Segundo Carlos Alberto Scrideli, um diagnóstico precoce e um tratamento adequado aumentam muito as chances de cura desses pacientes
O tratamento para leucemia é baseado em uma série de drogas diferentes, os chamados quimioterápicos – Foto: Reprodução/Freepik
Muito se tem falado sobre novos tratamentos para a leucemia, especialmente a leucemia linfoide aguda. Mas o que é a leucemia, quais os tipos existentes, quais os sintomas e, até hoje, quais são os tratamentos existentes? A USP foi ouvir o médico da Divisão de Oncologia e Hematologia Pediátrica do Hospital das Clínicas e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP Carlos Alberto Scrideli.
A leucemia é um câncer do sangue, mais especificamente dos glóbulos brancos, que são células de defesa do nosso organismo. No Brasil, são 10 mil novos casos por ano, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Segundo Scrideli, alterações nas células precursoras, que dão origem aos glóbulos brancos, podem levar a esse tipo de câncer. “A maioria dos casos, cerca de 95%, não são hereditários. Mas algumas doenças genéticas podem aumentar o risco de desenvolvimento da doença, por isso, as pessoas portadoras dessas condições precisam ser acompanhadas mais de perto”.
O docente explica que existem dois tipos de glóbulos brancos, um é o de linhagem linfoide, que vai evoluir para os linfócitos, e outro de linhagem mieloide. Assim, temos dois tipos principais de leucemias, as linfoides e as mieloides. Essas leucemias ainda podem ser subdivididas de acordo com várias características das células leucêmicas.
“Além dessa classificação em linfoide e mieloide, elas podem ser divididas em leucemias agudas e crônicas. As agudas têm um curso mais rápido da doença e são caracterizadas por uma proliferação de células imaturas, as chamadas blastos. Já as crônicas são leucemias que progridem mais lentamente e apresentam um número maior de células maduras, que ainda conseguem realizar uma parte das funções normais das células sanguíneas”, completa Scrideli.
Sobre a faixa etaria e o sexo com mais casos de leucemia, Scrideli diz que as leucemias linfoides agudas são mais frequentes em crianças e adolescentes, enquanto as mieloides e as leucemias crônicas são comuns em pacientes adultos. “Essas leucemias são um pouco mais frequentes em pacientes do sexo masculino, cerca de 20% quando comparamos com o sexo feminino.”
Sobre as chances de cura, Scrideli lembra que são diferentes para crianças e adultos. As leucemias linfoides agudas em crianças, por exemplo, têm chances de 85% a 90% de cura. Já nas crianças que possuem as mieloides, essa porcentagem cai um pouco, ficam entre 60% a 65%. As leucemias crônicas, em geral, não possuem cura.
O docente ressalta a importância da conscientização sobre leucemia. “Um diagnóstico precoce e um tratamento adequado aumentam muito as chances de cura desses pacientes.” Outro fator que precisa de conscientização, segundo o professor, “é a sensibilização para que as pessoas se tornem doadores voluntários de medula óssea”.
Principais sintomas
Como a leucemia é uma doença da medula óssea, e essa medula está produzindo célula doente e não mais células sanguíneas normais, os primeiros sintomas do paciente decorrem em função disso. Geralmente, esses pacientes, por não produzirem glóbulos vermelhos, vão apresentar anemia. Os sinais da anemia são: palidez da pele, da mucosa, fraqueza e cansaço. “Os pacientes podem apresentar uma facilidade de sangramento, manchas roxas na pele ou pintinhas vermelhas, que chamamos de petéquias, em decorrência da diminuição da produção de plaquetas, que também são produzidas na medula óssea e responsáveis por uma parte importante do controle de sangramento”, alerta Scrideli.
O professor diz, ainda, que os acometidos com leucemia podem apresentar uma maior tendência à infecção e essas podem ser mais graves, uma vez que a linha de defesa está bastante comprometida. É comum notar aparecimento de ínguas no pescoço, nas axilas, nas coxas, especialmente no tórax e no abdômen e na barriga. “Outros sintomas que a gente encontra com relativa frequência é dor nos ossos, às vezes inchaço e dor nas juntas.”
Para o diagnóstico, Scrideli afirma que inicialmente é sugerido um hemograma comum, nele pode ser observada a anemia, diminuição das plaquetas, aumento ou diminuição dos glóbulos brancos e, na maioria das vezes, já é possível ver célula leucêmica no sangue. “Mas o exame definitivo tem que ser feito pelo exame na própria medula óssea, a biópsia.”
Tratamento
O tratamento para leucemia é baseado em uma série de drogas diferentes, os chamados quimioterápicos. “Essas drogas podem ser aplicadas na veia, tomadas pela boca ou até mesmo aplicadas no espaço intratecal, semelhante ao que se faz na raquianestesia. Além de quimioterapia convencional, alguns subtipos de leucemia podem ser tratados com drogas específicas, chamadas de drogas alvo. Essas drogas são usadas para casos com alterações genéticas específicas, que se encontram só nessas células leucêmicas, como, por exemplo, os inibidores de tirosinoquinase, usados para a leucemia Philadelphia Positivo, o uso do ácido transretinóico para uma leucemia mieloide também específica, a chamada leucemia promielocítica aguda (LPA). “Essas drogas alvos melhoraram muito essas leucemias com baixíssimas chances de cura. Hoje, com essas drogas alvo conseguimos curar muitos casos”, completa Scrideli.
O professor lembrou ainda a nova tecnologia utilizada para o tratamento da leucemia linfoide aguda de células B e o linfoma não Hodgkin de células B. “Recentemente, dentro desse grupo de imunoterapia, temos o tratamento com as células CAR-T. É uma tecnologia interessante em que você vai colher células de defesa do próprio paciente, programar essas células para reconhecer e destruir as células leucêmicas.” O professor diz que, naqueles casos mais resistentes e mais graves, às vezes, a única opção é o transplante de medula óssea, “que também é um dos tipos de tratamento que a gente tem utilizado bastante nesses pacientes.”
Fonte: Jornal da USP