um mesmo canteiro espécies de ciclos de vida diferentes para ajudar na sucessão ecológica e na adubação orgânica.

Para manter seu ecossistema agrícola no Crato (CE), Gomides afirma que mantém seu solo sempre coberto com matéria orgânica, como folhas e galhos, além de podar as plantas na época certa e organizar os plantios com o período de chuvas. Durante a época da seca, o agricultor adota um sistema de gotejamento em parte de sua plantação.

“Irrigação é um privilégio que poucos na caatinga têm. Mesmo os que têm [água], precisam usar de forma mais consciente. Água não é para desperdício, e agricultura de modo geral consome muita água”, disse Gomides, de 36 anos, ao Poder Empreendedor. receba alertas grátis do Poder360.Por estar situado na caatinga, o agricultor combina a plantação de seus insumos agrícolas com espécies típicas da região, como palma, mandacaru e sisal, que são plantas suculentas. Gomides ressalta que a irrigação pode ser uma estratégia utilizada na época da seca para se implementar o sistema agroflorestal.

“Na chuva, o sertanejo planta milho, feijão, mandioca, macaxeira, amendoim, fava, gergelim, jerimum e até arroz. Já na agrofloresta plantamos tudo isso, junto com sementes de árvores e plantas que construam um sistema sempre mais perene, preservando o solo, não queimando, nem usando veneno”, declarou.

Antonio Gomides combina a plantação de seus insumos agrícolas com espécies típicas da caatinga, como palma e mandacaru

EMPREENDEDORISMO

Em seu sistema agroflorestal, Gomides colhe hortaliças, batata doce, mandioca, milho, feijão, mamão, manga, banana e amendoim. A expectativa é de que tenham mais frutas futuramente.

Os produtos são comercializados entre os moradores da comunidade em que vive na cidade do Crato, localizada na região do Cariri. Durante a pandemia, o agricultor organizou um modelo de entrega a domicílio de cestas de frutas, legumes e verduras sazonais. Cada cesta custa em média R$ 100 e pode conter até 20 itens.

“Vender para revenda não valoriza o produto, pois quem compra quer pagar um valor que justifique revender”, disse.

Gomides é MEI (microempreendedor individual), regime tributário cujo teto de faturamento anual é de R$ 81.000. Ele não tem funcionários, mas conta com a ajuda de outros agricultores da região que utilizam parte do terreno do empresário para criar seu próprio sistema.

Quando é necessário, Gomides paga diárias aos agricultores para trabalharem nas ações de plantio ou colheita. “Meu terreno não é grande, tem somente 2 hectares. Metade já está sendo implantada e a outra metade eu cedo para os agricultores cultivarem suas roças, e toda produção fica para eles. O que preciso eu compro”, afirmou.

Segundo Gomides, a meta é abrir MEI para todos os demais agricultores da comunidade. “Meu trabalho aqui é criar um movimento capaz de implantar sistema [agroflorestal] em todas as propriedades que desejarem, trazendo para o campo uma força capaz de mudar os rumos da agricultura, trazendo dignidade pras famílias”, completou.

Antonio Gomides planta em um mesmo canteiro espécies de ciclos de vida diferentes para ajudar na sucessão ecológica

COMO COMEÇAR

Para começar uma agrofloresta, Gomides disse não ser necessário ter um grande terreno. Segundo o agricultor, é possível aplicar os princípios do sistema em uma pequena varanda ou um pequeno quintal.

O próximo passo é investir em capacitação, diz o agricultor. Desde que começou a trabalhar com agrofloresta, há 12 anos, Gomides busca repassar seus conhecimentos sobre o método. Atualmente, ele vende cursos online para ajudar outras pessoas a produzirem seu próprio sistema. Os valores não foram divulgados.

“Empreender é difícil para todo mundo, ainda mais na agricultura de base familiar. São muitos os desafios. Tem região que é mais fácil, o consumidor já está mais consciente, tem mais mercado, mais tecnologia de mudas, viveiros, insumos, matrizes, banco de sementes”, disse.

Para divulgar seus cursos online, o agricultor usa seu perfil nas redes sociais. São mais de 165 mil seguidores no Instagram e no TikTok, com vídeos que superam mais de meio milhão de visualizações.

“Comunicar é minha natureza. Minha formação é na arte do circo. Nasci falando para o público”, conta Gomides, que nasceu em uma família itinerante, com formação no teatro e na arte popular.

AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL

A agricultura familiar ocupa uma extensão de área de 80,9 milhões de hectares, o que representa 23% da área total dos estabelecimentos agropecuários brasileiros, segundo a Embrapa, com base nos dados mais recentes disponíveis, do Censo Agropecuário de 2017. Eis a íntegra (2 MB).

De acordo com o levantamento, a agricultura familiar empregava mais de 10 milhões de pessoas em setembro de 2017, o que corresponde a 67% do total de pessoas ocupadas na agropecuária.

RAIO-X
  • faturamento de 2022: o teto de faturamento do MEI é de R$ 81.000 por ano;
  • sede: Crato (CE);
  • fundador: Antonio Gomides;
  • regime tributário: MEI;
  • ano de fundação: 2011;
  • nstagram e TikTok;
  • curso Formação Vida Vida
Fonte: Poder 360

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