Bezerro com 'escamas': caso raro de doença surpreende

Resultado da má formação é uma pele grossa e quebradiça; doença costuma levar à morte — Foto: Arquivo Pessoal

Um caso raríssimo de ictiose fetal foi identificado em um bezerro nascido no início de outubro, na Chácara do Palmito, em Arroio Grande (RS), a 45 quilômetros da fronteira com o Uruguai. Também chamada de ictiose arlequim, trata-se de uma enfermidade de origem genética e costuma levar a óbito logo após o nascimento do animal, como foi o caso registrado no interior do Rio Grande do Sul.

Para descobrir de que doença se tratava, o pecuarista Cláudio Feijó das Neves, dono de um rebanho de 45 cabeças de gado de corte, mandou as imagens do bezerro enfermo a um grupo de produtores rurais seus conhecidos. De lá, foram para o perfil de Maiane Engelhardt, que se apresenta na internet como produtora rural, cantora e influenciadora digital, de São Gabriel da Palha (ES), para em seguida viralizarem nas redes sociais.

Ao receber o vídeo de um ex-aluno, o veterinário Luiz Carlos Marques, professor aposentado do campus de Jaboticabal da Unesp (Universidade Estadual Paulista), achou melhor ir aos livros especializados em dermatologia animal para se certificar sobre o que se tratava.

“Em 50 anos de atuação profissional, nunca tive contato com bovinos com esse tipo de ictiose. Parece ser uma doença de cunho genético, não contagiosa, mas somente um exame laboratorial poderia confirmar”, diz o veterinário. “A ictiose é resultado de uma deposição de ceratina na pele, por isso também é chamada de paraceratose, e é uma aberração genética, mas não sabemos quais genes estão envolvidos, teria de ser feito o sequenciamento genético, o que custa caro e levaria vários anos”, afirma o veterinário, hoje consultor de algumas propriedades de animais de elite.

No livro que Marques usa de referência, Large Animal Dermatology (Dermatologia de Grandes Animais), escrito pelo norte-americano Danny Scott, é descrita como uma doença que costuma levar à morte bovinos e suínos, logo após o nascimento, como foi o caso deste bezerro.

O resultado dessa má formação é uma pele grossa e quebradiça, como mostram as imagens captadas pelo proprietário.

“Ainda que várias formas de ictioses em seres humanos tenham sido tratadas com sucesso por meio de medicamentos tópicos, como propileno glicol e ácido láctico, terapias desse tipo parecem ser inviáveis em bovinos e suínos”, escreve Scott, que menciona casos registrados em várias espécies de gado de origem europeia.

No caso do bezerro de Arroio Grande, conta Cláudio Feijó das Neves, trata-se de um bezerro resultado do cruzamento de uma fêmea meio-sangue Bradford e um touro de origem desconhecida, provavelmente de uma propriedade vizinha.

“Pesquisei na internet e mostrei para vários veterinários, para tentar confirmar que doença era, mas não conseguia descobrir e os veterinários diziam nunca ter visto nada parecido. Minha preocupação era que fosse contagiosa, mas não é, não”, diz Neves, que recebeu as primeiras indicações de ser uma ictiose de uma produtora uruguaia. “A vaca que pariu está com uns seis anos, mas essa foi a segunda cria, sendo que o primeiro terneiro, hoje com três anos, nasceu muito bom”, diz o produtor gaúcho.

Fonte: Globo Rural 


Postagem Anterior Próxima Postagem