Sistemas agroflorestais juntam plantio e regeneração de ecossistemas

Foto: SEMIL

Estimular a produção de alimentos e o manejo da terra ao mesmo tempo e no mesmo espaço em que se recupera a vegetação nativa pode parecer inconciliável, mas, na verdade, já é uma realidade nas propriedades que adotam Sistemas Agroflorestais (SAFs) no Estado de São Paulo.

Este modelo de cultivo, estimulado pela Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), tem contribuído para mudar a realidade da agricultura familiar pela capacidade de produzir uma quantidade maior de metros quadrados do que os sistemas tradicionais, além de permitir a regeneração de ecossistemas a partir da reintrodução de espécies nativas, e garantir a redução da aplicação de defensivos agrícolas.

O conceito do Sistemas Agroflorestais é relativamente simples: as árvores nativas convivem em harmonia com espécies que têm relevância agronômica, como plantas frutíferas ou hortaliças, e com espécies forrageiras, utilizadas para alimentar os rebanhos. Assim, o solo é recuperado, ganha mais nutrientes, a cada ciclo de colheita, e fica mais resistente aos eventos climáticos extremos; o escoamento da água para o lençol freático é ampliado e, como consequência, há um reequilíbrio da fauna e da flora.

“Esse é o princípio que norteia a nossa ação, a regeneração da floresta, por meio de uma economia viável e mais sustentável”, avalia o subsecretário de Meio Ambiente, Jônatas Trindade.

Adepto do sistema desde 2011, o produtor José Ferreira da Silva, do Assentamento Mário Lago, em Ribeirão Preto, resume as agroflorestas em três princípios – cobertura de solo, sucessão e estratificação – “São intervenções que permitem muitas espécies por metro quadrado, vamos manejando e deixando as que queremos”, acrescenta ele, que foi um dos participantes de uma das oficinas oferecidas pela Semil.

Nesta combinação, vegetais são cultivados em um mesmo espaço, e de acordo com o seu ciclo de vida (sucessão); árvores nativas são inseridas para maior proteção das espécies menores e do solo (estratificação); e o solo é enriquecido ou protegido de chuvas e do sol com folhas, galhos, raízes e cascas da própria agrofloresta ou até mesmo com rejeitos de podas urbanas. A sucessão também gera as chamadas placentas – plantas com ciclo de vida de, no máximo, um ano que, depois de dar frutos ou tubérculos, podem ser aproveitadas para cobertura de solo.

Outro ganho ambiental importante é a quase inexistência de agrotóxicos, considerados necessários na maioria das monoculturas. “O segredo é plantar com adubação verde e ter placenta para preparar o solo. Também uso muita poda. É isso, além de diversidade e planejamento, que se quer para cada sistema: fruta, horta, madeira ou animais”, afirma o produtor, que produz diversas frutas e leguminosas em quatro hectares próximo a uma cabeceira de nascente.

“É um modelo que copia a natureza, gosto de chamar de biomimética”, complementa Gilberto Ohta de Oliveira, produtor rural em Sete Barras, no Vale do Ribeira, que começou a deixar a monocultura de banana e gengibre, em 1999, e hoje produz diferentes variedades de banana, jussara, palmito pupunha, grumixama, pitanga, cajá-manga, limão e cambuci.

Além do cultivo, Otha também abriu quase 3 mil metros de ecotrilha, onde podem ser observadas exemplares da flora da Mata Atlântica, e viabilizou o que ele mesmo define como “agro relaxo”: deixa a natureza se encarregar do processo, fazendo pequenas intervenções. “Assim eu tenho mais ócio e qualidade de vida, que são coisas que não entram na conta”, brinca.

Ohta, que é associado da Cooperativa da Agricultura Familiar de Sete Barras, aponta outras vantagens dos Sistemas Agroflorestais: a margem de lucro é melhor, pois o custo de produção por metro quadrado tende a cair com a agrofloresta consolidada, e o sistema favorece o associativismo, o empreendedorismo e a emancipação dos produtores rurais. “É preciso ter uma organização da sociedade para ter continuidade. Nos sistemas agroflorestais, geralmente os agricultores se organizam em cooperativas e negociam direto com o atacadista ou o varejista”, explica.

Fonte: SEMIL


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