María Corina Machado: a mulher por trás da oposição na Venezuela


Figura crucial da oposição venezuelana, ela foi barrada das eleições presidenciais apesar de amplo apoio, desafiando o governo de Nicolás Maduro

Lider da oposição venezuelana Maria Corina Machado durante comício eleitoral em Caracas25/07/2024REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria

Enquanto a Venezuela se prepara para o que pode ser uma eleição presidencial histórica no domingo (28), um dos nomes mais importantes na disputa não está na cédula: María Corina Machado – a mulher que galvanizou o movimento de oposição da Venezuela e que muitos eleitores veem como a verdadeira desafiante ao socialista incumbente Nicolás Maduro.

Doze anos atrás, Machado se apresentou na cena política da Venezuela confrontando o então presidente Hugo Chávez no Congresso.

Chávez, então no auge de seu poder, estava fazendo seu discurso anual sobre o estado da nação. Machado, então uma política de oposição que perdeu sua corrida nas primárias para desafiar Chávez pela Presidência, levantou-se e gritou de volta para o presidente no pódio.

Chávez a dispensou como se não fosse nada, dizendo a ela: “Uma águia não caça uma mosca”.

No domingo (28), mais uma vez, Machado não estará na cédula — mas não por falta de popularidade.

Uma capitalista declarada que prometeu a privatização de várias indústrias estatais, Machado ganhou mais de 90% dos votos nas primárias da oposição no ano passado, mas foi impedida de concorrer a cargos públicos após alegações de que não incluiu alguns vales-alimentação em sua declaração de bens.

Machado descreveu a decisão de barrá-la, confirmada pelo Supremo Tribunal da Venezuela, como ilegítima, injustificada e inconstitucional.

O atual candidato da oposição à Presidência, Edmundo González, é apoiado por Machado, que tem feito campanha em seu nome para mobilizar os eleitores.

Especialistas dizem que seus esforços agora podem representar a ameaça mais significativa ao domínio de Maduro em anos, enquanto ele luta para conquistar um terceiro mandato.

Veja abaixo uma entrevista que María Corina Machado concedeu em Caracas esta semana. 

Conversamos com muitas pessoas que dizem que, caso as coisas não deem certo desta vez, vão embora. Você já considerou isso para você?

Machado: Nós venceremos. Teremos sucesso e traremos todos que foram forçados a sair de volta. Esse é meu único plano.

Candidato presidencial de oposição Edmundo González ao lado da líder opositora María Corina Machado durante ato de campanha em Valência, na Venezuela / 13/07/2024 REUTERS/Gaby Oraa

Na economia, seu plano é privatizar a maioria dos ativos públicos venezuelanos, especialmente em termos de saúde, petróleo e educação. Você acha que a educação privada é uma resposta melhor aos desafios que a juventude venezuelana enfrenta?

Machado: Estou comprometida a dar a cada venezuelano a oportunidade de ter a educação de que precisa para ser independente e assumir o controle de seu futuro.

Eu acredito na educação pública, mas acredito que é preciso criar incentivos para que a educação pública seja tão competitiva e com o mesmo grau de excelência que você tem na educação privada.

Você deve ter as regras do mercado. É o sistema, e isso funciona também com o sistema de saúde. Estou convencida de que a educação é um direito.

Então as regras do mercado se aplicam ao setor educacional?

Machado: Como sociedade e como Estado, você tem o dever de garantir que cada venezuelano tenha acesso a ela. Mas temos que mudar tudo.

O que eu promovo? Por exemplo, no caso da educação, acredito em vales que você pode dar diretamente aos pais para que eles possam escolher o tipo de educação que desejam para seus filhos, seja pública ou privada. E isso é uma verdadeira revolução na Venezuela.

No caso do setor energético ou de outras indústrias, a Venezuela tem um enorme potencial que requer investimentos enormes. Não temos os recursos para isso. Este país foi saqueado: precisamos abrir mercados. E precisamos criar condições que sejam tão competitivas, tão atraentes que recursos internacionais serão investidos em um país, apesar do que aconteceu no governo anterior.

Uma das coisas que precisamos fazer é transformar totalmente nosso sistema Judiciário, deixar de estar no último lugar global em estado de direito e passar a ser um dos países mais respeitados.

Líder da oposição nas eleições venezuelanas, María Corina Machado / CNN

Voltando ao setor energético, quais são as melhores condições possíveis para investidores privados? Isso significa tirar a propriedade pública do petróleo bruto que tem feito parte da constituição venezuelana por décadas?

Machado: Precisamos de dezenas ou centenas de bilhões de dólares que poderiam ser investidos em energia, não apenas petróleo e gás, mas também recursos renováveis.

O governo venezuelano não tem os recursos para fazer isso. Os recursos de que precisamos para investir em infraestrutura, saúde, educação e assim por diante. Definitivamente precisamos abrir mercados para aproveitar esse enorme potencial e transformar a Venezuela em um verdadeiro centro energético das Américas.

Como o país se beneficiará disso? Teremos fluxos fiscais e outros recursos, mecanismos pelos quais o estado receberá impostos. Mas você não precisa possuir diretamente as empresas para que o país se beneficie disso.

Se não fizermos isso, a janela de oportunidade para o petróleo e gás se fechará em breve. E isso será imperdoável.

O que você realmente acha que vai acontecer na noite de 28 de julho (quando o resultado da votação presidencial deve ser anunciado)?

Machado: O regime vai tentar roubar a eleição. Mas tenho confiança total no que o povo venezuelano votou. Construímos uma plataforma para defender nossos votos; é algo sem precedentes.

Hoje, os venezuelanos percebem que é uma responsabilidade pessoal. Eles não esperam que outros defendam seu voto. Certo? Eles vão fazer isso eles mesmos. E você verá as pessoas saindo com suas famílias juntas, dispostas a ficar o tempo que for necessário.



Fonte: CNN Brasil



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