Escola Deputado Pedro Costa, no Tucuruvi, concorre a prêmio da plataforma global T4 Education, que reúne comunidade de mais de 200 mil professores de mais de 100 países com o objetivo de transformar a educação no mundo; g1 visitou o colégio em junho.
Crianças jogam xadrez em Escola Estadual Pedro Costa, na Zona Norte de SP — Foto: TV Globo |
Os vencedores do prêmio serão anunciados no dia 24 de outubro.
O prêmio é da T4 Education, uma plataforma global que reúne uma comunidade de mais de 200 mil professores de mais de 100 países com o objetivo de transformar a educação no mundo.
A escola está concorrendo ao prêmio pela categoria Colaboração Comunitária por causa dos projetos de xadrez e atletismo, que tiveram o apoio da ONG Parceiros da Educação para implementar. Os professores responsáveis pelos projetos são: Leonardo Alcântara, de Xadrez, e Luiz Fernando Junqueira, de Atletismo.
Em junho, quando as dez finalistas de cada categoria foram anunciadas, o g1 visitou o Pedro Costa para entender as iniciativas e saber mais sobre a história do colégio. (Saiba mais abaixo).
Correu o risco de fechar
Na visita, o g1 descobriu que anos antes de ser finalista do prêmio, a Pedro Costa corria risco de fechar.
Segundo a diretora da escola, Janaína Freire, em 2021, os pais e responsáveis das crianças que moram na região estavam escolhendo escolas municipais por terem mais benefícios, como uniforme, aulas de inglês e tablets. Por isso, poucos alunos mostravam interesse na Pedro Costa e os já matriculados estavam migrando para outras instituições. Com poucos estudantes, a escola não teria como continuar aberta em 2022.
A solução encontrada para atrair mais alunos foi inserir a escola no Programa de Ensino Integral (PEI). Com a carga horária maior, de nove horas no total, a diretora e os professores incluíram aulas diferentes na grade dos estudantes como xadrez, atletismo, horta, culinária, leitura e práticas experimentais.
"A partir do momento em que você oferece oportunidade de o aluno experimentar, ele vai fazer. Se nós não oferecermos ele não vai fazer (...) nós temos que oferecer para o aluno outras oportunidades de aulas para eles experimentarem”, explicou o professor de atletismo, Luiz Fernando Junqueira.
Hoje, a escola tem 300 alunos do 1° ao 5° ano do Ensino Fundamental 1 e funciona integralmente dentro do PEI, das 7h às 16h.
"As crianças não precisam ficar fora da escola por um grande período de tempo em que os pais estão trabalhando”, informou Janaína, sobre o que tornou a escola mais atrativa e permitiu que continuasse com as portas abertas.
Xadrez e atletismo
Após a transformação em PEI, os projetos de atletismo e xadrez se tornaram pilares na transformação da escola e a impulsionaram no ranking de avaliação do prêmio, na categoria Colaboração Comunitária, em que os requisitos são: liderança e prática colaborativa, envolvimento parental ativo, serviços integrados para estudantes e a aprendizagem expandida.
"A gente tenta trazer a comunidade para dentro [da escola] ao cuidar bem das crianças, fazendo com que os projetos de xadrez e atletismo saiam daqui e vão para a casa deles, que os pais possam fazer parte na hora de fazer uma liga fora da escola", explicou Janaína Freire, diretora da escola, sobre como agregam os pais e comunidade à escola.
"[Quando as crianças estão aprendendo] existe sempre o egocentrismo porque eles querem capturar a peça. Mas qual a ideia do jogo? O Xeque-Mate. É deixar o rei sem saída. Então quando você ensina isso e a criança entende que você tem que criar estratégia com as peças e tomar decisões, ai ela sai do egocentrismo e vai para o jogo”, explicou Leonardo Alcântara, professor de Xadrez.
Aluno pratica salto em altura em atletismo, na Escola Estadual Deputado Pedro Costa — Foto: Aline Freitas/ g1 |
Novas pedagogias
Além das aulas extracurriculares, o corpo docente aderiu a dois tipos de pedagogia que fizeram toda a diferença para serem considerados para o prêmio de Melhor Escola do Mundo na categoria Colaboração Comunitária: a Pedagogia da Presença e a Pedagogia da Tutoria.
Na Pedagogia da Presença, os estudantes precisam estabelecer na relação com o aluno, o afeto, o respeito e a reciprocidade, ou seja, vínculos de consideração presentes em todas as ações no dia a dia durante o cotidiano da escola.
"Eu me sinto mais acolhido. Os professores falam coisas bonitas para nós, eles sempre nos acolhem, sempre elogiam. Quando a gente perde aula, eles pegam a gente no final da aula e dão aula até o horário da saída", contou o estudante Lucas Pires, de 10 anos, sobre a mudança da postura da escola.
Já na Pedagogia da Tutoria, os professores e a gestão escolar são também tutores dos alunos e trabalham para orientar e impulsionar eles tanto para formação acadêmica como para a pessoal e profissional.
Segundo a diretora da escola, os pais começaram a comparecer em mais reuniões e criaram um vínculo mais forte com o corpo estudantil ao ponto de trazer de questões pessoais para tratar com os professores, direção e coordenação.
"A gente quer que os pais estejam dentro da escola no momento em que a gente abre o portão para eles virem. A reunião de pais está mais acolhedora, e a gente vê que estão sendo bem mais chamativas e que os pais estão mais presentes”, informou Janaína.
Como os alunos enxergam a Pedro Costa
Crianças animadas e entusiasmadas, uma bagunça típica de alunos dos 6 aos 11 anos, saudável, com liberdade, mas em um ambiente monitorado e de parceria com os professores. Essas foram algumas impressões que o g1 teve ao chegar na Escola Estadual Pedro Costa para falar com os professores e direção, sim, mas também com os alunos.
Enquanto o g1 entrevistava o professor de xadrez, Leonardo Alcântara, no local onde os alunos jogam, uma turma animada saía do recreio. No caminho de volta para sala, ao passarem pelas mesas com tabuleiros, os estudantes começaram uma algazarra pedindo ao professor para jogarem pelo menos uma partida.
Com o aval, os estudantes sentaram e depois alguns minutos, quando os ânimos acalmaram, o local estava em completo silêncio. A turma tinha cerca de 30 alunos e todos se concentraram e começaram suas partidas. Segundo o professor, as peças de xadrez sempre ficam expostas, em posição, em cima dos tabuleiros. Os alunos jogam, deixam o lugar e passam pela sala durante todo o dia, mas as peças continuam lá.
"O que eu mais gosto de fazer na escola é jogar futebol, estudar e jogar xadrez, porque é um desenvolvimento que eu consigo usar em qualquer coisa [área da vida]. O xadrez me ensina na matemática, em tudo que eu estudo com os meus professores e com as minhas professoras", disse o aluno Leonardo Rocha.
O professor ressaltou a influência do xadrez na vida dos alunos em criar disciplina e estratégia. Mas o jogo não é a única estrela da escola. Os alunos gostam da calma do xadrez, mas também adoram a quantidade de esportes dinâmicos do atletismo.
"Eu acho muito legal porque agora o professor Léo da futebol às vezes, mas também dá atletismo (...) O bom do atletismo é visão, onde você vai percorrer e você aprende a olhar onde você vai estar percorrendo", contou a aluna Catarina Venâncio.
"Eu estudei a minha vida inteira e particular e nunca vi uma escola tão legal", revelou Gabriel Nicastro, aluno que revelou ser diagnosticado com TDAH.
Fonte: G1 SP