Dia da Cachaça: versão de luxo da bebida tem garrafas de cristal, ouro e pode custar R$ 20 mil em leilões


A popular bebida brasileira ganha novo status com categoria 'Extra Premium' e passa a atender mercado de luxo.

Dia da Cachaça: entenda como funciona produção de bebida que pode chegar até R$ 20 mil em leilões — Foto: @tiberiogilgastronomia

Aguardente, pinga, caninha. Há um nome diferente para o popular destilado da cana-de-açúcar em cada cantinho do país. Mas a cachaça, bebida original do Brasil, criada em engenhos de açúcar no século XVI por negros escravizados, recentemente ganhou novo status e garrafas dessa "versão de luxo" chegam a valer até R$ 20 mil em leilões.

Para celebrar o Dia da Cachaça, nesta sexta-feira (13), a reportagem do g1 conversou com Tibério Gil, professor de alimentos e bebidas do Senac Campinas (SP). Ele explicou como funciona o mercado denominado "Extra Premium" da aguardente, produto que aguça colecionadores e reúne garrafas de cristal, embalagens luxuosas e uso de ouro.

Para o professor, a cachaça pode ser considerada uma "bebida do futuro", pois vem sofrendo nos últimos anos o refinamento nos métodos de produção e conquistando um mercado de luxo voltado a apreciação e harmonização da bebida com outros alimentos.

“A cachaça premium não é uma cachaça para se tomar virando, é para degustar. Muitas vezes uma bebida de harmonização que vai ser consumida junto com queijos e pratos nobres”, afirma.

Alambiques que produzem cachaças artesanais, também possuem um produto Extra Premium. — Foto: @tiberiogilgastronomia


Categoria 'Extra Premium'

Gil lembra que as bebidas "Extra Premium" são geralmente comercializadas por colecionadores em leilões.

Mas por ser algo "colecionável", a conquista do item acaba indo além da bebida e tem os valores acrescidos também pelo recipiente utilizado.

“Existem garrafas que são verdadeiras joias, obras de arte e inclusive feitas com cristal. [...] E aí as tampas são de rolhas e recebem adesão de algum ourives ou joalheiro que vai fazer algo exclusivo com metais preciosos”, fala.

Nessa categoria, os rótulos muitas vezes são produzidos por artistas plásticos e a embalagem, sempre luxuosa, podem ser feitas em madeiras de lei e não é incomum o uso de chave e trancas folheadas a ouro. Tudo para gerar exclusividade.

“Esse é um mercado bem fechado, então a gente não fica muito sabendo quais as marcas e unidades, mas, de maneira geral, a gente sabe que em leilão já foram arrematados itens de até R$20 mil. Claro que isso não impede que, de repente, em algum momento, e de maneira velada, tenha acontecido um arremate mais alto”, revela.

O professor destaca que vários alambiques que produzem cachaças artesanais também possuem um produto "Extra Premium" e eles fazem isso para ter exclusividade e "uma bebida que conversa com praticamente todos os públicos, como Sanhaçu, Havana e Anísio Santiago, por exemplo".

Outro exemplo dado pelo professor dessa especialização é a bebida gaúcha Weber Haus, que criou uma categoria diamante com blend de 21 anos de envelhecimento e que é envazada em uma garrafa de cristal em formato de diamante que pode chegar a R$ 10 mil.

“E não é fácil de conseguir, porque a produção dela foi somente de mil unidades”, diz.


O que diferencia a cachaça?

O professor explica que cada bebida possui uma legislação diferente, mas no caso da cachaça, ela segue alguns requisitos para ser comercializada e que as divide em categorias como: Prata, Ouro, Envelhecida, Armazenada.

“Quando a gente fala de uma bebida Extra Premium, e a gente tá falando de cachaça, nós falamos de uma bebida que é 100% feita com o mosto fermentado do caldo de cana que não pode ser queimada, com característica sensoriais muito peculiares”, conta.

Ele explica que durante o processo de produção é admitida pouquíssima adição de açúcar, mas preferencialmente é melhor nem colocar nada.

Além disso, o ideal é que ela seja 100% envelhecida num barril de madeira apropriado, e para ser "Extra Premium" esse barril tem de ter, no máximo, 700 litros.

“Isso faz com que a bebida tenha um processo de contato com a madeira do jeito que ela deve ser, e o período ele não pode ser inferior a três anos”, explica.

Gil complementa que o mesmo produtor que faz uma cachaça branca ou para coquetel mais simples, também pode fazer do tipo Premium ou Extra Premium.

Outro elemento a ser levado em conta é o local onde a bebida é produzida, esse item é conhecido por Indicação Geográfica (IG).

“Saber se uma cachaça é produzida no sertão do Nordeste significa que tem diferentes matérias-primas e leveduras que vão fermentar de forma muito diferente do Sul, por exemplo. Então as diferenças de sabores mesmo nas cachaças brancas, elas são intensas”, fala.


O que é analisado na cachaça?

Primeira etapa: qualidade da cana, qualidade do solo, sistema de plantio dessa cana, cuidado com que o produtor tem em relação à matéria-prima que ele vai produzir.

Segunda etapa: processo de fermentação das leveduras, equipamento utilizado e principalmente os Barris de madeira e a quantidade de tempo que o produto vai esperar para ser comercializado.


Fonte: g1 SP



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