Média de trotes desse único telefone é de mais de duas ligações por dia, entre 2019 e 2023. Se considerado o número total de trotes feitos para o serviço médico, são mais de 240 ligações mentirosas todos os dias no estado, no mesmo período.
Central do Samu-192 na Serra, ES — Foto: Divulgação |
Um único número foi registrado como fonte de 4.386 ligações falsas para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) entre 2019 e 2023 no Espírito Santo, o que dá uma média de mais de dois acionamentos por dia. Os números são da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa).
Só no Espírito Santo, o Samu recebeu ao todo, desde 2019, 2.859.916 ligações. Desse total, 439.902 foram de trotes, o que representa 15% do total de chamadas. A secretaria não divulgou o número de onde partiram os 4,3 mil trotes, por proteção de dados, mas informou que o telefone fica registrado em sistema.
Com duas décadas de atividade, o Samu é uma importante porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto, as ligações falsas ainda são uma realidade no atendimento diário dos profissionais que atuam nesse serviço.
Ocupar um atendente com uma ligação falsa ou, até mesmo, provocar o deslocamento de uma unidade de atendimento pode prejudicar diretamente quem precisa de socorro médico, e pode ser considerado crime.
A média anual de ligações totais recebidas pelo Samu, entre 2019 e 2023, ficou em um pouco mais de 571 mil no estado. São 1.564 ligações por dia, em média. Só de trotes, são 87.980 ligações falsas por ano, no mesmo intervalo de tempo. Isso representa 241 ligações falsas diariamente.
Ainda de acordo com a secretaria, os temas das ligações que são consideradas trotes são variados, ou seja, não há um padrão de história para a mentira que é contada, exigindo ainda mais atenção dos atendentes que recebem as chamadas.
De acordo com a Sesa, na maioria dos casos de trote recebidos pelo Samu, as equipes não chegam a receber a informação de localização, porque a chamada já é identificada como trote logo no início. O responsável por essa triagem é o telefonista auxiliar de Regulação Médica (TARM). O número fica registrado e o profissional consegue fazer a identificação.
67% das cidades brasileiras são atendidas pelo Samu
O serviço realizado pelo Samu foi o primeiro fruto da Política Nacional de Urgências e, atualmente, assiste 85% da população em 67,3% dos municípios do país. Sua importância é reconhecida mundialmente para os atendimentos de urgência.
Sobre o Samu no ES
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) está presente em 22 municípios no Espírito Santo. É um serviço gratuito, que funciona 24 horas, por meio do acolhimento dos pedidos de ajuda médica.
O acolhimento dos pedidos de ajuda médica é feito através de ligações utilizando o número 192, e os contatos repassados à Central de Regulação Médica das Urgências. O objetivo em todos os casos é garantir o atendimento à pessoa que está em situação de emergência o mais rápido possível e, assim, preservar uma ou mais vidas.
Ao receber a ligação, o "Médico Regulador", presente nessa central de atendimento, ouve a solicitação e faz algumas perguntas para definir o "nível de urgência" do paciente, podendo prestar orientações ou solicitar o envio de unidades móveis, equipadas para prestar o primeiro atendimento no local da solicitação.
Essas unidades, conforme o tipo, são tripuladas por equipes capacitadas que reúne médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e condutores socorristas.
Dicas para quando ligar ao Samu
Em caso de acidente verifique a quantidade de vítimas, o estado de consciência delas e se alguma delas está presa às ferragens;
Ligue para o 192 e siga as orientações do Médico Regulador;
Sinalize as vias com galhos de árvore e triângulo de sinalização;
Em caso de acidente com motos: não toque nas vítimas, não retire o capacete;
Não dê água aos acidentados.
Quando não chamar o Samu
- Febre prolongada;
- Dores crônicas;
- Vômito e diarreia;
- Levar pacientes para consulta médica ou para realizar exames;
- Transporte de óbito;
- Dor de dente;
- Transferência sem regulação médica prévia;
- Trocas de sonda;
- Corte com pouco sangramento,
- Entorses;
- Cólicas renais;
- Transportes inter-hospitalares de pacientes de convênio;
- Todas as demais situações onde não se caracterize urgência ou emergência médica.
Ciodes também é alvo de trotes no Espírito Santo
Em 2023, 179.006 trotes foram passados para o Centro Integrado Operacional de Defesa Social (Ciodes) do Espírito Santo. O número equivale a uma média de 490 trotes por dia e representa 6,5% do total de ligações feitas para a central, que recebe todos os acionamentos feitos para o 190 e 193 em todo o estado.
Quase 500 trotes por dia são passados para o Ciodes, no Espírito Santo. — Foto: TV Gazeta |
O subsecretário de Comando e Inovação da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp/ES), coronel André Có, explicou que essa quantidade tão expressiva é realmente de trotes, e não estão contabilizados, por exemplo, ligações em que a pessoa desliga quando alguém atende ou chamadas incompletas.
Escute alguns áudios de trotes
Ainda assim, em todo atendimento é passada a informação de que a ligação está sendo gravada e arquivada no banco de dados do centro integrado e que o trote pode configurar um tipo de crime. "Se a conversa evoluir para uma questão mais complicada, cabe o acionamento da Polícia Civil", explicou.
"Tivemos uma situação, no final de 2022, em que criminosos tentaram informar um crime que não aconteceu apenas para tirar a equipe policial de um local. A ideia era desguarnecer a área para realizar um roubo", contou ele.
"É muito difícil isso acontecer, mas houve sim essa tentativa. Neste caso, a polícia identificou o plano, identificou quem fez o trote, registrou uma notícia crime, fez denúncia na Chefatura da Polícia Civil e a investigação foi feita", explicou.
Números de trotes recebidos pelo Ciodes
Ano N° de trotes Média diária
2024 (1° a 4/01) 1.663 415
2023 179.006 490
2022 155.349 425
O coronel disse que o trote configura crime. "Cometer um trote não é uma brincadeira, dependendo do seu potencial de causar problemas na parte operacional das polícias, pode ser um crime tipificado no código penal, chamado de imputação inverídica de crime, com pena fixada que pode chegar até a prisão", concluiu o coronel.
Fonte: G1