Crianças palestinas que fugiram da guerra na Faixa em Gaza aprendem português no ES


Língua é uma das principais barreiras para adaptação no Brasil. Além de aulas com professoras voluntárias, crianças estão matriculadas na rede pública de ensino.

Crianças palestinas que fugiram da guerra na Faixa em Gaza aprendem português em mesquita em Vitória. Espírito Santo — Foto: TV Gazeta

Um grupo de 20 crianças palestinas, refugiadas da Faixa de Gaza, de onde vieram com as suas famílias fugindo da guerra entre Israel e o Hamas, tenta recomeçar uma vida nova em Vitória, passo a passo, ou melhor, letra a letra.

Para driblar a barreira que existe com idiomas tão diferentes, elas fazem aulas gratuitamente com professoras voluntárias numa mesquita de Vitória. Os pais celebram os bons resultados e se animam com a evolução das crianças.

O grupo chegou a Vitória em dezembro de 2023. Os pais das crianças são de duas famílias diferentes e já estiveram no Brasil antes da guerra, mas voltaram para Gaza pouco antes de o conflito escalar.

O líder religioso da mesquita, Sheikh Mohammed Barakat, foi quem ajudou a trazer as famílias completas para o Brasil, desta vez, na condição de residentes.

“Quando eles chegaram aqui, não sabiam nada, não conseguiam fazer nada, era tudo estranho, uma cultura diferente, língua diferente. Agora, com saúde e com educação, tudo está tranquilo. Até começaram a falar português, graças a Deus. O mais difícil é o idioma, mais do que a cultura”, disse.

As aulas acontecem na mesquita do bairro Jardim Camburi, coração da comunidade muçulmana em Vitória. As famílias moram próximo ao templo, que funciona como uma base e serve de apoio não apenas para as aulas, mas para a realização de atividades e para a realização das cinco orações diárias.

Crianças palestinas que fugiram da guerra na Faixa em Gaza aprendem português em mesquita em Vitória. Espírito Santo — Foto: TV Gazeta

Uma das responsáveis pelas aulas é a voluntária Ingrid Nerys, jornalista e estudante de Pedagogia, que descobriu através de um estágio que as crianças palestinas estavam tendo aulas direcionadas para aprender o novo idioma. Ela, então, procurou a mesquita para oferecer ajuda e agora trabalha voluntariamente na alfabetização em português de quase 20 alunos.

"Tem sido bem legal! As crianças são muito gentis, é tudo muito novo para elas. A gente também tem que ter o cuidado de saber adaptar, tanto a nossa cultura como a cultura delas. Eu aprendo com elas e elas aprendem comigo, e isso é gratificante", revelou.

A consultora de imigração e administradora da mesquita de Vitória, Anna Christina da Silva Pereira, também é professora voluntária e mais uma pessoa que vibra com os resultados. Há oito anos, após uma viagem para o Oriente Médio, se converteu ao islã. Foi ela quem concebeu a criação da mesquita, a primeira e, atualmente, única do estado.

"Depois que eu me converti ao islã eu prometi a Alá que iria trazer uma mesquita para Vitória. E fui procurar, fiz o projeto, traduzi em árabe, francês, inglês, português, fui pedir ajuda para as pessoas. Em 2022, nós conseguimos a mesquita", lembrou.

Preservando as tradições, adaptando a cultura e aprendendo uma nova língua, as crianças agora estão com sorrisos nos rostos, aprendendo novas letras e palavras para escreverem suas histórias longe da guerra.

“Eles são extremamente inteligentes, capazes, esforçados. Pegam o livro, tentam ler, tentam falar e estão evoluindo bastante”, avaliou Ingrid.

Além de fazer as aulas direcionadas na mesquita, as crianças foram matriculadas na rede pública de ensino em Vitória, e o aprendizado foi intensificado. Ainda com ajuda de tradução, Asil Yasin, 10 anos, contou que está feliz no Brasil.

“Fiquei feliz quando consegui sair da Faixa de Gaza e deixar a guerra para trás”.

A Secretaria de Educação de Vitória informou que, além de terem sido acolhidas e estarem estudando, as crianças podem receber um reforço no contraturno escolar se houver interesse.


Doação de livros infantis

Amante da leitura, Anna Christina quer apresentar às crianças palestinas a literatura brasileira, e está recebendo doações de obras infantis para montar uma pequena biblioteca.

"Se você vai aprender o português, nada como um livro para poder te ajudar a falar bem, escrever bem. Acho que os livros infantis podem ajudar muito as crianças nesse sentido e ainda trabalhar com a imaginação e os sonhos delas. Elas precisam", vibrou.

Quem quiser doar livros infantis pode fazer contato pela rede social da mesquita de Vitória para mais informações.


Fonte: G1 ES



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