Carolina Arruda tem neuralgia do trigêmeo e vai implantar eletrodos que podem bloquear transmissão da 'pior dor do mundo' ao cérebro — Foto: Arquivo pessoal/Carolina Arruda |
Carolina Arruda, que tem neuralgia do trigêmeo, retoma nesta sexta-feira (26) o tratamento feito na Clínica da Dor da Santa Casa de Alfenas. A jovem passará por preparação para realizar no sábado (27) a cirurgia para a implantação de eletrodos no cérebro que devem estimular o nervo e bloquear a transmissão da "pior dor do mundo" ao cérebro. (Entenda abaixo)
A internação de Carolina Arruda está prevista para 8h. Segundo o médico Carlos Marcelo de Barros, diretor clínico da Santa Casa de Alfenas, a jovem passará por avaliações médicas e procedimentos clínicos que são comuns ao quadro dela.
Um dos cuidados pré-operatórios é o banho com sabão à base de clorexidina, um procedimento "padrão para qualquer cirurgia que envolve o implante de algum dispositivo", conforme o médico responsável pelo caso.
A jovem também deverá refazer exames de sangue, raio-x de tórax e eletrocardiograma. De acordo com o médico, caso seja necessário, outros exames complementares também serão feitos.
Por fim, antes da cirurgia ela cumprirá um jejum de 8 horas.
Saiba como será a cirurgia que promete bloquear transmissão da 'pior dor do mundo' ao cérebro de jovem — Foto: Carolina Arruda/Arquivo Pessoal |
Já na manhã de sábado (27), Carolina Arruda vai implantar eletrodos para “estimular” o nervo e, com isso, impedir a transmissão nervosa da dor. Esses neuroestimuladores são dispositivos com alta tecnologia. Esta será a primeira vez que a estudante testa a alternativa.
Normalmente a neuralgia do trigêmeo atinge um lado do rosto, mas em situações mais raras – como a de Carolina – pode atingir os dois, se tornando uma dor bilateral.
Considerando o diagnóstico, os eletrodos serão implantados em dois locais: na medula espinhal e no Gânglio de Gasser – origem facial do nervo trigêmeo. O gânglio está associado ao responsável por transmitir sensações da face ao cérebro, justamente onde está concentrado o problema.
Esse procedimento será feito depois de confirmar a localização exata da dor. Isso é feito por meio do bloqueio teste, em que é aplicada uma injeção de anestésico próximo ao nervo. O resultado do teste ajudará a definir os próximos passos.
A cirurgia está prevista para iniciar às 9h. Conforme o Carlos Marcelo, o procedimento deve durar cerca de três horas. Quatro médicos e um cirurgião bucomaxilo, de Alfenas (MG) e Brasília (DF), participarão do implante.
Segundo o médico, a estudante tem um histórico de intervenções anteriores, o que aumenta o nível de cuidados com os procedimentos.
Após o implante, Carolina Arruda passará por um processo de adaptação aos neuroestimuladores. O aparelho deve ser ajustado em um período de duas a três semanas, prazo que varia conforme cada paciente.
"Se o resultado não for suficiente após esse período iremos seguir o protocolo estabelecido", adiantou o médico Carlos Marcelos de Barros.
Quem é Carolina Arruda
Carolina Arruda, de 27 anos, é natural de São Lourenço, no Sul de Minas, e mora em Bambuí, no Centro-Oeste. Ela é estudante de medicina veterinária, casada há três anos e mãe de uma menina de 10 anos. A jovem começou a sentir as dores aos 16 anos, quando estava grávida e se recuperava de dengue.
Carolina Arruda tem 27 anos quer ser submetida à eutanásia na Suíça — Foto: Carolina Arruda/Divulgação |
A dor e o desgaste de Carolina com a doença são tão intensos, que fizeram ela tomar a decisão para pôr fim ao sofrimento. Ela iniciou uma campanha na internet para conseguir recursos financeiros e ser submetida ao suicídio assistido na Suíça.
Carolina foi internada no dia 8 de julho na Santa Casa de Alfenas. Nesta primeira internação, a estudante ficou no hospital durante duas semanas. Após receber uma alta temporária, ela relatou ter notado redução na frequência e duração das crises de dor.
O que é a neuralgia do trigêmeo?
A neuralgia do trigêmeo, também conhecida como a "doença do suicídio", e comparada a choques elétricos e até a facadas. O trigêmeo é um dos maiores nervos do corpo humano. Ele leva esse nome porque se divide em três ramos:
- o ramo oftálmico;
- o ramo maxilar, que acompanha o maxilar superior;
- o ramo mandibular, que acompanha a mandíbula ou maxilar inferior.
Ele é um nervo sensitivo, ou seja, que controla as sensações que se espalham pelo rosto. Permite, por exemplo, que as pessoas sintam o toque, uma picada e a dor no rosto.
Segundo os especialistas, a dor causada pela doença é uma das piores do mundo. Ela não é constante fora das crises, mas é disparada por alguns gatilhos que, na verdade, fazem parte da vida cotidiana como falar, mastigar, o toque durante a escovação ou barbear e até com a brisa do vento sobre o rosto.
A dor é incapacitante. Ou seja, impede que a pessoa consiga fazer atividades simples do dia a dia.
Fonte: G1