Lobos de Chernobil desenvolveram mutação que os protege do câncer; entenda

Lobos de Chernobil desenvolveram mutação que os protege do câncer — Foto: Michael LaRosa/Unsplash

Em 1986, ocorreu o acidente nuclear de Chernobil, que fez com que a região se tornasse uma das mais radioativas do mundo. Foi criada, inclusive, uma zona de exclusão, que corresponde a uma área de 4.200 km² não considerada segura para habitação humana – mas que, apesar disso, apresenta um ecossistema completo, com grandes predadores como o lobo-cinzento.

Pesquisadores têm realizado estudos para entender como essas populações vivem em meio à radiação de Chernobil. Um trabalho liderado por Cara Love, bióloga evolutiva e ecotoxicologista da Universidade de Princeton, indica que os lobos-cinzentos da zona de exclusão são geneticamente diferentes de lobos-cinzentos encontrados em outros locais. Mais do que isso, os resultados sugerem que os lobos de Chernobil desenvolveram mutações que aumentam as suas chances de sobrevivência ao câncer.

As descobertas foram divulgadas em janeiro de 2024 no Encontro Anual da Sociedade de Biologia Integrativa e Comparada, em Seattle, nos Estados Unidos. Para chegar às conclusões apresentadas, foram necessários dez anos de investigação, de acordo com o site IFL Science.

Em 2014, a equipe de Love colocou coleiras com GPS em alguns dos lobos – assim, seria possível saber a localização geográfica e o nível de exposição à radiação em tempo real. Eles descobriram que os lobos-cinzentos da zona de exclusão de Chernobil recebem cerca de 11,28 milirem de radiação a cada dia (seis vezes mais do que o limite legal para trabalhadores).

Também foram coletadas amostras de sangue dos animais. “Olhamos para a composição das células sanguíneas porque há várias células de defesa que circulam no corpo, e elas podem ser um indicativo de diferentes tipos de estresse ou doença”, explica Love em entrevista à rádio NPR. “E também exploramos várias infecções por parasitas e patógenos nesta população em comparação com populações de referência."

Os dados obtidos foram comparados com os de lobos-cinzentos de uma área de proteção na Bielorrússia e do Parque Nacional Yellowstone, nos Estados Unidos. Os resultados indicam que os lobos-cinzentos da zona de exclusão têm uma alteração no sistema imune que é similar àquela vista em pacientes com câncer que fazem radioterapia. A análise genética ainda sugere que o genoma dos lobos pode ter desenvolvido uma resiliência ao câncer.

Observou-se ainda que, mesmo com a radiação constante, a população de lobos-cinzentos na zona de exclusão de Chernobil é sete vezes mais densa do que as populações de lobos-cinzentos encontrados em áreas de proteção da Bielorrússia. Não se sabe exatamente quais fatores explicam esse fato, mas os pesquisadores acreditam que possa estar relacionado à ausência de humanos na região e às características genéticas dos lobos de Chernobil.

Fonte: O Globo


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