Santuário, interdição da justiça e polêmica na cidade: o que se sabe sobre estátua de Lúcifer instalada no RS


Imagem foi instalada em Gravataí. Tribunal de Justiça interditou o local a partir de um pedido da prefeitura do município.

Estátua de Lúcifer, que será erguida em Gravataí, em ateliê onde foi produzida — Foto: Nova Ordem de Lúcifer na Terra/Divulgação

Uma estátua de Lúcifer foi instalada na última semana em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre. A imagem fica em um santuário dedicado à divindade.

O espaço seria inaugurado na última terça-feira (13). No entanto, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) decidiu interditar o local a partir de um pedido da prefeitura do município.


Entenda o que aconteceu e o que se sabe sobre a estátua:

Estátua de Lúcifer

A estátua, produzida em cimento por um ateliê, retrata a dualidade do homem humano e do esqueleto, com pés e asas, representando o espírito da divindade, segundo um dos idealizadores do monumento.

A imagem faz parte de um projeto de criação de um espaço para a ordem voltada ao culto de demônios, a Nova Ordem de Lúcifer na Terra. O local foi fundado por Mestre Lukas de Bará da Rua e por Tata Hélio de Astaroth, dois dos integrantes do grupo religioso.

"Nosso principal objetivo é que a gente consiga desmistificar o culto. Abrir espaço pra debates, fazer alguns rituais para trazer energias ancestrais pra dentro de nós", descreve Mestre Lukas.


Santuário

O espaço fica na área rural de Gravataí, município a 31 km de Porto Alegre. A localização do santuário é mantida sob sigilo por dois motivos:

o local é destinado a pessoas já iniciadas na fé;
há uma preocupação com a segurança dos seguidores, visto que os religiosos afirmam que já sofreram ameaças e questionamentos sobre as práticas da religião.

A ordem conta com 100 pessoas em todo o país. Cerca de 80 são do RS.
As reuniões da ordem acontecem duas vezes por mês. Os integrantes também se juntam em grupos de estudo, que devem acontecer na propriedade onde a estátua foi erguida. Participam da ordem somente pessoas indicadas por quem já é membro. O religioso explica que práticas atribuídas ao culto a demônios não são realizadas pelo grupo.

"Não existe prática de sacrifício humano. Nós temos eventualmente sacrifício de aves, como é permitido pela constituição. Mas muitas vezes as oferendas são com frutas. É muito mais importante a ritualística, as palavras e invocações que a gente precisa falar", explica Mestre Lukas.


Custo e estrutura

A imagem pesa uma tonelada, custou R$ 35 mil e chega a cerca de 5 metros de altura, considerando o pedestal. O monumento foi pago por integrantes da Nova Ordem de Lúcifer na Terra.

Um dos fundadores do grupo, Mestre Lukas afirma que a estátua deve contar com uma iluminação especial depois de inaugurada.


Por que o espaço foi interditado

O TJ-RS decidiu pela interdição do santuário dedicado a Lúcifer na terça-feira (13), dia que aconteceria a inauguração. A liminar foi concedida após um pedido da prefeitura do município, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

O principal argumento apresentado pela prefeitura foi a ausência de alvará de funcionamento, de Plano de Prevenção e Combate a Incêndios (PPCI) e de um CNPJ para o templo. Além disso, a administração municipal apontou que o pedido se deu "também pela insegurança gerada diante da grande repercussão causada pelo tema".

Mestre Lukas vê como "ato de intolerância" a interdição do espaço. A 4ª Vara Cível Especializada em Fazenda Pública de Gravataí negou qualquer perseguição religiosa.

"A decisão considerou que a liberdade religiosa é um direito fundamental, consagrado na Constituição Federal. No entanto, observou que os templos religiosos devem cumprir exigências para o funcionamento", explicou a Justiça.

Está prevista uma pena de multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento da medida. Mestre Lukas de Bará da Rua afirma que na quarta-feira (14), após "todas as tentativas de recurso negadas", os fundadores iniciaram o envio dos documentos necessários para regularização.

A Prefeitura de Gravataí, responsável pelo pedido de interdição do templo, informou que "não há qualquer vinculo ou recurso público no empreendimento" e que foi gerada "insegurança diante da grande repercussão causada pelo tema".


Polêmica na cidade

A notícia da criação do santuário com a estátua de Lúcifer provocou polêmica na cidade. Nas redes sociais, algumas pessoas elogiaram a iniciativa, ressaltando o respeito à fé alheia, enquanto outras pessoas criticaram, associando a religião a algo demoníaco.

Uma das críticas dizem que a obra supostamente contaria com dinheiro público, o que tanto Mestre Lukas quanto a Prefeitura de Gravataí negam.

Em nota, a prefeitura do município de 265 mil habitantes afirmou que "não tinha conhecimento até o momento sobre a criação de um santuário dedicado a Lúcifer na cidade" e que "não há qualquer vínculo ou recurso público da prefeitura no empreendimento".

Nota da Prefeitura de Gravataí sobre santuário dedicado a Lúcifer — Foto: Reprodução/Instagram


Significado de Lucifer

Para cristãos, o nome de Lúcifer é associado ao diabo. Contudo, Mestre Lukas de Bará da Rua, um dos representantes da Nova Ordem de Lúcifer na Terra, afasta essa ligação.

"Para nós, Lúcifer é um deus que, assim como tantos outros, foi demonizado pela Igreja Católica. Lúcifer é o portador da luz, do autoconhecimento", explica o religioso de 43 anos.

Lúcifer, para os membros da ordem, significa a "luz do conhecimento", explica Lukas. A imagem será local de rituais da ordem.

"As pessoas têm uma ideia sobre demônios. Acham que são só pro mal. E a gente sabe que trabalham na cura, no amor, na prosperidade", explica o Mestre Lukas. "Nosso pensamento é que o mal não está na divindade. Não importa a tua religião. Se você tiver o propósito de fazer o mal para alguém, o mal está na pessoa", reflete.


Quem é Mestre Lukas

Natural de Gravataí, Mestre Lukas de Bará da Rua é um mestre de quimbanda independente e trabalha com cartas e búzios negros. Em maio, o religioso atuou na criação de um monumento dedicado a Exu no município.

Lukas conta que decidiu fundar a ordem para poder trabalhar com as figuras de demônios.

"A gente resolveu tratar fora da casa [de quimbanda] porque existe um preconceito muito grande quando se fala de demônios", diz.



Fonte: G1 RS



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