Corpo encontrado em contêiner que veio do Marrocos passa por testes para identificação; entenda

Diretor do Centro de Perícias do IML do Estado de São Paulo, Enrico Andrade, explicou os procedimentos. Restos mortais foram identificados com auxílio de um scanner. Não há um prazo para a identificação do corpo.

Corpo foi encontrado em contêiner no Porto de Santos, SP — Foto: Divulgação/Receita Federal

O corpo encontrado em decomposição em um contêiner no Porto de Santos, o maior da América do Sul, passou por exame necroscópico e de DNA no Instituto Médico Legal (IML) de Praia Grande, no litoral paulista. Ao g1, o diretor do Centro de Perícias do IML do Estado de São Paulo, Enrico Andrade, explicou as outras técnicas que estão sendo usadas no processo, como a papiloscopia e análise de arcada dentária, para descobrir quem era o homem que foi encontrado no contêiner.

A Receita Federal informou que o navio saiu de Singapura, na Ásia, e passou pelo Marrocos, onde o contêiner foi embarcado. O navio fez escala em Salvador (BA) e chegou ao Porto de Santos no dia 10 de setembro.

Durante o processo de escaneamento da Receita Federal, uma imagem semelhante à silhueta de uma pessoa foi observada e a Polícia Federal (PF) foi acionada. O contêiner foi aberto e os agentes confirmaram se tratar de um corpo humano em estado de decomposição. Um inquérito foi instaurado para dar andamento à investigação.

O que está sendo feito?

Segundo o médico legista Enrico Andrade, algumas técnicas de papiloscopia [impressões digitais] são utilizadas para identificação de corpos mesmo em estado avançado de decomposição, como o caso do encontrado no contêiner. "Os traços já podem ser suficientes para identificar uma pessoa".

Uma segunda opção de método para identificação é pela arcada dentária, processo realizado por uma equipe de odontologia legal. "Você pode pegar o prontuário odontológico [dessa pessoa] e encaminhar à equipe que vai fazer a comparação dessa arcada".

O outro método utilizado, segundo Andrade, é o exame de DNA que apresenta resultados com certeza absoluta. O corpo encontrado no contêiner, por exemplo, teve a amostra de material coletado para a realização do procedimento.

Scanner da Receita Federal detectou pela primeira vez em 12 anos um corpo em contêiner no Porto de Santos, SP — Foto: Diego Bertozzi/TV Tribuna

"Possivelmente é uma pessoa que veio escondida em um contêiner, acabou falecendo no transporte por 'n' motivos [...]. Feita a extração de DNA, vamos ter o DNA daquele corpo, mas precisamos do DNA de um possível desaparecido no país de origem dele", explicou.

Além dos laudos realizados pelo IML, a PF consulta o Consulado de Marrocos para identificar se há suspeitas de quem possa ter entrado no contêiner, coleta o DNA desses familiares e envia ao Brasil para comparação.

"O trâmite só diferencia do normal pelo fato de ser de outro país, mas o processo de identificação é o mesmo realizado em corpos avançados em estado de decomposição", disse.

Causas da morte

Instituto Médico Legal (IML) de Praia Grande, SP — Foto: Reprodução/TV Tribuna

Andrade explicou que os procedimentos de necropsia identificam a possível causa da morte. No caso do contêiner, identificará se foi por sufocação, homicídio ou alguma outra causa. Já o exame de DNA, identificará quem é essa pessoa, mas depende de um outro DNA para comparação.

Os dados antropométricos são fundamentais para a obtenção de dados como a largura da bacia, a existência ou não de útero, entre outros fatores que auxiliam na identificação da raça (se é asiático, africano, por exemplo), e se era homem ou mulher.

"Necrópsia, DNA e todos os dados antropométricos foram coletados [do corpo encontrado no contêiner]. O DNA sempre identifica, mas como sendo uma pessoa, um código de barras, mas precisa daquela outra pessoa previamente identificada para ter o DNA comparado", explicou.

Investigação policial

Andrade afirmou que, neste caso, além dos exames, a identificação dependerá das investigações realizadas pela Polícia Federal. Elas serão cruciais para entender como o corpo entrou na caixa metálica. Esses dados concluirão se o homem era brasileiro ou estrangeiro.

"Essa informação vai ser de extrema importância porque todo processo de identificação é comparativo com um arquivo, ou seja, com dados existentes de outra pessoa", disse. Não há um prazo para a identificação do corpo.

Destino do corpo

O diretor destacou que a Vigilância Sanitária determina que um corpo não fique no IML por mais de 72 horas após a chegada.

Após a coleta de todos os materiais necessários, o cadáver é liberado à família para o sepultamento. Quando não há família ou confronto do DNA, ele é enterrado em uma localização identificada para, se necessário, realizarem a exumação e transferência.

Andrade explicou, ainda, que o IML tem um equipamento para refrigeração dos corpos, mas que em alguns casos, como as mortes da Operação Escudo, o local fica com superlotação. "Chega uma hora que não tem mais onde colocar e existe essa legislação sanitária de que os corpos não reclamados, mesmo que identificados, devem ser enterrados em local sinalizado".

O g1 entrou em contato com o Consulado de Marrocos, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

Escaneamento apontou a presença de uma silhueta de corpo humano dentro de contêiner no Porto de Santos, SP — Foto: Receita Federal/Divulgação

Fonte: G1

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