Avô ajuda a salvar neto soterrado e encontra corpos de outro neto e nora após enchente no ES: 'Não era justo ficarem debaixo do entulho'


Na noite de sexta-feira, o idoso conseguiu resgatar o neto de 2 anos e o próprio filho de 33 anos vivos dos escombros da casa onde viviam. No sábado, ele encontrou o corpo da nora. Nesta segunda, achou o corpo de outro neto, de 6 anos, que foi arrastado pela enxurrada em Reserva, distrito de Mimoso do Sul.


"Ele não está com vida, mas está com Deus", essas são as palavras de um avô após encontrar o corpo do neto de 6 anos em meio à destruição causada pela forte chuva em Mimoso do Sul, no Sul do Espírito Santo. José Maria de Souza, de 57 anos, também ajudou os bombeiros a encontrar o corpo da nora e a resgatar com vida o filho de 33 anos e outro neto mais novo, de apenas dois anos, na noite de sexta-feira (22), quando a cidade foi atingida por um temporal.

Até as 17h dessa terça-feira (26), segundo a Defesa Civil estadual, ao menos 20 pessoas morreram e três continuavam desaparecidas após fortes chuvas, enxurrada e um rastro de destruição em cidades da Região Sul do Espírito Santo. No estado, 19.674 estavam desalojadas e 510 desabrigadas.



Casa desabou na enchente

A casa da família ficava no bairro da Reserva, um distrito de Mimoso, uma das cidades mais atingidas e destruídas pela força da água.

A professora de Português e Inglês Adair Antônia Fernandes Medeiros estava em casa com o marido (filho de seu José Maria) e os dois filhos, um de 6 anos e outro de 2, quando a chuva começou. Logo depois, eles foram surpreendidos com o volume de água e uma enxurrada que invadiu a residência.

Segundo o avô, ele e vizinhos ajudaram a encontrar o filho Josélio, de 33 anos, e o neto Breno, 2 anos, em meio à lama e aos destroços da casa destruída. Os resgates aconteceram ainda na madrugada de sábado. Mas a nora e o neto de seis anos não foram localizados naquele momento. José Maria, então, permaneceu na região, fazendo buscas, até encontrar os dois, infelizmente sem vida.

O avô ajudou como pôde o Corpo de Bombeiros a encontrar o corpo da nora, no sábado (23), e o do neto Leonardo, de 6 anos, nesta segunda-feira (25).

José Maria relatou que andou em meio ao barro, se feriu com prego, escavou o local e passou noites e madrugadas com a intenção de encontrar os parentes soterrados.


A mãe da professora morta, Maria da Graça Soares, disse que o sogro da filha foi incansável.

"Ele tem pressão alta e outros problemas de saúde, mas só descansou quando resgatou o netinho. Sou grata a esse sogro, pai e avô". Ele foi pra lá depois que soube do ocorrido na ânsia de ajudar, só saiu depois que retiraram o corpo do nosso neto. Ele ainda ajudou a salvar o filho dele e o outro netinho menor. O que foi um milagre", relatou Maria da Graça.


Momentos de angústia

José Maria de Souza mandou áudio para Maria da Graça contando os momentos de angústia que passou para encontrar a família viva ou morta.

"Pelo meu filho e por aquela mulher, que Deus levou, eu faria, eu tive força. Olha que eu não sou bem de saúde. Eu fiquei o dia todo, nem água bebia. Eu estou quebrado, estou mal, estou cansado. Os músculos todos doendo, não estou conseguindo andar", relatou o avô.

José Maria contou que quando a casa desabou foi até o local e ajudou a localizar o filho e o neto mais novo. Disse que permaneceu a madrugada inteira até o corpo da nora ser localizado na manhã de sábado.

"O que eu fiz em vida eu faria nessa hora também. Ela (nora) é uma pessoa que eu gostava muito. Enfrentei barro acima do joelho, fiquei lá o dia todo cavando. Mas Deus deu força para conseguir, porque o que eu queria era ver era eles dois vivos", dasabafou José Maria.

Na manhã desta terça, o corpo do neto Leonardo, de 6 anos, foi encontrado e o avô companhou tudo de perto.

"Eu não aguento ficar cavando o dia todo, mas a minha presença e o pouquinho de força que eu podia fazer, eu estava ali com ele o tempo todo. E falei com o sargento: 'só abandono depois que eu ver meu netinho'. Queria encontrar eles para fazer um velório. O meu esforço era minha obrigação, era meu sangue que estava ali embaixo da terra", lembrou.

O avô relatou que ficou no local acompanhando o trabalho dos bombeiros da madrugada de sábado até esta segunda, e ajudava no que podia.

"Achei que não era justo eles dois ficarem lá debaixo do entulho. Até meia-noite, uma hora da manhã, os bombeiros não poderiam ver, estava chovendo e eles não sabiam a localização certa. Eu não tinha força para trabalhar, mas Deus me deu força para ficar lá junto e fazer alguma coisa", lembrou o avô.


Enterro de mãe e filho

Uma prima da família conversou com o g1 e disse que Adair já foi enterrada no cemitério da cidade, em Mimoso do Sul.

Até a última atualização desta reportagem, o corpo do pequeno Fernando continuava no Serviço Médico Legal (SML) de Cachoeiro de Itapemirim.

O marido, Josélio, continua internado com ferimentos graves em Cachoeiro de Itapemirim. Já o pequeno Breno, filho mais novo do casal, teve ferimentos leves e está com a avó materna.

A família morava no bairro, que fica na zona rural, há cinco anos. Ainda segundo familiares, o corpo de Adair foi arrastado pela chuva.


Fonte: G1 ES



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