Estudo mostra que proteger áreas de mangue ajuda a evitar inundações como aconteceram no RS

Pesquisa realizada por professores de várias universidades do país, incluindo a Ufes, apontam que proteção de manguezais pode ajudar a conter alagamentos, dentre outros benefícios.

Mangue em Vitória — Foto: Reprodução/ TV Gazeta

Pesquisa realizada por professores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e várias instituições do país, como a USP, e também do exterior apontam que a proteção de manguezais pode ajudar a conter alagamentos e inundações nas cidades, como a que aconteceu no Rio Grande do Sul. Além disso, tem um potencial para reduzir a emissão de gás carbônico lançado na natureza e, com efeito, pode até mesmo a controlar mudanças climáticas sentidas em todo o planeta.

A proteção do mangue também pode contribuir para salvar ecossistemas de uma forma muito mais eficiente do que as próprias florestas, como a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica.

Todos esses benefícios foram descobertos por estudos feitos por 15 pesquisadores brasileiros e até do exterior e publicados em um artigo na revista científica "Nature Communications". Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), dentre outras universidades participaram.

Segundo o professor do Departamento de Oceanografia da Ufes, Angelo Bernardino, que participou da pesquisa, os mangues podem ajudar a minimizar impactos que podem ser sentidos daqui a algumas décadas nas cidades de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica, todas na Grande Vitória, com o avanço do nível do mar e o aumento de temporais. Ou como o que aconteceu no Rio Grande do Sul, na área costeira.

Para compreender melhor todo o potencial do manguezal em Vitória, uma nova pesquisa está sendo realizada pelo professor e alunos de pós-graduação e também em parceria com a USP.

Para Bernardino, essa nova análise é essencial para tentar prevenir futuros desastres ambientais.

"Como temos uma área grande de manguezal em Vitória, é normal que ele consiga reter muito mais carbono e, dessa forma, consiga ajudar ainda mais o meio ambiente. O que aconteceu em Porto Alegre pode acontecer em Vitória, já que temos uma cidade construída em áreas baixas, próximo da altura do nível do mar. Então, os manguezais da nossa região podem ajudar a minimizar esses impactos, principalmente se forem resgatados", acrescentou o professor.

A pesquisa, que deve atualizar a situação do manguezal em Vitória, deve ficar pronta até o ano que vem, mas enquanto isso, o professor alerta para alguns outros cuidados que precisam ser tomados para a proteção do sistema.

"Os manguezais não vão resolver nossos problemas porque as emissões são muito maiores do que eles conseguem absorver, mas eles auxiliam na adaptação das mudanças.

 As mudanças vão acontecer, mais quais ações nós temos que tomar para nos adaptarmos a isso? Nós temos tempo e uma adaptação da zona urbana é necessária: não ter construções em áreas de mangue. O mar vai invadir áreas, as chuvas vão ser intensas, mas as soluções naturais vão diminuir os danos" finalizou o pesquisador.

Importância dos mangues

A pesquisa foi realizada nos manguezais da Amazônia e feita com parceria da National Geographic e da Expedição Perpetual Planet Amazônia da Rolex.

"A ideia da pesquisa foi basicamente mostrar com mangues ajudam a evitar a perda de florestas. Nosso artigo trouxe pela primeira vez dados que mostram que os danos à perda de florestas de manguezais é muito maior do que quando se perde a mesma área de Mata Atlântica ou na Amazônia. No Brasil, não existiam dados sobre manguezais que permitiam a inclusão dessa análise", pontuou o professor do Departamento de Oceanografia da Ufes, Angelo Bernardino, que participou da pesquisa.


De forma prática, os mangues funcionam assim:
  • As florestas crescem e tiram CO₂ (dióxido de carbono) da atmosfera;
  • O processo acontece e forma mais eficiente no manguezal porque o solo abaixo das árvores é alagado e fica sem oxigenação;
Essa falta de oxigenação no solo faz com que manguezais sequestrem até três vezes mais carbono no solo quando comparados a mesma área de uma floresta terrestre.

Manter florestas de manguezais preservadas, evitando seu desmatamento, impede, portanto, altas emissões de gases estufa e contribuem para diminuir as mudanças do clima.

Os manguezais no país possuem um potencial inexplorado para aliviar as condições climáticas, capturando cerca de 468,3 toneladas de carbono por hectare que seriam lançadas no ar. Esse valor representa uma capacidade aproximadamente de três a 20 vezes maior que a dos biomas de terras altas brasileiros.

Para entender melhor o impacto potencial dos mangues e defender esses ecossistemas costeiros cruciais, foram analisadas 900 amostras de solo e medições de árvores de mais de 190 lotes florestais para determinar os níveis de emissão de manguezais em áreas intocadas e desmatadas perto da foz do Rio Amazônia.

Foram quatro anos de expedição na Amazônia para mapear os manguezais, coletando amostras de solo. Depois, o material era levado para laboratório para o carbono ser quantificado e calcular quanto que os mangues trocam de gases.


Potencial de preservação em terras capixabas

O Brasil abrange o segundo maior repositório de manguezais do mundo. E, no Espírito Santo, segundo a Prefeitura de Vitória, a cidade possui o maior manguezal urbano da América Latina, com 12 km² de mangue.

Com isso, o manguezal que a cidade abriga pode ser um fator crucial para ajudar a controlar alguns dos impactos causados pelo ser humano na natureza, o que reforça a necessidade da proteção.

Ação de limpeza em mangue de Vitória — Foto: Leonardo Merçon/Últimos Refúgios

"Os mangues fazem o mesmo serviço dos muros, só que de maneira natural. Eles agem como uma proteção costeira natural. Quando o mar se eleva, os manguezais ajudam a proteger a costa e a linha ao redor das cidades. Eles são importantes para as nossas questões climáticas, então é importante que o poder público reconheça isso e não deixa que essas áreas sejam perdidas", explicou o professor.


Ações de proteção

Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Vitória informou que, devido à importância ambiental, social, cultural e econômica do manguezal, vem realizando diversas ações de proteção e recuperação desse ecossistema, que incluem a Estação Ecológica Municipal Ilha do Lameirão, o Parque Natural Municipal Dom Luis Gonzaga Fernandes (Baía Noroeste) e as áreas remanescentes de manguezal (Ufes, Ilha do Campinho e algumas franjas da orla).

Reforçou ainda que realiza, por mar e por terra, ações de sensibilização e fiscalização nos manguezais, alertando sobre pesca e construções ilegais. O alerta também vale para os períodos de defeso e de andada do caranguejo-uçá, espécie que habita os manguezais de Vitória. Isso, segundo a administração, também contribui para a sobrevivência de famílias cuja subsistência depende direta ou indiretamente do manguezal.

Já a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) disse que tem construído políticas de fortalecimento às economias Verde e Azul, o que inclui as regiões de manguezal, com uma série de ações e medidas socioeconômicas que visam, além de gerar qualidade e renda aos serviços e produtos nas regiões de abrangência e entorno deste ecossistema, favorecer e valorizar a cultura local com recursos do próprio estado.

Pelo Fundágua, foram deliberados e aprovados, em 2023, R$ 8,5 milhões para implementação de ações, programas e projetos que contribuam para a manutenção, a recuperação e/ou a ampliação da cobertura florestal, voltados exclusivamente ao fortalecimento de negócios de impacto socioambiental, incentivando o fomento nas áreas costeiras, com previsão de estudos de instrumentos econômicos com foco nos manguezais, na identificação de potencialidades e das vulnerabilidades deste ecossistema e na sensibilização da população por meios da divulgação da biodiversidade do ecossistema de manguezal.


Fonte: G1


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