Como a Tupperware, icônica marca de potes para cozinha, entrou em crise e se afundou em dívidas


Com dívida de US$ 1,2 bi, empresa pediu recuperação judicial nos EUA. Inovadora, lançou as vasilhas herméticas de plástico na década de 1940 e por décadas foi um símbolo em lares de vários países

Festa de Tupperware em 1955: encontros nos subúrbios americanos eram usados para divulgar a marca. Empresa foi pioneira na venda porta a porta e patenteou vedação hermética nos potes de plástico — Foto: Graphic House via Bloomberg

A Tupperware, marca icônica de vasilhas e potes para a cozinha, entrou com pedido de recuperação judicial nesta quarta-feira, após anos amargando queda nas vendas e aumento da concorrência. Nos documentos apresentados à Justiça, a empresa diz ter ativos avaliados em cerca de US$ 680 milhões e dívidas de US$ 1,2 bilhão.

Desde 2020, a companhia, que durante décadas dominou o setor em que atua, vinha alertando sobre dúvidas quanto à sua capacidade de continuar em operação. Em junho deste ano, planejava fechar sua única fábrica nos Estados Unidos e demitir quase 150 funcionários.

Para evitar que a situação se deteriorasse a Tupperware decidiu então pedir proteção aos credores. Quando se entrar com um pedido de recuperação judicial (chapter 11 da lei de falência nos EUA), a empresa continua funcionando, mas não precisa pagar suas dívidas por um tempo.

Assim, pode se recuperar para voltar cumprir com suas obrigações. Em geral, há um acerto para que esses débitos sejam pagos com desconto depois.

O pedido de recuperação judicial da Tupperware ocorreu após meses de negociações entre a empresa e seus credores sobre como administrar mais de US$ 700 milhões em empréstimos. As conversas não prosperaram, levando a empresa a recorrer à Justiça.

Produtos da marca tupperware na casa de uma vendedora da marca na Indonésia: potes herméticos de plástico rígido se tornaram famosos em vários países — Foto: Kemal Jufri/The New York Times


Patente com vedação flexível e hermética

O fundador da Tupperware, Earl Tupper, apresentou seus produtos de plástico ao público em 1946 e posteriormente patenteou seu mecanismo de vedação flexível e hermética, uma inovação para a época.

Os produtos da marca logo inundaram os lares americanos, em grande parte por meio de festas de vendas independentes realizadas em casas nos subúrbios dos EUA, ajudando a empresa a dominar o mercado por décadas.

Mas, à medida que esses encontros desapareceram e a concorrência aumentou, a demanda por seus produtos icônicos começou a enfraquecer. A empresa não conseguiu acompanhar o ritmo de mudança do varejo e dos consumidores, que começaram a comprar on-line muitos dos produtos que a Tupperware vendia.

A pandemia de Covid impulsionou brevemente as vendas, com o aumento de pessoas comendo em casa e comprando seus produtos, mas o crescimento não durou muito.

Potes da marca Tupperware: empresa está afundada em dívidas — Foto: Bloomberg


'Exército' de 300 mil vendedores porta a porta

Em 2022, a Tupperware ainda dependia de vendas diretas realizadas por um exército de 300 mil vendedores porta a porta. Mas os consumidores compravam cada vez mais potes produzidos pelos concorrentes na Amazon ou no Walmart. E ainda veio a concorrência de vasilhas feitas com materiais ecológicos.

Segundo a empresa, a guerra na Ucrânia também afetou seu negócio, assim como as interrupções na cadeia de suprimentos global no período pós-pandemia. O aumento do preço da resina, uma de suas principais matérias-primas, foi a gota d´água para agravar a situação financeira da empresa.

No ano passado, a Tupperware substituiu seu CEO, mas nem assim a companhia conseguiu se reerguer, culminando com o pedido de recuperação judicial.


Fonte: O Globo



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