Trava-quedas: entenda dispositivo que impediu trabalhador de despencar do 6º andar após morador cortar corda que o segurava


Trabalhador estava a 18 metros de altura e só não caiu por causa do dispositivo. Raul Ferreira Pelegrin foi denunciado por tentativa de homicídio. Defesa dele afirmou que não irá se posicionar.


O trabalhador que teve a corda cortada por um morador enquanto limpava a fachada de um prédio, em Curitiba, informou em depoimento que só não caiu por conta de um dispositivo de segurança, segundo o Ministério Público do Paraná (MP-PR). Na segurança do trabalho, a peça é chamada de trava-quedas.

O homem estava a 18 metros de altura quando Raul Ferreira Pelegrin, morador da cobertura, cortou a corda que o sustentava, segundo a Polícia Civil do Paraná (PC-PR). Raul foi denunciado por tentativa de homicídio. 

Segundo Carlos Eduardo Lunelli, engenheiro de segurança do trabalho e professor na PUC-PR, quando um profissional trabalha em uma fachada de prédio, por exemplo, ele é sustentado por cordas que são presas no topo do edifício.

Há também um cordão, geralmente de aço, chamado de "linha de vida", que vai desde o topo do prédio até a base dele.

Nesse cabo é fixado o equipamento "trava-quedas", que fica preso ao cinturão de segurança usado pelo profissional.

"O trava-quedas é um dispositivo que trava no momento em que você tem um deslocamento vertical rápido. Então em uma situação de queda, esse dispositivo trava", explica Lunelli.

De acordo com o professor, o equipamento é acionado quando identifica deslocamentos rápidos.

"Ele tem o deslocamento rápido de, no máximo, 2 metros. [Na maioria das vezes] não chega a isso, esse dispositivo trava entre 1 metro e 1 metro e meio de deslocamento, garantindo a segurança à vida do trabalhador", afirma.


Vítima que teve corda cortada prestou depoimento


No depoimento à polícia, a vítima contou que sentiu que a corda principal, que não é fixa, afrouxou. Naquele momento, ele foi informado pelo supervisor que o morador da cobertura estava cortando as cordas.

O dispositivo de segurança dele foi acionado e, em seguida, o trabalhador conseguiu descer do prédio fazendo rapel, utilizando a chamada linha de vida.

Conforme o engenheiro Lunelli, depois que o trava-quedas é acionado automaticamente, o profissional pode destravar o dispositivo de maneira manual e, assim, descer com segurança até o chão.


Equipamento obrigatório


Conforme o Ministério do Trabalho, qualquer serviço realizado a 2 metros do solo é considerado trabalho em altura.

Por conta disso, é fundamental que ações realizadas no alto sejam feitas com equipamentos de proteção que garantem a segurança do trabalhador.

"Existe uma normativa no país que são chamadas Normas Regulamentadoras do Trabalho. Elas garantem a segurança do trabalhador. Então as empresas são cobradas de forma que elas disponibilizem equipamentos de proteção individual e coletiva para garantir a segurança do trabalhador", destaca Lunelli.

De acordo com o engenheiro, seguir a regulamentação garante a saúde e a vida dos trabalhadores.


Morador da cobertura está preso


Pelegrin foi preso em flagrante logo após o crime. O caso aconteceu no bairro Água Verde em 14 de março, mas foi divulgado na segunda-feira (24) pelo MP-PR, que denunciou o homem por tentativa de homicídio.


A Justiça pode, ou não, aceitar a denúncia.

Segundo o MP-PR, a vítima fazia a limpeza, no 6º andar do edifício, preso por uma corda que estava amarrada no telhado do prédio.

Durante o trabalho, o denunciado, que mora na cobertura do edifício, no 27º andar, cortou a corda com uma faca. Após o corte, a polícia foi ao local e precisou arrombar a porta de um dos quartos do apartamento, onde Pelegrin foi encontrado e reconhecido pela vítima.

No apartamento os policiais também encontraram a faca usada no crime e um pedaço da corda cortada.

O MP informou que o motivo para o crime ainda é desconhecido. A defesa de Pelegrin afirmou que não irá se manifestar sobre o caso.

Durante o interrogatório policial, o homem "sustentou não saber os motivos de ter sido conduzido à delegacia", conforme o MP.

Na denúncia contra o homem, o Ministério Público considerou duas qualificadoras: recurso que dificultou a defesa da vítima e uso de meio insidioso – ou seja, o crime foi cometido sem que a vítima percebesse.


Outros funcionários foram ameaçados pelo homem


Segundo o Boletim de Ocorrência (B.O), outros funcionários que também realizavam a limpeza no local foram ameaçados pelo homem antes de ele fazer o corte da corda.

"O mesmo havia dito que iria cortar todas as cordas de todos os funcionários, caso não se retirassem", afirma o documento.

Uma das testemunhas afirmou à polícia que estava no telhado e viu Pelegrin afirmar que "estava de saco cheio".

Ainda segundo a testemunha, ele "deu" 10 minutos para os prestadores de serviço "sumirem" do local antes de cortar a corda.


Argumentação da defesa no processo

A defesa de Pelegrin entrou com pedido de habeas corpus solicitando a soltura sob argumento dele ser dependente químico. Este tipo de medida judicial tenta garantir o direito de liberdade a uma pessoa presa ilegalmente, por exemplo.

O pedido informou que o homem seria levado para uma clínica de tratamento, mas a Justiça recursou e manteve a prisão.

Conforme o processo, Pelegrin está preso preventivamente na Cadeia Pública de Curitiba.


Fonte: G1 PR



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