Por que o sertanejo recebe outros ritmos em seus festivais, mas fica de fora de eventos de pop e rock?

 

Empresários analisam motivo e citam 'público eclético do sertanejo' e 'estigma do ritmo de ser uma música caipira e muito popular'.



Shakira, A-ha e Mariah Carey já se apresentaram na Festa do Peão de Barretos. Demi Lovato, Liam Payne e Alok subiram ao palco do Villa Mix Festival. Anitta, Ludmilla e JetLag foram algumas das atrações do Farraial.

São exemplos de artistas de outros ritmos musicais que passaram por rodeios e festivais sertanejos. No último final de semana, Lynyrd Skynyrd entrou para essa lista ao se apresentar no Jaguariúna Rodeo Festival, mesmo evento que trouxe o Creedence Clearwater Revisited, em 2006.

O inverso, porém, nunca aconteceu. Grandes eventos como Rock in Rio, The Town e Lollapalooza já se abriram para o funk (antes ignorado), mas seguem com portas fechadas para o sertanejo. Não importa se o ritmo domina as paradas das plataformas de streaming e rádios.

Em 2022, rolou um aceno de Roberto Medina, criador do Rock in Rio, para incluir o sertanejo no festival. Na época, o empresário chegou a citar o nome de Luan Santana, que afirmou ao g1 que seria "uma honra estar no Rock in Rio, levando minha música pra Cidade do Rock".

Agora em 2023, na versão paulista do festival, Luan não esteve presente  nos palcos, mas apareceu no The Town para curtir o show de Bruno Mars. Nos bastidores, ele ainda posou para fotos com Roberto.

Roberto destaca: "A gente não tem nada contra sertanejo. Absolutamente. É uma questão de ir sentindo o público. É um festival mais pop rock, em termos de direcionamento de curadoria. E tudo bem, assim como temos o Villa Mix que é um evento incrível que é de sertanejo e ótimo. O bom é que o público possa ter variedade de oferta e não precisa estar tudo no mesmo lugar."


Bruno Mars abriu a porta para o sertanejo? 

Luiz Restiffe, sócio-diretor da agência Inhaus, criadora do festival Farraial, acredita que esse tipo de acontecimento possa "abrir outros olhares para produtores de eventos, dependendo da receptividade do público, e para se destacar no mercado".

"Todo artista internacional que vêm ao Brasil procura elementos que gerem conexão com seus fãs brasileiros. Estas rupturas são extremamente necessárias para trazer novas experiências aos frequentadores de shows que são cada vez mais sedentos por novidades."

Já o empresário Marco Antônio Tobal Junior, acredita que o episódio do Bruno Mars não vai mudar essa realidade.

"Ele resolveu fazer uma homenagem aos brasileiros e escolheu um hino da música popular brasileira, 'Evidências' de Chitãozinho e Xororó. Realmente foi incrível e emocionante, mas não vejo a mentalidade dos empresários e nem do público, mudando por conta desse episódio."

Tobal é sócio-diretor do Grupo São Paulo Eventos, que compreende o Villa Country, tradicional casa de música sertaneja, além do Espaço Unimed e Expo Barra Funda.



Sertanejo é eclético

Para Tobal, os empresários sertanejos abrem espaço para outros gêneros em seus eventos com o intuito de tornar a festa mais diversificada e abrangente. "A ideia, nesse ponto, é impactar o maior número de pessoas, não apenas aquelas do nicho sertanejo", diz.

A questão, como ele mesmo cita, é que o público do sertanejo, na maioria das vezes, é eclético e está sempre aberto a ouvir outros gêneros, facilitando esse intercâmbio musical.

"É um território que tem a música sertaneja como pano de fundo, mas que não há preconceitos em relação aos outros estilos. Mas é fato que o contrário não ocorre."

Luiz Restiffe também acredita que o perfil eclético do público sertanejo contribua para um festival mais diversificado.

"O sertanejo universitário trouxe um público mais eclético para estes eventos, portanto viu-se a oportunidade de expandir os estilos musicais com setores e palcos diversos, e artistas que conversam também com o fã desta vertente, como música eletrônica, artistas e bandas pop, e também o funk", analisa.

Tobal ainda diz que um dos motivos para as portas fechadas para o sertanejo seja o estigma do ritmo de ser uma "música caipira e muito popular".
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